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BRASIL

O que podemos concluir das pesquisas eleitorais?

Por: Diogo Xavier, de Recife/PE

Em 1936, na eleição norte-americana, a revista Literary Digest enviou 10 milhões de cartas e recebeu 2,4 milhões de respostas numa pesquisa sobre quem seria o novo presidente do país. A vitória de Alfred Landon sobre Franklin Roosevelt na pesquisa era gritante. No entanto ao abrir as urnas Roosevelt se sagrou vencedor com 62% dos votos. A realidade mostrou que existe uma larga diferença entre pesquisa e uma enquete, sobretudo quando um candidato tem um público muito engajado.

Este exemplo histórico ajuda em muitos aspectos a entender qual a importância, a efetividade e os métodos pelo qual uma pesquisa deve ser feita e analisada em períodos eleitorais.

Método de Pesquisa
Para definir a como será feita a entrevista é necessário que se tenha um rigor em como será feita a entrevista. No Brasil os dois maiores institutos trabalham de maneiras distintas, mas com uma precisão alta. O Datafolha faz pesquisas nas ruas em cidades sorteadas para o levantamento enquanto que o Ibope faz as pesquisas nos domicílios. Essas duas formas dão uma precisão alta, entretanto alguns institutos de pesquisa fazem a entrevista pelo telefone, o que causa uma distorção pelo fato de 40% da população não ter telefone fixo.

Essas pesquisas tiram uma amostra do Brasil, são geralmente de 2.000 a 3.000 entrevistados, o que é um número pequeno diante de 136 milhões de eleitores, mas busca extrair de forma representativa o eleitorado através de cotas por sexo, idade, região, escolaridade, renda. Dessa forma se extrai uma medida de como vota cada faixa dessas no país e qual a quantidade de pessoas daquele grupo.

As pesquisas são, sobretudo uma imagem do eleitorado naquele momento, isso explica a queda de alguns candidatos em momentos decisivos e um elemento forte nas eleições brasileiras que é o “voto útil”. Grande parte da população prefere votar num candidato que tenha chances de ganhar e isso tira muitos votos de alguns postulantes que não tenham aparecido na pesquisa com chances de ir ao segundo turno daquele mesmo espectro ideológico.

A vitória de Trump e a descrença nas pesquisas
A eleição de Donald Trump em 2016 foi um impacto forte nas pesquisas eleitorais, pois a vitória de Hilary Clinton era dada como certa pela grande maioria dos meios de comunicação, mas é nesse ponto que entra a diferença entre pesquisa e análise. A imagem abaixo é muito utilizada para destacar que as pesquisas não servem pra nada.

No entanto a imagem mostrava a projeção dos analistas (que erraram de forma retumbante) sendo que a pesquisa apontava uma projeção perto do que aconteceu de fato nas eleições como mostra a imagem abaixo.A eleição norte- americana trouxe uma descrença generalizada por conta do erro dessas pesquisas, no entanto é preciso destacar dois pontos: 1- Hilary teve quase 3 milhões de votos a mais do que Donald Trump, essa distorção do sistema americano fez com que, mesmo sendo mais votada, a Democrata perdesse as eleições. Esse tipo de contagem não é aplicado na maioria das democracias pelo mundo. 2- O engajamento do eleitor Republicano foi crucial. O voto facultativo permite que numa eleição os eleitores mais engajados façam a diferença, justamente onde Trump tinha uma boa votação (principalmente no meio rural) o índice de comparecimento as urnas foi recorde, enquanto que nos jovens e pessoas de periferia, público cativo dos Democratas a abstenção foi grande.

Essa diferença de comparecimento nas urnas e convencimento de pessoas próximas foi decisiva nas eleições de 2016. O discurso do Republicano de ser um candidato anti- establishment e contra a mídia foi reforçado pela vitória nas urnas que gerou uma onda de

Redes Sociais e crescimento dos candidatos
O fenômeno do impacto das redes sociais e do uso da internet ainda está sendo analisado por ser recente e não ter tantas experiências históricas será importante meio de convencimento do voto pela quantidade e pela qualidade. Quando se pensa na quantidade os “robôs” surgem logo como a forma de ampliar candidatos, pois são perfis falsos responsáveis por compartilhar conteúdo dando uma visibilidade maior do que o que ela tem. As hashtags no twitter, que são uma forma de verificar o que está sendo destaque no mundo, geralmente são formas onde os robôs são utilizados pra aumentar o impacto e gerar mais visualizações naquele tema.

É comum ver em redes sociais “pesquisas” sobre em quem às pessoas votariam, o exemplo histórico do início do texto é perfeito pra exemplificar que essas pesquisas tem pouca relação com a realidade do Brasil, ainda mais nas redes onde a participação de determinado público interfere diretamente o resultado.

