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Especiais
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O que revela o resultado dessas eleições?

Por: Josias Porto, de Salvador, BA

Ainda é cedo pra fazer análises sobre o cenário pós eleições e a situação é muito complexa e difícil de entender, mas vou arriscar algumas linhas.

O momento é muito grave. A clássica frase de Gramsci do “pessimismo da razão e otimismo da vontade” nunca foi tão necessária. Ou, na sua versão reelaborada pela minha companheira Gabriela Mota: “trabalhar pelo melhor, preparado para o pior”. É possível que Haddad vença Bolsonaro e vamos batalhar muito por isso, mas precisamos estar muito conscientes de que o desfecho também pode ser a vitória do coiso.

Se derrotarmos Bolsonaro teremos uma vitória muito importante sobre o neofascismo. Mas já é um fato que, na suprerestrutura, a extrema-direita sai muito fortalecida dessas eleições. O PSL teve um crescimento exponencial de bancada federal, por exemplo, (passando de 1 para 52) se tornando a segundo maior partido do Congresso, atrás do PT (elegeu 56). Houve uma forte onda bolsonarista, que cresceu muito na reta final, e catapultou dezenas de excêntricos reacionários pelo país.

Esse ultra fortalecimento da extrema-direita (tendo Bolsonaro como maior expressão) precisa ser compreendido. Talvez possa ser explicado também por um giro de peso do pentecostalismo, especialmente na reta final. Isso tem força. Mas uma coisa também é certa, a consciência da população foi muito à direita após o golpe. Isso combinado, evidentemente, com a crise econômica e social que assola o país. Combinado também, por sua vez, com as influências de um processo que é mundial. O neofascismo me parece uma expressão de uma degeneração da consciência, fruto da fase atual do capitalismo, que agoniza numa crise profunda sem solução. Além disso, há outros ingredientes que compõem esse complexo fenômeno, como o moralismo conservador da sociedade brasileira e um crescimento de uma reação machista, racista e lgbtfóbica aos avanços dessas lutas, entre outros.

Outro ingrediente é o fortalecimento do anti-petismo (anti-esquerda). Há um ódio forte ao PT, um ódio que gera irracionalidade. Por isso, uma parte dos eleitores de Bolsonaro estão cegos. Fanáticos. Porque canalizam toda indignação e mal estar com o momento que vivemos a um bode expiatório: o PT. Isso somado ao mantra difundido amplamente pela mídia e fortalecido pela operação lava jato, de que o grande problema do país é: corrupção, corrupção, corrupção.

Uma parte, é verdade, são sujeitos que já eram moralmente degenerados, de mau caráter mesmo, e que agora se sentem à vontade pra botar pra fora todo seu ódio. Não tem ódio só do PT, tem ódio de tudo que não é podre como eles são. É impressionante como entre os mais ativos apoiadores de Bolsonaro encontramos os piores tipos que essa sociedade produziu: como o criminoso que ateou fogo no índio Galdino, que deveria estar preso, mas está organizando carreatas para moralizar o país com Bolsonaro.

Nem todos os eleitores de Bolsonaro são necessariamente assim. Talvez, uma parte possa ser disputável. Temos que testar isso. Precisamos sim fazer um esforço por dialogar com parte desse eleitorado. Sempre com muito cuidado, evidente, porque alguns estão “entorpecidos” e estes são sim capazes de tudo pra defender seu ídolo. Com esses não devemos manter diálogo algum, por segurança mesmo, porque nossa vida vale muito. Desgraçadamente, já temos vítimas desses monstros e precisamos ter muito cuidado.

Bom, mas é preciso um olhar também para as outras transformações da superestrutura e tentar entender. A direita tradicional levou uma surra! Foi muito mais destruída nessas eleições do que o PT. O PT (e também o PCdoB, vide desempenho importante da Bahia) demonstrou uma importante capacidade de se recompor pós-golpe, mesmo tendo o seu maior líder preso (preso político). Não podemos esquecer, se tivéssemos com Lula Livre ele ganharia a eleição, talvez no primeiro turno, e talvez reduziria o fortalecimento dos “nazi” (ou semi-nazi). Não estou com isso tirando a responsabilidade que o PT também tem sobre chegarmos onde chegamos. Mas o golpe foi contra todos nós e essa eleição reacionária é um desdobramento dele.

O PT conseguiu demonstrar muita força, ainda que com derrotas importantes, como a não eleição de Dilma. Ao que parece, houve uma onda forte anti-PT na reta final da campanha. Se isso foi um efeito da influência das pesquisas eleitorais nos ânimos dos eleitores na reta final, ou se havia um forte anti-petismo mais “escondido” e que só veio à tona nos momentos finais é algo que precisamos entender. O fato é que o Nordeste salvou o PT (e o Brasil). Isso se deve a elementos mais profundos. Temos que entender. De fato, nos anos dos governos petistas houve um desenvolvimento dessa região, historicamente abandonada desde que o centro econômico do país se transferiu para o Sudeste. Um desenvolvimento nos marcos de um momento de crescimento econômico do país, onde era possível (não significa que correta) a estratégia do “ganha-ganha” (claro que a elite ganhando muito mais). Além disso os programas sociais (também muito limitados) fizeram muita diferença. Nos rincões mais profundos do Nordeste não havia luz, água potável. A fidelidade de grande parte da massa do Nordeste ao PT tem base concreta.

Não podemos deixar de considerar, contudo, o enfraquecimento do PT nacionalmente, e que saiu muito derrotado no Sudeste e Sul. Mas o PSDB e o MDB saem ainda mais trucidados desse processo. Só pela bancada federal: MDB: 66 pra 34; PSDB de 54 pra 29. O “acordo nacional, com o supremo com tudo” ao final não foi capaz de os salvar. O golpe só fortaleceu o neofacismo.

Nós do PSOL somos muito pequenos, é verdade. Mas saímos muito fortalecidos dessa eleição. Evidente que nos marcos da imensa derrota que é a eleição como um todo: uma eleição profundamente reacionária. Não reelegemos nosso senador, mas dobramos nossa bancada federal, de 5 pra 10. Elegemos nosso primeiro estadual na Bahia. Todos os eleitos são importantes expressões das principais lutas que vivemos no país no último período. Pra não falar de Boulos e Sônia, que mesmo com a pequena votação, saem desse processo respeitadíssimos pelo papel que cumpriram. Semearam, junto com todos os militantes do PSOL, PCB e movimentos da frente que construímos, uma poderosa semente para o futuro. Os tempos são difíceis, mas o PSOL se fortalece como um importante pólo de resistência.

O jogo ainda está sendo jogado. A disputa eleitoral e a luta nas ruas serão determinantes. Vamos com tudo. Cabeça erguida. Fraquejar jamais!