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EDITORIAL

Por que o dia 28 de junho é Dia Internacional do Orgulho LGBT?

Editorial 28 de junho

Participantes da 19ª Parada do Orgulho LGBT na Avenida Paulista, São Paulo – SP, Brasil neste domingo 07 de junho. Foto: Leo Pinheiro / Fotos Públicas

Em 28 de junho de 1969, num bar chamado Stonewall, em Nova Iorque, aconteceu a chamada Revolta de Stonewall que deu origem ao Dia do Orgulho LGBT e à Parada do Orgulho LGBT. As LGBTs, cansadas de serem maltratadas e presas pela polícia por simplesmente serem quem são, gritaram “Poder Gay” e se rebelaram contra a polícia. Esse grito ecoou, derrubando diversas leis LGBTfóbicas ao redor do mundo. Precisamos resgatar essa história.

A Revolta de Stonewall
Naquela época, em Nova Iorque, existia uma lei que criminalizava a homossexualidade e outra que criminalizava pessoas que usassem roupas do outro sexo. O bar Stonewall era frequentado por muitas LGBTs. A polícia, como de praxe, separou os frequentadores do bar em três grupos: os homens, as mulheres e as “aberrações”. O último grupo era, justamente, das pessoas que estavam usando roupas “do outro sexo”.

Muitas das pessoas ali presentes acreditavam que o motivo da batida era porque a polícia não recebeu a propina, como costumava receber.

Aquela batida, entretanto, não ocorreu normalmente. O procedimento padrão era levar todas as pessoas vestidas como mulheres para o banheiro feminino, de forma que uma policial mulher pudesse verificar o “sexo” da pessoa. Entretanto, essas pessoas se recusaram a ir ao banheiro. Outros se recusavam a mostrar o documento de identidade.

Algumas pessoas foram se aglomerando do lado de fora. Os “suspeitos” liberados pela polícia também se aglomeraram ali. Alguns deles encenaram uma saudação exagerada à polícia, ao que a plateia aplaudia.

Conforme o camburão ia levando pessoas e voltando, várias horas se passaram. A plateia se tornou milhares de pessoas. Uma mulher relutava contra a polícia ao ser arrastada para o camburão e gritou à multidão aglomerada: “Por que vocês não fazem nada?” Foi aí que começou a revolta. Manifestantes gritavam “Poder Gay!” e erguiam os punhos, inspirados pelo grito de guerra dos Panteras Negras, “Poder Negro!”. Atiravam moedas nos policiais, dizendo: “Porcos, aqui está o seu dinheiro!”

Os policiais foram presos dentro do bar e os rebeldes tentavam botar fogo no bar. Algumas mulheres trans, como Marsha P. Jonhson, atiraram coquetéis molotov contra a polícia. A tropa de choque foi acionada para conter a multidão. Drag queens se alinharam para cantar e dançar uma paródia de uma pequena música bem conhecida nos EUA, levantando as saias:

Nós somos as garotas de Stonewall
Nossos cabelos são encaracolados
Nós não vestimos roupas íntimas
Nós mostramos nossos pelos pubianos
Nós vestimos nossas jardineiras
Acima dos nossos joelhos afeminados
A revolta durou várias horas e se repetiu nos dias seguintes.

Lutar vale a pena
Nos últimos anos, a luta LGBT rendeu muitos frutos. O direito à união estável homoafetiva, ao casamento civil igualitário, a transformação da Parada LGBT de São Paulo na maior Parada LGBT do mundo, o beijo entre Félix e Niko na novela das 21h da Globo e a aprovação, pelo STF, do direito da mudança em cartório do nome e do sexo no registro civil por autodeclaração.

Nada disso foi feito por “bondade” do sistema judiciário nem da Rede Globo, mas, pelo contrário, são resultado da pressão política e da opinião pública. O próprio crescimento das Paradas LGBTs no Brasil pressionou o judiciário a tomar providências, uma vez que o Congresso se nega a fazê-lo. Por outro lado, a novela “Amor à Vida” aconteceu alguns meses após a onda de manifestações Fora Feliciano, que varreram o país de Norte a Sul e colocaram a discussão sobre o preconceito contra homossexuais na boca do povo.

Além disso, todas as grandes conquistas do movimento LGBTs passaram por fora dos governos do PSDB e do PT. Foram vitórias da luta, pois infelizmente os governos Lula e Dilma praticamente abandonaram a questão para fecharem acordos com a bancada fundamentalista do Congresso Nacional.

Ao mesmo tempo, os fundamentalistas também atacaram e conseguiram, por exemplo, a retirada dos debates de gênero e sexualidade dos planos municipais, estaduais e federal de educação por todo o país, tendo como principal arma a falácia da “ideologia de gênero”. Esta falácia é uma elaboração teórica de setores fundamentalistas católicos, com participação do próprio Vaticano, e tem como objetivo “provar” que a existência das pessoas LGBTs é resultado de uma “ideologia de gênero” que supostamente estaria se disseminando na sociedade.

No Brasil em tempos de golpe, Jair Bolsonaro, uma figura pública neofascista, ganhou bastante audiência, principalmente entre os militantes do MBL, que atuaram nas manifestações pelo impeachment da Dilma. Importante lembrar que em várias dessas manifestações ocorreram agressões contra militantes de esquerda e LGBTs. Surgiram também grupos de neofascistas que promovem o ódio às LGBTs, às feministas, aos militantes do movimento negro e dos movimentos sociais.

A realidade é difícil. Mas o movimento LGBT, impulsionado pelas pessoas mais oprimidas e exploradas deste sistema, já ultrapassou grandes barreiras. A história mostra que o movimento LGBT, quando é impulsionado por membros da classe trabalhadora e do povo pobre, é um movimento combativo e capaz.

Por isso, no Dia Internacional do Orgulho LGBT, as LGBTs precisam botar a cara no sol e na luta, em aliança com outros movimentos sociais e sindicais, em defesa da derrubada de Temer e suas reformas, contra a bancada fundamentalista do Congresso, reivindicando medidas efetivas do governo no combate à violência LGBT e na educação contra o preconceito.

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lgbt / opressões