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Mike Pence, vice-presidente dos EUA, encontra-se com Temer no Brasil

Por: David Cavalcante de Recife/PE
Temer e Mike Pence. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Temer e Mike Pence. Foto: José Cruz/Agência Brasil

O encontro de Mike Pence e de Temer no Brasil teve como pauta pública a situação das 50 crianças brasileiras separadas de seus pais pela imigração norte-americana e a suspensão da Venezuela na OEA. Pela conturbada situação brasileira, com certeza houve outros acordos foram discutidos, mas sem dúvidas, esses dois temas são bastante sensíveis.

Nas duas últimas semanas, apesar das principais manchetes da grande mídia mundial estarem voltadas para a Copa do Mundo, uma notícia chocou todo o planeta: a prisão de crianças detidas em jaulas animalescas no território norte-americano. Até mesmo analistas e jornalistas de grandes empresas de comunicação se emocionaram com a brutalidade da política anti-imigrantes do governo de Donald Trump, a exemplo de Rachel Maddow, a jornalista âncora da rede americana MSNBC, que chorou de forma descontrolada ao vivo, ao ler a notícia sobre as crianças separadas dos pais nos EUA.

Os registros são de que mais de 2.500 crianças foram arbitrariamente separadas dos seus pais, desesperados imigrantes latinos a maioria mexicanos e centro-americanos, que tentavam ultrapassar a fronteira do México com os Estados Unidos, em busca de uma última alternativa de sobrevivência e foram presos e encarcerados pela polícia norte-americana. As fotos de crianças tristes e enjauladas, separadas de seus pais e até mesmo dos seus brinquedos, são terrivelmente grotescas e lembram de fato as notícias do Terceiro Reich do regime nazista da Alemanha de Hitler.

A lei norte-americana estabelece que qualquer imigrante que seja detido sem visto de entrada nos EUA seja imediatamente preso e tenha iniciado um processo penal federal. Tal norma já existia no governo de Obama. Ocorre que os imigrantes respondiam judicialmente em liberdade, mas com a “política de tolerância zero” de Trump, os imigrantes, até mesmo acompanhados dos seus filhos passaram a responder o processo, já presos, enquanto as crianças estavam sendo confinadas nas jaulas, chamadas de “abrigos”.

A repercussão negativa com as imagens das crianças em todo mundo e internamente foram tão pesadas que o governo recuou provisoriamente diante do escândalo. Mas não nos enganemos, a linha política do governo Trump e seu vice Mike Pence são baseadas na explícita xenofobia contra os povos latino-americanos e países de maioria muçulmana. Basta lembrar que faz parte do plano desse governo a construção de um muro de concreto que separe definitivamente a fronteira com o México, país cuja economia os EUA ajudaram a arrasar com o seu Tratado de Livre Comércio da América do Norte, o NAFTA. Bem como o Decreto Presidencial de restrição de ingresso de cidadãos de nacionalidades do Irã, Líbia, Iêmen, Somália, Síria, Venezuela e Coreia do Norte, anteriormente totalmente repudiado pelos protestos massivos nos aeroportos e agora legalizado pela Suprema Corte.

No caso das crianças brasileiras Pence sinalizou facilidades de transferência, mas nada concreto com relação aos pais, ocorre que seu objetivo de viagem era enquadrar o Brasil num maior cerco diplomático e político para a futura suspensão definitiva da Venezuela da OEA, na mesma linha que já fora adotada no Mercosul.

EUA quer fechar o cerco à Venezuela e quer apoio do Brasil
Estranhamente, ao passo que aprisionam os pais, as mães e suas crianças imigrantes latino-americanos em seu território, o governo Trump/Pence se declaram “solidários” com os imigrantes venezuelanos no Brasil. Por que será que Mike Pence veio ao Brasil para promover missões “humanitárias”?

Na Venezuela, Maduro conseguiu derrotar a ofensiva da direita, instalando a Assembleia Constituinte. A Frente Patriótica (aliança eleitoral do PSUV com outros setores da esquerda como o PCV, PPT, além de outros), conseguiu venceu com larga margem as eleições estaduais (outubro/2017), as municipais (dezembro/17) e, mais recentemente, as presidenciais (maio/18).

Embora na Venezuela, o governo mantenha o apoio majoritário na sociedade e principalmente nos setores mais populares, o cerco imperialista ao país é cada vez maior. A retomada dos preços do petróleo poderia dar um novo fôlego à economia daquele país que vem sendo castigado por uma queda decenal vertiginosa do preço do barril, mas o imperialismo amplia cada vez mais as sanções econômicas buscando aprofundar a crise social que se reflete no aumento da imigração, e já não descarta abertamente a hipótese de intervenção externa.

A constituição do chamado Grupo de Lima, em agosto de 2017, diante das dificuldades da OEA para aplicar a chamada Carta Democrática devido ao grande número de países, principalmente do Caribe, vai nesse sentido. Importante alertar que, em 2018, a situação se agravou ainda mais, já que em 25 de junho, a OEA conseguiu finalmente aprovar o pedido para invocar a Carta Democrática contra a Venezuela. Resta agora realizar uma assembleia para suspendê-la do organismo deixando-a completamente isolada cujas consequências se percebe desde já com o desabastecimento promovido por grandes importadoras de bens de consumo populares.

Por outro lado, esse fato se dá logo em seguida à entrada da Colômbia na OTAN, em maio de 2018. Neste ano também, no início de junho, ocorreram negociações entre os EUA e o Brasil visando retomarem a utilização da plataforma de lançamento de foguetes da base de Alcântara (MA). Coincidentemente, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, veio ao Brasil para tratar com Temer a questão da suspensão da Venezuela na OEA. Estará ele mesmo preocupado com a situação humanitária dos venezuelanos? Sinceramente, pensamos que não.

Foto: Temer e Mike Pence. José Cruz/Agência Brasil

 

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