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MUNDO

Trump acossado: Risco de impeachment?

Por: Mario Conte, de São Paulo, SP

Uma pesquisa realizada pelo jornal “Washington Post” e pela emissora ABC News, publicada no dia 31 de julho, revelou que apenas 36% dos norte-americanos aprovam Trump como presidente, enquanto 60% desaprovam sua gestão. Sua popularidade não é a mesma entre republicanos e democratas: 78% dos republicanos aprovam sua administração, enquanto 93% dos democratas e 59% dos independentes a desaprovam.

Em uma pesquisa anterior, realizada em abril, Trump contava com o apoio de 40% e sua desaprovação chegava a 56%. Com a nova pesquisa, Trump torna-se um dos presidentes mais impopulares da história dos EUA. E é a mais baixa popularidade desde a sua posse, em janeiro de 2017.

A pesquisa ainda indica que a maioria acredita que o republicano tentou interferir na Justiça, com 63% a favor da investigação do procurador Robert Mueller sobre interferência russa. Ainda, 49% dos entrevistados disseram que o Congresso deveria iniciar o processo de impeachment e 46% se mostraram contrários a tal procedimento. Já sobre como Trump lida com a economia, 45% se manifestaram favoráveis e 47% desaprovam a condução econômica de seu governo.

A pesquisa foi divulgada uma semana após um tribunal do estado da Virgínia condenar seu ex-chefe da campanha, Paul Manafort, por oito das dezoito acusações de fraude bancária e fiscal. Manafort foi condenado em cinco acusações de apresentação de declarações fiscais falsas, uma acusação por não declarar contas no exterior e por duas acusações relacionadas a fraudes bancárias.

As acusações são resultado da investigação conduzida pelo procurador especial Robert Mueller sobre a ingerência da Rússia na eleição presidencial de 2016.

Manafort passou mais de uma década como consultor político na Ucrânia. Ele deixou a campanha de Trump em agosto de 2016, depois de ser acusado de ter ligações com grupos pró-Rússia. Ele teria participado de uma reunião, em junho de 2016, com cidadãos russos que tentavam fornecer à equipe de Trump informações secretas sobre Hillary Clinton. O organizador da reunião teria sido o filho mais velho de Trump, Donald Trump Jr., segundo e-mails divulgados ainda em 2017.

A condenação reacendeu especulações a respeito de um processo de impeachment de Trump, agravadas pela declaração de seu ex-advogado: Michael Cohen se declarou culpado a um tribunal de Nova York em oito acusações de fraudes fiscais, violação de financiamento de campanha e falsas declarações a uma instituição financeira, afirmando ainda ter subornado mulheres que disseram ter tido casos com o presidente. Os pagamentos para que elas não divulgassem os casos à imprensa durante a campanha eleitoral, segundo Cohen, ocorreram não apenas com ciência de Trump, mas sob suas ordens. As declarações ocorreram na terça-feira dia 21/07, o mesmo dia da condenação de Manafort, acentuando o desgaste da figura de Trump.

Cohen trabalhou nas empresas de Donald Trump por mais de dez anos e permaneceu como advogado pessoal do presidente após as eleições. Deixou tal condição apenas em maio deste ano.

O risco de impeachment
Para que seja instaurado o processo de impeachment, as acusações contra Trump deveriam ser levadas para o Congresso, que hoje tem maioria republicana, o que pode mudar nas eleições legislativas de novembro. O Congresso pode iniciar o processo por maioria simples, mas este seguiria ao senado, onde seria necessário 2/3 dos votos, ou seja, 67 senadores precisariam votar favoráveis à abertura de processo político contra Trump. Um marco nunca foi alcançado na história dos EUA.

Apenas dois presidentes foram alvo de processo de impeachment nos EUA. Nenhum foi condenado. Bill Clinton (o 42º presidente americano) foi acusado pelos crimes de perjúrio e obstrução à justiça, após mentir sobre a natureza de seu caso com a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky. O primeiro foi Andrew Johnson, 17º presidente americano, que assumiu o cargo em 1865 e ficou no poder por quatro anos. A Câmara de Representantes aprovou a abertura de processo contra ele em 1868, após ele ter afastado Edwin Stanton, então secretário de guerra, que não concordava com suas políticas. Foi absolvido por apenas um voto de diferença.

