Enquanto Lula segue preso, Aécio e Temer tramam livremente


Publicado em: 26 de junho de 2018

Editorial

Editorial de 26 de junho de 2018

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Editorial

Editorial de 26 de junho de 2018

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Compartilhe:

Ouça agora a Notícia:

Aécio Neves, Michel Temer e Rodrigo Maia se reuniram para conspirar na noite de quinta-feira (21). Na pauta do jantar: planos para as eleições presidenciais.

No dia seguinte, Luis Inácio Lula da Silva teve seu pedido de liberdade arquivado pelo ministro do STF Luiz Edson Fachin.

O contraste gritante entre as duas imagens – de um lado, uma prisão sem provas para tirar das eleições o candidato favorito e, do outro, a plena liberdade aos que foram pegos em incontestáveis atos criminosos – reforça, de forma límpida e cristalina, o caráter politicamente seletivo da Operação Lava Jato.

O julgamento do recurso da defesa de Lula estava marcado para esta terça (26). Com o arquivamento, o pedido já foi tirado da pauta de julgamentos da Segunda Turma do STF. Fachin tomou a decisão após o Tribunal Regional Federal da Quarta Região (TRF-4) enviar o recurso de Lula para o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), e não para o STF. Desta forma, segundo o ministro, o pedido de liberdade ficou “prejudicado”.  Na segunda (25), perante uma nova petição da defesa, Fachin decidiu enviar o recurso de Lula ao plenário do STF, onde votam todos os ministros. O caso deve ser pautado somente em agosto, após o recesso de julho.

Em nota, o advogado do petista, Cristiano Zanin, afirmou que “estranha que o TRF4 tenha analisado a admissibilidade do recurso extraordinário às vésperas do julgamento marcado pela presidência da 2a Turma do STF para analisar o pedido de liberdade do ex-presidente.”

Uma eleição manchada
O controle do sistema político-eleitoral pelos grandes empresários e banqueiros é avassalador. Seja por meio do financiamento de campanhas (caixa 1 e 2), seja pelo sofisticado e milionário lobby empresarial instalado em Brasília, os distintos setores da classe dominante tem em suas mãos o Congresso e o Governo.

Esse domínio implacável se concretiza tanto pela via direta (eleição de empresários, banqueiros e latifundiários) como pela presença de representantes muito bem pagos pelo grande capital em ministérios e em centenas de mandatos de deputados e senadores. O artifício da corrupção é meio facilitador dessa relação incestuosa entre o público e o privado. Basta conferir, por exemplo, a perniciosa influência exercida pela bancada da Bala, do Boi e da Bíblia no Congresso.

O caráter antidemocrático e corrupto do regime não vem de hoje. Todos os governos se submeteram a esse modelo, inclusive os do PT. Com o golpe parlamentar, porém, a novidade reside no fato de que agora há em curso a supressão de importantes garantias democráticas que permitiam algum espaço – ainda que restrito, ocasional e deformado – de manifestação da vontade popular.

A prisão política de Lula, que completa hoje 80 dias, demonstra que a burguesia, entendendo como insuficientes os mecanismos usais de controle do sistema, está disposta a usar a força para fazer valer seus planos. Como quer eleger um presidente “puro sangue”, inteiramente comprometido com a  continuidade, aceleração e aprofundamento das contra-reformas, está excluindo autoritariamente da disputa o ex-presidente.

Aproveitar o Festival Lula Livre para construir a mais ampla unidade para resistir
Chico Buarque e Martinho da Vila anunciaram o Festival Lula Livre para 28 de julho, nos Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro. Ao lado de inúmeros outros intelectuais e músicos, os dois artistas pretendem denunciar a arbitrariedade da prisão de Lula e defender liberdades democráticas.

Corretamente, o manifesto do festival afirma que: “Entendemos ser direito invulnerável dos 146 milhões de eleitores poderem optar inclusive por não votar nele (Lula).”

