Como no Brasil, os americanos também têm eleições a cada dois anos: uma que escolhe o presidente e outra que elege os governadores e os membros do Congresso – as MidTerms ou Meio mandato, em tradução livre. Nas próximas eleições americanas, em novembro, os eleitores escolherão 35 senadores, 36 governadores e 435 deputados.
Atualmente, tanto a Câmara, como o Senado têm maioria de republicanos. Manter esta maioria é o grande objetivo de Trump e do Partido Republicano, pois isto vai determinar como serão os dois últimos anos de mandato do presidente.
A força e a fraqueza de Donald Trump e dos Democratas
A crise econômica de 2008 gerou as condições para que movimentos populistas crescessem em todo o mundo. Esta foi a base da eleição de Trump, em 2016, que prometia a melhoria da população trabalhadora mais pobre americana, não atingida pela recuperação econômica dos dois governos de Obama.
Os grandes números da economia dos EUA mostram a recuperação econômica: as bolsas crescem desde 2008, com altas de 275% na Nasdaq e de 137% na Bolsa de Nova York. O desemprego caiu de 10% para 3,9%. Os financiamentos imobiliários somam US$ 9,43 trilhões em 2018, e eram de US$ 9,9 trilhões em 2008 no auge da crise. A economia vai bem obrigado, e esta é a força de Trump nestas eleições.
De toda forma, para os americanos, em especial para a classe trabalhadora, embora haja uma sensação de que o pior momento tenha ficado para trás, o fato é que sob o governo Trump, até agora, não houve uma melhoria real. O salário médio semanal dos americanos cresceu apenas 19%, enquanto a inflação avançou 19,4% no mesmo período. A diminuição do desemprego se deu em base ao trabalho precário. A pobreza aumentou de 12,5% para 12,7%, e hoje cerca de 20 milhões de pessoas (6% da população americana) vivem em trailers, ou seja, a soma da população de São Paulo e do Rio de Janeiro. Assim, a renda cresceu mais para os ricos, e grande parte da população pobre se sente desalentada, exatamente naquelas regiões que deram a vitória a Trump nas últimas eleições presidenciais.
Mas o elemento de maior fragilidade de Trump segue sendo a sua relação política com a massa, desde que foi eleito. Não podemos esquecer que ele perdeu para Hilary Clinton na eleição direta, e desde então sua popularidade só fez diminuir. As pesquisas apontam que 60% dos americanos não apoiam o governo. Isto está se refletindo na intenção de voto para as midterms.
Uma pesquisa realizada pelo jornal The Washington Post em parceria com a emissora ABC News mostrou que os democratas apresentam uma boa vantagem em relação aos republicanos em intenções de votos, a pouco mais de dois meses das eleições legislativas nos Estados Unidos. Segundo os resultados divulgados, 45,2% dos eleitores entrevistados votarão em um candidato do Partido Democrata, contra 38% que escolherão um republicano para o Congresso.
A isto se acrescenta o fato de que tradicionalmente, nas eleições legislativas, o eleitor americano dá a vitória ao partido que não está na presidência. Desde 1934 foram realizadas 21 eleições legislativas, o partido do presidente só conseguiu ser maioria na Câmara três vezes e no Senado cinco vezes. Esta é a forma tradicional americana de equilibrar o poder. A relação ruim dos eleitores com o governo Trump é a força dos democratas.
Os pesquisadores Erica Chenoweth, da Universidade de Denver, e Jeremy Pressman, da Universidade de Connecticut, fazem o mapeamento dos protestos nos EUA. Em 2017 eles registraram 8,7 mil protestos no país, sendo 74% contra Trump. Em 2018 já ocorreram 4 mil protestos. A mesma pesquisa também mostrou uma grande frustração com o sistema político em geral. Mais de seis em cada dez americanos dizem que o presidente Trump e seu Partido estão fora de sintonia com a maioria das pessoas no país. Para 51% dos entrevistados, os democratas também estão desconectados de seus eleitores. Isto explica o crescimento de candidaturas de mulheres, negros (as), LGBTs e imigrantes, e é nesta desconfiança que reside à fraqueza tanto dos republicanos, quanto dos democratas.
