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O que revela a última pesquisa Ibope?

Reprodução

Gabriel Casoni

Gabriel Casoni, de São Paulo (SP), é professor de sociologia, mestre em História Econômica pela USP e faz parte da coordenação nacional da Resistência, corrente interna do PSOL.

A quase um mês das eleições presidenciais, o cenário se mantém absolutamente imprevisível. É o que revela a pesquisa Ibope divulgada nesta quarta-feira (06). Realizada entre os dias 01 e 03 de setembro, ainda no início da propaganda eleitoral na TV e rádio, a pesquisa não apresentou alterações significativas na corrida pelo Palácio do Planalto.

Por opção política do Ibope, e provavelmente das empresas que contrataram a pesquisa (TV Globo e o jornal O Estado de S. Paulo), o nome de Lula não constou na lista de candidatos.

Sem Lula, a fotografia de momento mostra Bolsonaro à frente e uma acirrada disputa pelo segundo lugar. Contudo, nada ainda é certo, nem mesmo a liderança do capitão do Exército. Talvez, daqui a duas semanas, seja possível visualizar um quadro com tendências mais sólidas. Vejamos abaixo três conclusões sobre última pesquisa Ibope.

(1) Bolsonaro mostra força, mas rejeição dispara
O candidato de extrema direita cresceu dois pontos percentuais, oscilando, dentro da margem de erro, de 20% para 22% das intenções de voto. Este resultado evidencia, uma vez mais, a resiliência de Bolsonaro, que mesmo sob pesados ataques mantém consigo uma parcela fiel do eleitorado.

Neste momento, o capitão aposta em consolidar sua base de apoio para chegar no segundo turno, por isso vem radicalizando o discurso. Em Roraima, por exemplo, defendeu “metralhar a petralhada”. O reforço dos elementos fascistas no discurso serve também para aumentar o engajamento de seus apoiadores mais fanáticos.

Em contrapartida à liderança na pesquisa, a rejeição a Jair Bolsonaro disparou, pulando de 37% para 44%. A hostilidade ao fascista é ainda maior entre as mulheres, os trabalhadores de menor renda e na região Nordeste. Uma parcela expressiva da população começa a entender o terrível significado de sua candidatura, fato sumamente progressivo.

(2) Ciro sobe, Marina cai
O candidato do PDT foi o que mais cresceu na pesquisa, subindo de 9% para 12% nas intenções de voto. Ciro Gomes avançou especialmente na região nordeste, onde atingiu 20%. Estes números indicam que ele se beneficia da ausência de Lula. Atento a isso, Ciro vem adotando um discurso particularmente voltado aos eleitores do ex-presidente. A insistência na proposta relacionada ao abatimento das dívidas das pessoas com nome sujo no SPC, em sua maioria de baixa renda, é um exemplo dessa estratégia. A questão a ser testada nas próximas semanas, porém, é a capacidade de Ciro continuar crescendo quando o PT lançar pra valer Fernando Haddad como o candidato de Lula nas eleições.

Marina Silva foi quem mais perdeu na pesquisa Ibope, caindo de 14% para 12%. O resultado ruim reflete a dificuldade da candidata da Rede em conquistar tanto o eleitorado lulista órfão quanto o público antipetista. Num quadro muito polarizado, Marina, sempre no meio, terá muitas dificuldades para crescer.

(3) Alckmin e Haddad: vão decolar? E Boulos, vai subir?
O tucano subiu dois pontos apenas, passando de 7% para 9%. Alckmin aposta no latifúndio de tempo de TV e na estrutura partidária para crescer. Os programas estão sendo usados principalmente para “desconstruir” Bolsonaro e transmitir uma imagem mais “humana” do tucano. As próximas pesquisas revelarão se a tática adotada surtirá ou não efeito.

O PT, por sua vez, vive uma semana de transição. Lula, como esperado, teve a candidatura indeferida pelo TSE. Contudo, seu substituto ainda não foi anunciado oficialmente, o que deverá ocorrer até terça, dia 11. Neste contexto de indefinição, Haddad oscilou positivamente na pesquisa, saindo de 4% para 6%. Os próximos vinte dias serão chave para o petista, afinal segue a incógnita que pode decidir a eleição: Lula, mesmo preso, vai conseguir, em quatro semanas, levar Haddad para o segundo turno?

Por fim, vale analisar o desempenho de Guilherme Boulos (PSOL/PCB), que pontou 1% no Ibope. Considero que há uma desproporção entre o espaço político e o eleitoral para a candidatura. Explico melhor: a pressão para o voto útil em Ciro e no PT para derrotar a direita vem bloqueando o crescimento eleitoral de Boulos até aqui, muito embora o líder do MTST esteja reunindo milhares de pessoas em atividades de campanha pelo país, o que é notável. A reta final da disputa, a depender das circunstâncias concretas, pode tanto diminuir esse bloqueio, de modo que Boulos avance, como aumentá-lo ainda mais, deixando-o na margem entre 1% e 2%. Veremos.