Uma polêmica com a candidatura do PT e do PCdoB
O MTST é um dos principais movimentos sociais brasileiros e esteve na linha de frente da luta contra o golpe parlamentar do impeachment da ex-presidente Dilma e nas lutas contra o governo ilegítimo de Temer e seus ataques aos direitos.
O PSOL foi um dos partidos de esquerda que não apoiou as administrações petistas aliadas com partidos da velha direita, por entender que estes governos de conciliação de classes não enfrentaram de verdade os privilégios dos ricos e poderosos. Entretanto, o PSOL não vacilou na luta contra o golpe – seus parlamentares votaram contra a manobra reacionária do impeachment e a maioria de sua militância esteve nas ruas contra ele.
Tanto o MTST como o PSOL são contra a condenação sem provas do ex-presidente Lula, sua prisão política e o impedimento absurdo de sua candidatura presidencial. Mesmo não apoiando o projeto político da direção do PT, souberam enfrentar a ofensiva da velha direita golpista, contra os direitos sociais e as liberdades democráticas.
A firme defesa da unidade de ação nas lutas contra o golpe e o governo Temer nunca significou a defesa do mesmo projeto político defendido pela direção do PT.
Poderia ter sido diferente? A nossa unidade nas lutas poderia se repetir na defesa da mesma candidatura presidencial no primeiro turno das eleições deste ano?
Sim, poderia. Mas, para que esta possibilidade se tornasse realidade, era necessário que as direções do PT e do PCdoB tirassem as lições mais importantes do golpe parlamentar de 2016 e do desfecho extremamente negativo de seus governos. Não só entendessem os graves erros dos governos de conciliação de classes, mas, principalmente, mudasse sua política para a realidade atual.
Mas, infelizmente, não é isso que observamos de fato. Seja na política de alianças, seja na no programa apresentado, se repetem os mesmos erros praticados nos 13 anos de seus governos.
Golpistas não merecem perdão
Mesmo depois do golpe e de todo o significado reacionário do governo Temer, a direção do PT buscou construir alianças políticas com partidos e políticos da velha direita, que inclusive apoiaram o Impeachment de 2016.
Foi assim, que buscaram uma aliança nacional com o PR, um dos partidos fisiológicos do chamado “Centrão”, oferecendo a vice-presidência para o mega empresário Josué de Alencar – filho e herdeiro de José Alencar, que foi o Vice de Lula.
Da mesma forma, tentaram uma aliança nacional com o PSB, partido cuja bancada federal apoiou majoritariamente o Impeachment e que há anos mantém em SP uma aliança estreita com o governo controlado pelo PSDB. Márcio França, do PSB, foi o vice-governador de Alckmin.
Inclusive, para conseguir a neutralidade do PSB nas eleições presidenciais, a direção nacional do PT sacrificou a candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco, passando por cima da vontade de sua militância.
Se ao nível nacional essas alianças tiveram dificuldade de se concretizar – só vingou o acordo nacional com um partido da velha direita, o PROS – em Estados importantes, principalmente onde o PT detém os governos estaduais, a política de alianças espúrias com a velha direita e os golpistas foi aplicada amplamente.
Por exemplo, no Ceará se aliaram a Eunício de Oliveira (MDB), atual presidente do Senado, um dos articuladores do golpe, apoiador de Temer e um dos responsáveis diretos pela aprovação dos maiores ataques ao povo trabalhador, como a reforma trabalhista, a ampliação da terceirização da mão-de-obra e o congelamento de investimentos sociais por 20 anos. Para apoiar a reeleição de Eunício para o Senado, o PT abriu mão inclusive de buscar a reeleição de seu atual senador, José Pimentel.
No Estado de Alagoas, vão apoiar a reeleição de Renan Calheiros, também do MDB e apoiador do impeachment, para o Senado e de seu filho para o governo do estado.
Alianças como estas se repetem ainda na Bahia, Minas Gerais e Piauí (três Estados onde o PT está no governo do estado), além de outros estados.
O PCdoB não fica pra trás nessa política. No Maranhão, onde controla o Governo do Estado, formou, mais uma vez, uma aliança com vários partidos da velha direita, entre eles o DEM.
“A história se repete como farsa”. Não podemos esquecer que Temer era o vice-presidente na chapa de Dilma. A política de alianças atual, de fato, repete os mesmo erros do passado.
Governar para quem?
