Ontem, na escola, fiquei acompanhando alunos que brigaram entre si. Um deles estava chorando, dizendo que o outro tinha ameaçado de “pegar ele na saída”. Na hora, eu e outro professor chamamos os alunos e a direção para conversar com todos, saber o que estava acontecendo e tentar resolver o problema.
Esse é só um exemplo de inúmeros outros do cotidiano escolar. Nos preocupamos com cada criança e adolescente que está em “nossas mãos”, dentro dos muros da escola.
Eles choram, se machucam, brigam, desabafam, fazem perguntas e estamos ali pra ajudá-los, às vezes pra dar bronca, mas quase sempre é aquele incentivo, aquele consolo, aquela força.
Num bairro de periferia, numa zona de conflito, todo aluno sabe que andar com o uniforme é uma segurança para ele. Nós ensinamos isso para os alunos. Dizemos: “vocês precisam vir de uniforme todos os dias, é para a segurança de vocês”. Marcus Vinicius, 14 anos, sabia disso e foi por isso que ele não entendeu por que atiraram nele, mesmo estando com a camisa da escola. “Eles não viram que eu estava com a roupa da escola, mãe?”, indagou antes de morrer.
O uniforme escolar não deveria servir para isso, porque todos deveriam ser respeitados e não temer andar na rua e ser abordados com brutalidade por policiais. Porém, como a realidade na periferia é essa, crianças e adolescentes aprendem rápido que o uniforme é fundamental para terem o mínimo de segurança ao andarem pelo bairro voltando para casa.
É indignante saber que o cuidado que os professores têm com os alunos dentro da escola foi tripudiado pelo blindado que atirou em Marcus, um garoto de uniforme e de mochila.
Policial despreparado? Infelizmente, não. Policiais estão preparados para agirem como algozes da população. Militares dentro de blindados não se preocupam com rostos, com gente, com crianças. O caveirão vem pra trazer a morte.
O governo do Rio vem gastando muito dinheiro com a intervenção militar, ao mesmo tempo em que corta verbas da educação. Enquanto a chamada “guerra às drogas” for prioridade em relação à educação, nem mesmo uniformes escolares serão escudo contra a violência policial.
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