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MUNDO

Na ONU, Coreia do Norte diz que não haverá desnuclearização se EUA mantiverem as sanções

Por Pedro Campos, São Paulo (SP)
Altaffer/Associated Press

Neste sábado (29), foi a vez do chanceler da Coreia do Norte, Ri Yong-ho, discursar na 73ª Assembleia Geral da ONU, quando deixou nítido o impasse que vive o processo de desnuclearização do país.

Sobre a persistência do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos à Coreia do Norte, Yong-ho afirmou [1] que “Sem nenhuma confiança nos EUA, não haverá confiança em nossa segurança nacional e sob essas circunstâncias não há como nos desarmarmos unilateralmente primeiro”. E complementou: “A percepção de que sanções podem nos colocar de joelhos é um sonho de pessoas que são ignorantes sobre nós. Mas o problema é que a continuidade das sanções está aumentando nossa desconfiança”.

O chanceler também ressaltou que a Coreia do Norte tomou “medidas significativas e de boa-fé, como interromper testes nucleares e de mísseis balísticos, desmantelar a instalação de testes nucleares de maneira transparente e se comprometer a não transferir armas nucleares e tecnologia nuclear sob quaisquer circunstâncias”. E concluiu: “No entanto, não vimos nenhuma medida correspondente por parte dos EUA.”

O impasse
A cúpula de Singapura entre Donald Trump, presidente norte-americano, e Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte, realizada em 12 de junho desse ano, tentou passar ao mundo a impressão que havia se chegado a um acordo entre os países que finalmente levaria paz à península coreana.

Esta impressão foi reforçada pelo fato de partes do acordo estarem sendo cumpridas, em certa medida, por ambos os países. Por um lado, os testes nucleares e de lançamento de mísseis norte-coreanos foram suspensos. Por outro, os exercícios militares conjuntos entre EUA e Coreia do Sul foram interrompidos. Ainda, restos mortais de soldados norte-americanos mortos na guerra da Coreia começaram a ser devolvidos aos EUA.

No entanto, para além destes efeitos imediatos, o acordo não passou de uma declaração de intenções. Após um intenso calendário de reuniões ter sido realizado após a Cúpula de Singapura entre representantes dos dois países, o processo de negociação foi travado devido à um impasse entre as partes sobre o processo de retirada do armamento nuclear da Coreia e o fim do regime de embargo econômico contra o país.

Em agosto, uma viagem do secretário de Estado Mike Pompeo foi suspensa na última hora. Trump afirmou que o encontro já não tinha sentido, uma vez que não havia tido progresso na desnuclearização do país. Na ocasião, alegou que parte do problema era que a China, influenciada pela disputa comercial com os EUA, não estava ajudando.

O anúncio da suspensão da reunião ocorreu depois que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) divulgou relatório afirmando ter graves preocupações sobre o programa nuclear norte-coreano. Isso se chocava com a informação divulgada pouco antes pelo think tank americano “38 North” com imagens de satélite indicando que Pyongyang tinha começado a desmontar locais importantes na fabricação de mísseis balísticos. À despeito desta informação, já no final de julho, Mike Pompeo, em resposta a uma pergunta do Comitê de Relações Exteriores no Senado dos EUA, havia sido categórico. Baseado em informações de fontes de inteligência[1], respondeu: “Sim, seguem produzindo material físsel”.

Apesar disso, durante os trabalhos da comissão do Conselho de Segurança da ONU na 73ª Assembleia, China e Rússia disseram que se devia recompensar Pyongyang pelos passos já dados, apontando a possibilidade de suspender o embargo econômico ao país. Em contraponto, na quinta-feira (25), Mike Pompeo foi categórico: “A aplicação das sanções do Conselho de Segurança devem continuar com vigor e sem falhar até que realizemos a total, final e verificada desnuclearização”.

O discurso do chanceler norte-coreano Ri Yong-ho na ONU esclareceu por que as negociações continuam travadas: sem o fim do embargo econômico, a Coreia do Norte não avança na desnuclearização; ao mesmo tempo que, sem a desnuclearização, os EUA não suspendem o embargo. Esse é o impasse.

A recente cúpula de Pyongyang estreita relações entre as duas Coreias
Enquanto as relações entre EUA e Coreia do Norte chegam a um impasse, a terceira cúpula intercoreana, realizada entre 15 e 19 de setembro[1], em Pyonyang, dá mais um passo para consolidar a relação entre as duas Coreias. Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul, foi o primeiro líder a visitar a capital do Norte desde o final da guerra na península (1950-1953).

Com isso, a Coreia do Sul busca se distanciar relativamente dos Estados Unidos, atuando com mais independência na região. Toda movimentação entre as Coreias de fato significou uma pressão sobre os EUA.

Na cúpula, os dois países assinaram um acordo comprometendo-se a eliminar “toda ameaça” de guerra entre seus respectivos países e a obter uma península sem perigos nem armas nucleares. “O Norte e o Sul concordaram em fazer da península coreana uma base para a paz, onde não haja ameaças nem armas nucleares, e buscarão progressos substanciais para obter este fim rapidamente”, diz o documento.

Moon ressaltou que foi a primeira vez que as duas Coreias concordam em dar passos específicos para a desnuclearização. Segundo ele, Kim se comprometeu em fechar de forma permanente seu centro de testes de mísseis em Tongchang-Ri, constando no comunicado que isso será feito “sob a supervisão de especialistas dos países implicados”.

O compromisso é que novos passos ainda poderão ser dados, tal como o desmantelamento total de sua central nuclear de Yongbyon, onde em 2008 foi derrubada uma torre de resfriamento como gesto de boa vontade. Mas todas essas medidas estariam condicionadas a “ações recíprocas por parte dos Estados Unidos”, leia-se, fim do embargo. Isso ficou totalmente evidente na 73ª Assembleia da ONU.

Mas a cúpula não se resumiu a tratar da desnuclearização. Antes do final do ano, os dois países farão uma cerimônia para conectar seus sistemas ferroviários nas costas leste e oeste. Também, assim que “houver condições”, retomarão a cooperação no polígono industrial fronteiriço de Kaesong, fechado em 2016 depois do quarto teste nuclear norte-coreano, e as visitas turísticas sul-coreanas ao monte Kumgang, no lado norte da fronteira. Também apresentarão uma candidatura conjunta para organizar os Jogos Olímpicos de verão de 2032.

“O Norte e o Sul impulsionarão seus intercâmbios e cooperação sobre uma base de reciprocidade, interesses compartilhados e prosperidade, e proporão medidas substanciais para desenvolver a economia nacional”, informa o comunicado.

Por fim, durante o encontro, as duas Coreias também assinaram um acordo militar para aumentar sua comunicação e evitar situações que possam levar ao início acidental de um conflito. Entre outras coisas, concordaram em cancelar todas as manobras de artilharia na zona fronteiriça.

Nesta segunda-feira, 1º de outubro, como parte do acordo de Pyonyang, soldados da Coreia do Sul e da Coreia do Norte começaram a remover minas terrestres ao longo da fronteira altamente fortificada entre os dois países.

[1] https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/09/coreia-do-norte-diz-que-com-sancoes-nao-havera-desarmamento-nuclear.shtml

[1] https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/31/internacional/1532994701_980945.html

[1] https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/09/19/coreia-do-norte-promete-fechar-local-de-testes-de-misseis.ghtml