Temer incendiou o Museu Nacional

Foto de Augusto Malta/IMS.

Aderson Bussinger

Advogado, morador de Niterói (RJ), anistiado político, diretor do Centro de Documentação e Pesquisa da OAB-RJ e diretor da Afat (Associação Fluminense dos Advogados Trabalhistas).

O incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro é criminoso, sim, e, por este motivo, deveriam ser indiciados por crime de lesa-pátria e lesa-humanidade, todos, sem exceção, os integrantes deste governo golpista e espúrio, a começar pelo presidente ilegítimo Michael Temer, que, com a sabida cumplicidade da maioria do Congresso Nacional, impôs ao país o congelamento dos gastos públicos por 2O anos, sacrificando assim os recursos que deveriam ser carreados para educação, saúde, moradia popular e também a conservação de nossos museus, dentre estes o mais importante: o Museu Nacional.

Criado por D. João VI em 1818, enquanto Museu Real, vinculado Museu Nacional à Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, a irresponsabilidade de Temer acaba de queimar, converter em cinzas, cerca de 20 milhões de itens componentes do acervo histórico da memória nacional e também da civilização humana, da própria história natural da humanidade.

Segundo o site da instituição, estavam lá, (supondo-se que protegidos), o acervo da Casa dos Pássaros, antiga Casa de História Natural criada, em 1784, pelo Vice-Rei D. Luiz de Vasconcellos e Sousa; da coleção do mineralogista alemão Abraham Gottlob Werner (1749-1817); dos diamantes do Distrito Diamantino enviados pelo intendente Ferreira da Camara à Academia Real Militar; de espécimes geológicos, mineralógicos e zoológicos coletados pelos naturalistas estrangeiros no Brasil como Langsdorff, Natterer e Saint-Hilaire; de peças etnográficas vindas das Ilhas Sandwich para o Imperador Pedro I, que as doou ao Museu; da coleção de objetos mineralógicos doadas pelo Príncipe da Dinamarca; de produtos mineralógicos e geognósticos do vulcão Vesúvio; da coleção ornitológica doada pelo Museu de Berlim.

Como visto, estamos diante de mais um crime deste governo, – insisto -, pelo qual deveria ser mais ainda execrado, nacional e internacionalmente pelos males que este incêndio causou a memória nacional e mundial, sendo este, dentre outras mazelas na saúde e educação, o terrível preço que estamos pagando pela política anti-cultural do governo federal, que deixou o ministério da educação à míngua de verbas públicas, a UFRJ sucateada, como ha duas semanas atrás foi denunciando por seu Magnífico Reitor Roberto Leher, enfim, uma tragédia anunciada, prevista pela lógica e consequências esperadas desta anti-administracao absolutamente destruidora da cultura e memória de nosso país.

Trata-se do mais importante museu, nesta categoria, da América Latina, sendo, além de toda importância para pesquisa científica, história e arqueologia, um espaço de visitação pública espetacular, bonito de ver, saudável, parte de nossa memória de adolescentes, quando, como eu, visitei a instituição pela primeira vez, em excursão de meu saudoso Colégio Anchieta, de Nova Friburgo (RJ), assim como milhares de estudantes ao longo da história.

Quero, por fim, me solidarizar com todos servidores, técnicos, professores, pesquisadores, trabalhadores terceirizados, enfim todos aqueles que dedicam suas vidas a conservação do Museu Nacional, neste momento tão difícil, destacando que precisamos, mais ainda, prosseguir lutando pela defesa de nossa memória, do serviço público e da universidade igualmente pública , gratuita e voltada para os interesses do povo brasileiro e não do mercado.

 

FOTO: Foto de Augusto Malta/IMS. Museu Nacional, São Cristóvão, Rio de Janeiro, 1930.

*Aderson Bussinger Carvalho é Conselheiro da OAB-RJ, e Diretor do Centro de Documentação e pesquisa da Seccional.