Junto com essa política de alianças com a velha direita golpista, e em muito sentidos por decorrência dela, vem o outro grave problema: o rebaixamento programático. Por de trás da máxima de “governar para todos”, se esconde a defesa de um programa que não tem como objetivo enfrentar de verdade os privilégios dos ricos e poderosos.
Nos 13 anos em que esteve no governo federal, o PT não aplicou uma reforma tributária que sobretaxasse as grandes fortunas e os lucros exorbitantes das grandes empresas e bancos. Neste período, os bancos lucraram como nunca, enquanto os trabalhadores já começavam a pagar a conta da crise.
Não mexeram no mecanismo perecerão da dívida pública, que todo ano durante todo o período dos governos petistas, consumiu quase a metade de todo o Orçamento da União, com juros e amortizações.
Não interromperam o processo de privatização da Petrobrás, realizando vários leilões de reservas de petróleo e do Pré-Sal, já abrindo as nossas riquezas para exploração das gigantes transnacionais petroleiras. Ao invés de retomar o monopólio estatal sobre o petróleo, foi no governo de Dilma que se flexibilizou ainda mais o controle da Petrobrás sobre a exploração desta que é uma das nossas principais riquezas.
Os exemplos são muitos. Mas, a verdade é que fruto de governos de conciliação de classes, o PT acabou governando no essencial sem mexer nos privilégios da elite econômica, reservando apenas os programas sociais para a maioria do povo apenas, as chamadas políticas sociais, que tiveram sua importância, mas não foram suficientes para garantir uma melhora permanente na vida da maioria da população.
Muitos ativistas acreditam que num novo governo do PT as coisas seriam diferentes, que eles agora enfrentariam os privilégios do 1% mais ricos, das grandes empresas e bancos, para atender as justas reivindicações da maioria da população por emprego, melhores salários e serviços públicos de qualidade.
Infelizmente, mais uma vez não será assim. A recente entrevista de Fernando Haddad, coordenador de programa da candidatura do PT, vice de Lula e seu eventual substituto se confirmado seu impedimento, ao Banco Pactual é bastante elucidativa. Haddad chega a se comprometer com uma nova reforma da Previdência e novamente com o respeito aos contratos e interesses dos banqueiros. Por exemplo, a proposta de rever a reforma trabalhista ou sobretaxar as grandes fortunas sequer foi mencionada.
Sem uma mudança radical nestes rumos, num eventual novo governo petista, vamos ver se repetir os mesmos erros que assistimos nos seus governos, tanto com Lula como com Dilma. As direções do PT e do PCdoB estão dispostas a rever a política de conciliações de classes? Lamentavelmente, os fatos demonstraram que não.
Lula Livre e Boulos Presidente
Vamos seguir firmes na denúncia do golpe e todos seus efeitos nocivos aos direitos sociais e democráticos. Seguiremos também denunciando o absurdo impedimento de Lula concorrer nas eleições.
Mas, com a mesma ênfase que estamos pelo Lula Livre, teremos também na construção e afirmação da candidatura de Boulos e Guajajara para a Presidência, nas próximas eleições de 7 de outubro.
Mais do que nunca, precisamos ter a ousadia de romper com os erros do passado e construir uma nova esperança de esquerda em nosso país. Como explicou muito bem o próprio Guilherme Boulos, em recente entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
A candidatura de Boulos e Guajajara é lançada por uma frente política e social inédita em nosso país, formada por partidos de esquerda, como o PSOL e o PCB, e movimentos sociais combativos, como o MTST e a APIB.
Sua campanha será 100% contra os golpistas, sem nenhuma aliança com a velha direita. Nosso programa é de enfrentamento aos privilégios dos super ricos e poderosos. Defendemos a revisão das reformas de Temer, sobretaxar as grandes fortunas e o lucro exorbitante dos bancos e grandes empresas, acabar com as privatizações, garantindo que todo o petróleo será nosso com uma Petrobrás 100% estatal, entre outras propostas que realmente coloquem o “dedo na ferida” dos graves problemas que passamos em nosso país.
No dia 7 de outubro, voto útil é apoiar e construir uma nova alternativa de esquerda, que não se alie mais uma vez ao “andar de cima” e tenha compromisso realmente com o povo trabalhador, a juventude e o conjunto dos explorados e oprimidos.
Vamos, sem medo de mudar o Brasil.
Comentários