O antipetismo é uma corrente de opinião de massas que alcançou base social sólida nas classes médias urbanas e na pequena burguesia, movidas pelo rancor social provocado pela proletarização das suas condições de vida. Apareceu, ainda de forma embrionária, nas “jornadas de junho de 2013” e cresceu em 2015 como a resposta da burguesia brasileira ao problema da corrupção. Ficou maior desde a Lava Jato, o golpe parlamentar de 2016 e a prisão de Lula. A “demonização” do PT, fabricada pela grande mídia (na televisão, no rádio e no jornalismo impresso), atende aos interesses do capital nacional e internacional, que precisa intensificar os ataques aos trabalhadores no contexto de aprofundamento da crise econômica.
Nesse quadro, surgiu um debate na esquerda socialista sobre a natureza desse sentimento (progressista, conservador ou reacionário), para responder se era estratégico apoiá-lo ou combatê-lo, definindo as táticas adequadas para avançar na construção de uma alternativa anticapitalista no país, ganhando a consciência da classe. Na verdade, sabemos que um setor da extrema-esquerda defendeu, equivocadamente, estimular esse sentimento, tanto do ponto de vista político quanto eleitoral. Algumas organizações chegam até a caracterizar como progressista a “Operação Lava Jato” (espécie de “tenentismo” do século XXI), assumindo uma posição neutra em relação à derrubada do governo Dilma durante todo o processo de impeachment.
A luta política revolucionário implica dizer a verdade para as massas, mesmo quando essas ideias são minoritárias. Por exemplo, foi certo denunciar o caráter reacionário da Lava Jato apesar dessa operação já ter tido 90% de apoio da população ou denunciar a prisão de Lula e seu impedimento de ser candidato como segundo momento do golpe? Foi correto ir a São Bernardo do Campo no dia da prisão de Lula? Muitas vezes, navegamos contra a maré para defender o que é correto perante a classe trabalhadora. O caminho para dialogar com as bases influenciadas pelo antipetismo não é capitular à ofensiva da burguesia, dando um verniz de esquerda ao processo. Não era possível disputar o antipetismo pela esquerda tanto eleitoral como politicamente.
A questão se agrava quando pensamos na vanguarda concreta das lutas que existem no Brasil, pelo menos desde a luta contra o golpe parlamentar, em 2016: as universidades que fizeram as primeiras ocupações contra Temer, em novembro de 2016; os trabalhadores e estudantes que derrotaram Temer e sua reforma da previdência na grande greve geral de 2017; os estudantes, trabalhadores, setores oprimidos que estão na rua contra Bolsonaro, dispostos a organizar a frente única antifascista para resistir. Fazemos nossa política para as massas, mas levamos sempre em consideração a vanguarda e a disputa pela hegemonia do movimento dos trabalhadores.
A política de capitular aos setores atrasados das massas para dialogar com o antipetismo (uma máscara de anti-comunismo, anti-esquerda e anti-oprimidos) já seria uma grave capitulação oportunista e eleitoralista. Agora, pensando no melhor da vanguarda e na sua disputa, essa linha é um crime político que pisaria na cabeça do melhor da vanguarda e fortaleceria o PT na disputa desse ativismo, ou seja, um completo desastre político.
Por dentro da frente única antifascista é que construiremos a nova esquerda para superar o PT como direção dos movimentos sociais no Brasil. Não será por dentro do antipetismo. É preciso saber escolher o lado para travar a luta política. Quem não souber fazê-lo, estará para sempre condenado ao fracasso e à traição. A política conta, é preciso saber escolher o lado.
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