Candidaturas de mulheres e demais oprimidos cresce
Graças à polarização entre democratas e republicanos, os primeiros viram crescer o número de candidatos (as) interessados em concorrer pelo Partido Democrata. Em 2018 será a primeira vez que os democratas terão mais candidatos do que os republicanos. Os democratas terão 1.500 candidatos(as) disputando as eleições primárias do partido, 500 a mais do que há quatro anos. Desses, 350 são mulheres.
Na verdade, as candidaturas femininas cresceram nos dois partidos. Um número record de mulheres disputarão a Câmara e o senado neste ano: 523 até agora. Isto é consequência da enorme oposição que as mulheres vêm fazendo à Donald Trump desde o dia de sua posse, quando então levou 4 milhões de mulheres às ruas em 600 cidades americanas.
As primárias têm se mostrado um marco para candidatas negras – pelo menos 50 irão concorrer ao Congresso. A Georgia pode eleger Stacey Abrams como a primeira governadora negra do País. Em Idaho, Paulette Jordan pode ser a primeira governadora indígena e Christine Hallquist é a primeira mulher transgênero a vencer as primárias, do estado de Vermont. Os estados de Michigan e Minnesota podem eleger as primeiras mulçulmanas para o Congresso ambas pelo partido Democrata.
O crescimento feminino levou a que a latina Alexandria Ocasio-Cortez, do grupo de esquerda Democratic Socialists of America (DSA), derrotasse um tradicional político do Partido democrata em Nova York, e concorrerá a Câmara. O gráfico abaixo mostra o crescimento das candidaturas mulheres nos últimos 18 anos.
Gráfico com o número de mulheres indicadas por cada Partido.
Por trás das polêmicas está a disputa eleitoral entre democratas e republicanos
Todos os dias vemos alguma declaração polêmica de Trump na mídia. Ora para defender sua política externa, ora para polemizar com os democratas, a principal oposição a seu governo. O crescente aumento da tensão política interna entre democratas e republicanos tem um único objetivo: a disputa eleitoral de novembro que vai determinar como será o governo Trump nos próximos dois anos. Caso mantenha a maioria republicana atual, Trump terá melhores condições de implementar seu projeto político, dentro e fora dos EUA, mesmo enfrentando um crescente desgaste popular e mesmo dentro do Partido Republicano.
Caso os democratas ganhem a maioria na Câmara, no Senado ou em ambos, Trump terá muita dificuldade para governar. Claro, seu governo não estaria necessariamente inviabilizado. Diferente de um sistema parlamentarista, a posição do presidente no sistema político norte-americano ainda lhe confere um enorme poder. Como vimos, raramente o partido do presidente vence as MidTerms. Obama tampouco as venceu em 2014. Mas, sem dúvida, a vida de Trump estaria bem complicada.
Os democratas estão usando todas as contradições do governo para bombardear Trump. Nesta semana Obama entrou em campanha, fazendo vários ataques a Trump, declarando que a democracia está em risco, e fazendo um chamado aos americanos para votarem nas eleições legislativas de novembro.
Os democratas voltaram a falar novamente no impeachment de Trump, principalmente depois da publicação do artigo anônimo no New York Times, que explica como os republicanos atuam dentro do governo para impedir “as piores inclinações” do presidente, e que este grupo chegou a pensar em pedir o afastamento de Trump por incapacidade.
Essa queda de braço entre republicanos e democratas se define nas urnas em novembro. Se as pesquisas estiverem certas, os democratas sairão vitoriosos. Pior cenário para Trump. De qualquer forma, o futuro do governo está em jogo nestas eleições, e como consequência indireta, o do mundo também.
Foto: EBC
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