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Por que a candidatura Boulos/Guajajara pontua, até agora, somente 1% nas pesquisas eleitorais?

Valerio Arcary

Professor titular aposentado do IFSP. Doutor em História pela USP. Militante trotskista desde a Revolução dos Cravos. Autor de diversos livros, entre eles Ninguém disse que seria fácil (2022), pela editora Boitempo.

                                                                                                                  Com vinagre não se apanham moscas
Candeia que vai à frente alumia duas vezes
Muito alcança quem não se cansa 
Sabedoria popular portuguesa

Perguntam-me, com alguma frequência, por que a candidatura Boulos/Guajajara pontua somente 1% nas pesquisas eleitorais até agora? É uma boa pergunta. Não estou seguro da resposta. Ou hesito. Problemas complicados têm muitas determinações. Difícil de aferir o peso relativo de, pelo menos, quatro fatores principais. Primeiro de tudo, há o desconhecimento de Boulos e Sonia entre as massas. Nunca foram candidatos e, portanto, nunca tiveram exposição nas TV’s. A televisão chega a 97% dos lares brasileiros. 36% da população não tem sequer acesso à internet. Entre os mais pobres o uso da internet chega apenas a 35%., enquanto entre os mais ricos 95%. Além disso, a campanha se faz com recursos muito limitados, sem grana, mesmo nas redes. Depende, quase exclusivamente, da doação de tempo e cotização de militantes, sem condições de atingir, em escala nacional, uma grande dimensão.

Em segundo lugar, devemos ponderar que a ampla maioria do povo ainda não despertou sua atenção para o processo eleitoral. São muitas as razões para esta situação de desinteresse, ou até desalento com as eleições. Entre elas, a combinação de frustração e indignação; a decisão de restringir o tempo de campanha; a ausência de Lula, o candidato favorito, em função da prisão.

Em terceiro lugar, devemos considerar a enorme resiliência da influência de Lula nos setores organizados. A experiência com os governos liderados pelo PT foi interrompida e, portanto, com o tempo, em contraste com a deterioração das condições de vida, nos últimos dois anos, foi romantizada.

Por último, devemos que considerar que a situação defensiva diminui o espaço político para uma candidatura como a de Boulos, que ganhou projeção como o líder do MTST que organiza a ocupação de terrenos para lutar pelo direito de moradia, e se apresenta pelo PSol, um partido de esquerda radical.

Parece claro, todavia, que há uma audiência política importante. Não se deve medir uma campanha de esquerda somente em função das pesquisas que aferem intenções momentâneas de votos. A campanha tem conseguido colocar em movimento algo em torno de cinco mil militantes, e reuniu algumas dezenas de milhares de trabalhadores e jovens em eventos presenciais por todo o Brasil. Tem uma repercussão nas redes sociais, através da visibilidade construída, entre outros, pela Mídia Ninja, que envolve alguns bons milhões de pessoas, sobretudo, jovens. E deve crescer com a exposição nos debates nas TV’s e a repercussão dos comícios, que começam no sábado que vem em São Paulo no Largo da Batata. TV e rádio gratuita, só no final do mês.

Vamos crescer, porque a força das ideias e a honestidade dos compromissos vão abrir um caminho. Levantamos uma bandeira sem manchas. Só assim vale a pena lutar.

Foto: Reprodução Facebook

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