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EDITORIAL

A primavera chegou: que nasçam as flores e cresçam as filhas da revolução. Ele não!

Por: Gizelya da Silva Morais, de Macaé, RJ

As primaveras sempre nos trazem lições e geram expectativas de que os ventos também trarão mudanças. As primaveras também nos mostram o quanto nós mulheres somos significativas nos processos históricos e como essas posições marcadas a sangue e suor mudam as estruturas se caminharmos juntas. Os tempos têm sidos sombrios, turvos, os dias tem sido cinzas, são ataques em cima de ataques, retrocessos em cima de retrocessos, e a ameaça do fascismo nos assombra, mas os ventos primaveris podem nos trazer o renovo.

Tomemos como exemplo a luta das mulheres tunisianas que em 2011 desencadearam a Primavera Árabe, muitas vezes em passeatas pela Avenida Bourguiba, em Túnis, a capital, arrastando seus maridos e filhos, o que foi o estopim para o levante egípcio: Uma manifestação histórica na Praça Tahrir, no Cairo, convocada por um vídeo apaixonado de Asmaa Mahfouz, uma jovem de 25 anos. Tornou-se viral, desempenhando um papel significativo para a culminância do que foi o levante egípcio e a derrubada do ditador. No Iêmen, em uma revolução silenciosa, colunas de mulheres saíram sem véu pelas ruas de Sanaa para derrubar o autocrata do país, enquanto na Síria, enfrentando a polícia secreta armada, as mulheres mesmo acompanhadas pelo medo, em gestos de ousadia, bloquearam estradas para exigir a libertação de seus maridos e filhos presos. Na Líbia, os protestos das mulheres se mostraram fundamentais para o movimento de cidades inteiras que fugiram ao controle do coronel Muamar Kadafi. O que torna tão extraordinário a importância das mulheres nessas manifestações uma vez que habitam o reduto do fundamentalismo muçulmano.

Entre os motivos que levaram as mulheres às ruas e que culminou na Primavera Árabe estavam os altos índices de desemprego, principalmente nas classes instruídas; políticas neoliberais de privatização, enfraquecimento dos sindicatos; corrupção nas altas esferas; elevação dos preços de produtos alimentícios e energia; a penúria econômica provocada pelo aperto das oportunidades de emprego nos Estados petrolíferos do Golfo e na Europa (ainda rebordose da crise de 2008); e décadas sob governos autoritários. Em seus papéis de trabalhadoras e profissionais, além de donas de casa, as mulheres eram as que estavam sofrendo diretamente com todos esses problemas e ainda mais ao ver seus maridos e filhos padecendo, assumiram a linha de frente. Eram de todas as classes sociais, em sua maioria, trabalhadoras que se preocupavam com salários e direitos trabalhistas, saúde, alfabetização, bem-estar e democratização de políticas a fim de fazer com que mais recursos estatais fossem dedicados às mulheres e aos pobres.

Em 2015, no Brasil, milhares de mulheres foram às ruas contra Eduardo Cunha que buscava retirar direitos em detrimento de princípios fundamentalistas. O Fora Cunha moveu milhares de mulheres de Norte a Sul em um grito uníssono.

PRIMAVERA FEMINISTA 2018 – APRENDA A MÚSICA

Em 2018, ventos primaveris feministas que passaram pela Espanha, Irlanda, Argentina, voltam a soprar por nosso país. Movidos pelo #elenão dezenas de manifestações, pelas mais diversas causas, em diversas localidades estão programadas para se incorporar à luta das mulheres contra Bolsonaro e mais uma vez assumem o protagonismo e a linha de frente em defesa de suas vidas, da democracia, contra os retrocessos e a retirada de direitos, disseminação de ódio e do medo.

Nesse fim de semana mais de 500 cidades irão marchar no Brasil e no exterior contra a candidatura de Bolsonaro. O movimento contra a ascensão do fascismo também ocorrerá em Lisboa, Porto e Coimbra (Portugal), Berlim (Alemanha), Lyon (França), Galway (Irlanda), Barcelona (Espanha), Sidney e Gold Coast (Austrália), Londres (Inglaterra) e Haia (Holanda), entre outras. A classe artística também tem participado, convocando seus seguidores a também comparecerem às manifestações. O dia 29 de setembro de 2018 entrará para a história como o dia em que de maneira uníssona trabalhadores e trabalhadoras disseram “não” ao fascismo, ao ódio e à intolerância.

Sigamos juntos e juntas!

A primavera chegou. Que os ventos espalhem as nuvens turvas e tragam mudanças. Ele não!

 

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