Em sintonia com o manifesto, acreditamos que todas as forças democráticas e de esquerda devem se somar à convocação do festival, sem que isso signifique qualquer tipo de apoio ao projeto político de Lula e do PT. Afinal, o que está em jogo são as liberdades democráticas que, embora limitadas e pouco efetivadas, foram conquistadas pela classe trabalhadora e pelo povo em luta.

O crescimento dos traços autoritários no regime político é preocupante. Apenas nos últimos meses, houve as execuções políticas de Marielle e de jovens do movimento Hip Hop em Maricá, tiros e violência contra a caravana do Lula, aumento da violência no campo, intervenção militar no Rio produzindo mortes de crianças, o crescimento político da extrema-direita e o  fortalecimento das organizações neofascistas e do poder judiciário.

Por tudo isso, é necessário jogar todas as fichas das organizações de esquerda, dos sindicatos e dos movimentos sociais na construção da mais ampla unidade de ação com o objetivo de ampliar a resistência e a mobilização contra o avanço do golpe.

Nesse sentido, além do festival, consideramos que é preciso outras iniciativas de resistência, especialmente aquelas vinculadas às mobilizações de rua. Para tanto, é necessário juntar as bandeiras econômico-sociais (as lutas por emprego, salário e direitos) com as demandas democráticas (justiça para Marielle e Anderson, liberdade para Lula). O conjunto dos movimentos sociais, dos sindicatos, centrais e da esquerda deveria abraçar um pauta comum para a luta conjunta. Porém, infelizmente, a começar pela direção do PT e da CUT, pouco está se fazendo demobilização efetiva – a única preocupação parece ser as eleições. A luta social unificada, nas ruas, é a chave principal para reverter o cenário sombrio que vivemos hoje. Ainda há tempo.

Nas lutas e nas eleições, construir o novo
O engajamento na luta pela liberdade de Lula não apaga, em nossa opinião, as críticas políticas ao PT e ao ex-presidente. Longe de ter tirado as lições do golpe parlamentar, a direção petista insiste em manter a mesma estratégia que abriu as portas para o impeachment de Dilma.

Alianças do PT com o MDB, DEM, PSD, entre outras siglas da direita estão sendo costuradas em inúmeros estados, como Minas Gerais, Alagoas, e Ceará.

Do ponto de vista do programa para o Brasil, tampouco há qualquer alteração significativa. A cúpula petista simplesmente desconsidera que foi a própria burguesia que rompeu com o pacto de conciliação que prevaleceu ao longo dos governos Lula e Dilma – período em que foi possível,  num contexto de forte crescimento econômico, ampliar os lucros dos grandes empresários e ao mesmo tempo promover políticas sociais compensatórias. O cenário atual é completamente distinto. Não há nenhuma viabilidade para o projeto conciliatório do lulismo nas atuais circunstâncias históricas de brutal ofensiva reacionária contra os direitos sociais e democráticos.

Esse é um dos motivos que torna a construção de uma nova alternativa de esquerda ainda mais urgente e necessária. A candidatura de Guilherme Boulos e Sônia Guajajara, lançada por uma aliança entre o PSOL, PCB, MTST e outros movimento sociais, coloca a tarefa de reinventar a esquerda em tempo de golpe.

E essa aposta levanta um programa de enfrentamento com privilégios dos ricos e poderosos – começando pela revogação da reforma trabalhista, da lei da terceirização, dos leilões do pré-sal, da PEC do Teto etc. – e de ruptura com o modelo de governabilidade desse sistema político falido.

A sustentação de um governo de esquerda deve vir das ruas, com o povo organizado e engajado, e não de negociatas com o que há de pior no Congresso. Essa é uma lição do golpe que está mais viva do que nunca.

Foto: Vigília em frente à Polícia Federal, em Curitiba (PR), onde Lula está preso há 80 dias.  Ricardo Stuckert


Compartilhe:

Contribua com a Esquerda Online

Faça a sua contribuição