O senado também é constituído de maioria republicana. E pela Constituição americana, um presidente só pode ser impedido durante um mandato caso comprovado crime de traição ou suborno ou ainda outros crimes graves e contravenções, como obstrução de justiça, outra acusação que pesa sobre Trump.

Trump inicialmente negou, mas admitiu que Cohen chegou a um acordo de confidencialidade com a atriz pornô Stormy Daniels em seu nome. Afirma ainda que reembolsou a Cohen o valor de US$ 130 mil (R$ 520 mil reais). Cohen teria pago esse valor a Stormy Daniels dias antes da eleição de Trump, para que ela não se pronunciasse publicamente sobre o caso. Trump afirma que não cometeu crime, uma vez que o dinheiro não procedia de sua campanha eleitoral, mas era seu próprio dinheiro e reforçou que as acusações da atriz eram “falsas e extorsivas”, em um esforço de se apresentar como vítima na situação.

Há um outro episódio de suborno para que mulheres não se pronunciem sobre casos extra conjugais com Trump: Cohen, o advogado de Trump, divulgou um áudio em que discute com Trump o pagamento à Karen MacDougal.

Por se tratar de um pagamento secreto por parte de candidato, com intenção de influenciar o resultado eleitoral, segundo alegação de Cohen, pode ser considerado como violação das leis eleitorais dos EUA e envolver Trump em um crime eleitoral.

Michael Cohen foi liberado após pagar uma fiança de US$ 500 mil e terá uma nova audiência no dia 12 de dezembro, na qual será conhecida sua sentença.

O advogado de Trump, Rudy Giuliani, declarou a jornalistas que “não há nenhuma alegação de cometimento de crimes da parte do presidente, e nas acusações dirigidas pelos procuradores contra Cohen (…) Está claro que, como dito pelos procuradores, as ações de Cohen refletem um padrão de mentiras e desonestidade, durante muito tempo”.

Sobre Paul Manafort, Trump disse que seu ex-assessor é um “homem bom” que está sendo vítima de uma “caça às bruxas”. Segundo o ex-assessor de Trump, Michael Caputo: “O veredicto no julgamento de Manafort não é tão preocupante quanto as declarações de Cohen”, que “É provavelmente a pior coisa até agora em toda esta fase de investigação da presidência.”

Os mercados
Em uma entrevista a rede de televisão Fox News no dia 23/07, Trump afirmou que “(…) se eu sofrer um impeachment, acho que o mercado ruiria. Acho que todos ficariam muito pobres”. Ele se refere ao fato de que o S&P 500 – abreviação de Standard & Poor’s 500, trata-se de um índice composto por quinhentos ativos (ações) cotados nas bolsas de NYSE ou NASDAQ – atingiu seu máximo histórico e registrou 3.453 dias em tendência de alta. A maior fase ascendente de todos os tempos. Trump atribui a si esse mérito, ainda que a maior parte da alta tenha ocorrido sob a presidência de Barack Obama.

O site InfoMoney, entretanto, não acredita em um impacto negativo como o que Trump vaticina. E o chefe de estratégias de investimento da CFRA, Sam Stovall, prevê que as ações podem cair entre 5% e 10% ou até mesmo 20%, mas “não acreditamos que isso leve a uma recessão”.

Caso ocorra o impeachment, Trump seria substituído por seu vice-presidente, Mike Pence, que deve apoiar políticas tributárias e regulatórias frouxas e mais favoráveis ao mercado, mas manter as guerras comerciais de Trump, que preocupam Wall Street.

A situação permanece aberta, mas impactou negativamente e desgastou Trump junto à opinião pública. O que pode refletir nos resultados eleitorais de novembro favoravelmente aos democratas.