Neste ano a Copa do Mundo mostrou bem isso num caso inusitado, o Jornal Olé da Argentina lançou uma enquete no seu site para saber para quem os Hermanos iriam torcer depois da eliminação da albiceleste na Copa ao ser divulgada essa enquete milhares de brasileiros foram ao site e colocar que o Brasil seria a opção. A enquete chegou a registrar 83% de preferência para o Brasil. Óbvio que a pesquisa não refletia a real torcida dos argentinos e esse caso é flagrante pra entender que a participação nas redes está sujeita ao engajamento e não a real diversidade de posições na sociedade.

No Brasil existe ainda um dado muito importante de ser analisado, segundo a PNAD C (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) de 2016 do IBGE 36% da população não tem acesso à internet. A relevância das Redes Sociais será algo novo e impactante nas eleições desse ano, mas a quantidade de pessoas sem acesso a essas ferramentas ainda é muito grande.

A fonte maior de informação dessas pessoas é a televisão que chega a 97% dos lares brasileiros. Essa diferença da televisão para a internet tem também um aspecto social muito forte já que nas classes D e E o uso da internet chega apenas a 35% já na classe A é de 95%. Essa diferença por si só já distorce o que é sensível nas redes sociais.

O uso também tem disparidades fortes regionalmente, na Região Nordeste e Norte os índices são de 52,3% e 54,3% respectivamente o que destoa gravemente da Região Sul e Sudeste do país com 67,9% e 72,3% respectivamente. A disparidade entre regiões cria na internet uma realidade diferente do que é perceptível nas urnas, muitos desses são os chamados votos silenciosos, pois estão em regiões do Brasil longe de boa parte da comunicação, mas são em grande número e tem um peso eleitoral muito forte.

Por isso o uso da internet não deve ser superestimado ao ponto de achar que num país tão grande e com tantas desigualdades apenas o uso desta ferramenta pode eleger um candidato, por isso é necessário encontrar o conjunto de elementos que dão projeção aos candidatos e a potencialidade de fazer o apoio das redes virarem voto nas urnas.  A televisão continuará cumprindo um papel importante tanto no horário eleitoral quanto nas inserções durante a programação diária dos canais.

O que extrair de cada pesquisa?
Quando se observa uma pesquisa é importante verificar a sua fonte e tentar compreender os dados quantitativos e os qualitativos. Pesquisas longe da eleição mostram um número alto de indecisos, por exemplo, compreender que esse número tende a diminuir com a proximidade da votação e a maior procura do eleitorado médio pela escolha dos candidatos é fundamental pra não ter avaliações erradas do processo.

Nesse sentido é necessário compreender a diferença de voto espontâneo e voto estimulado. A pesquisa espontânea é quando ao for perguntado em quem vai votar o eleitor já responde de cara quem é seu candidato, já na pesquisa estimulada são apresentados os nomes dos candidatos. Na pesquisa espontânea é possível verificar uma intenção de voto consolidada em determinado candidato, já no estimulado (que é o que ocorre na prática) as variações são bem maiores a depender de desempenho em debates ou outros fatores.

Em pesquisas é necessário observar a distinção dos votos em faixas etárias e sociais, pois dessa forma se consegue extrair o perfil do eleitorado de determinado candidato. A rejeição também é possível destacar na mesma proporção visto que com a rejeição temos um percentual para onde aquele determinado candidato não cresce e isso ajuda a entender a projeção de votos.

Conclusões
Em períodos de campanha pesquisas eleitorais são usadas por quase todos os candidatos pra reafirmar suas posições ou mostrar aos eleitores que podem vencer o pleito, esta posição gera descrença em pesquisas. Obviamente estas podem ser fraudadas ou geridas de um jeito que determinado candidato tenha uma vantagem, entretanto é importante olhar pras pesquisas como um instrumento de aferir a intenção dos eleitores e saber quais as ações de candidatos vão mudando a orientação da população.

Através das pesquisas é possível ver quais os candidatos estão conseguindo alcançar o eleitorado e quais estão perdendo votos por seu discurso por isso as linhas do tempo dá dimensão do que das mudanças ao longo do período de campanha e quais atitudes mais impactam na população.

O voto nunca deve ser decidido por causa das pesquisas eleitorais já que o que vai pra urna é o desejo de ver alguém que representa suas ideias vencer o pleito, mas é notório que estas pesquisas mudam o voto de muitas pessoas no chamado voto útil. O STF já julgou constitucional a divulgação de pesquisas por ser de interesse público já que uma pesquisa nacional custa cerca de 300 mil reais e as campanhas grandes poderiam pagar pra ter acesso aos dados enquanto a população não saberia de nada até a abertura das urnas.

Todas as pesquisas têm que ser registradas no TRE em nível estadual e no TSE para as pesquisas nacionais, procurar pelos dados no órgão competente ajuda é fundamental para não cair nas famosas fake news.

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