Convocada pela Central Geral dos Trabalhadores (CGT), sindicatos e outras centrais sindicais, partidos de esquerda e movimentos sociais, os trabalhadores argentinos realizaram uma poderosa paralisação nacional nesta segunda-feira (25/06).
As ruas das principais cidades do país permaneceram praticamente vazias. Na capital, Buenos Aires, a paralisação dos trabalhadores foi enorme. Com diferentes níveis de adesão de categoria para categoria, de região para região, motoristas de ônibus, caminhoneiros, metroviários, ferroviários, professores, bancários, operários, profissionais da saúde, de portos e aeroportos e até frentistas de postos de gasolina enfrentaram a repressão policial e cruzaram os braços em protesto contra os projetos de Maurício Macri, presidente da Argentina, e vários governadores das províncias (estados).
As mulheres do tsunami verde na luta pela legalização do direito ao aborto se fizeram presente na luta e foram destaque em Buenos Aires. Com seus lenços verdes protagonizaram piquetes nas ruas e diversos locais de trabalho. Foi uma forma exemplar de unir a luta das mulheres com a dos demais trabalhadores.
A greve geral foi incendiada pelo reajuste salarial abaixo da inflação oficial em muitas categorias e pelo rechaço ao acordo do governo federal argentino com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Para conceder o empréstimo, o FMI exigiu um plano privatizações, interrupção de obras públicas e ajuste fiscal duríssimo. O plano de Macri e seus aliados significa investir menos em saúde, educação, moradia e infra-estrutura para financiar os especuladores internacionais. Um projeto de país que lembra o de Temer aqui no Brasil.
Mas a motivação da classe trabalhadora argentina tem como pano de fundo a enorme crise social que atravessa o país. O desemprego chegou a 9,1% no primeiro trimestre deste ano, contra 7,2% no último trimestre de 2017, por exemplo.
Forte resistência e reorganização
Apesar de estarem na defensiva, os trabalhadores argentinos não estão derrotados e têm protagonizado fortes lutas de resistência. A potente greve geral mostra a possibilidade de derrotar Macri e os planos de saque do país impostos pelo FMI. Embora a CGT e as grandes centrais tenham planejado uma greve geral passiva, sem protestos de rua, comícios e passeatas, o sindicalismo combativo argentino surpreendeu.
Através da construção da Plenária Nacional do Sindicalismo Combativo, ocorrido no Estádio Coberto do Lanús no dia 23, dois dias antes da greve geral, organizações políticas da esquerda marxista radical, como o Partido Obrero, Izquierda Socialista, Movimiento Socialista de los Trabajadores e o Nuevo Mas, realizaram uma importante unidade para influenciar os rumos da greve geral e da luta contra as medidas do governo. Foram decisivos em muitos piquetes e cumpriram um importante papel para em alguns lugares transformar a greve geral num dia ativo de luta.
Próximos passos
É dever das grandes centrais sindicais como a CGT e a CTA e os movimentos e partidos políticos, sobretudo o peronismo, organizar desde já um plano de lutas para enfrentar Macri e o FMI. A luta deve seguir com uma nova greve geral organizada desde os locais de trabalho e estudo. O Plenário Nacional do Sindicalismo Combativo convoca um novo dia de lutas e paralizações no dia 12 de julho.
A greve geral mostra a força da classe trabalhadora: quando decide cruzar os braços e ir à luta para a sociedade. Sem professor, a escola não funciona. Sem operário, a fábrica não produz. Sem metroviário o metrô não circula. Se no futebol da Copa do Mundo não há o que seguir, a luta dos argentinos é fonte de inspiração para a esquerda e aos movimentos sociais no Brasil.
Foto: Marcha em Buenos Aires. Reprodução Infobae
Comentários