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BRASIL

O que a cúpula das Forças Armadas quer para o Brasil?

Por: Evandro J. Castagna, de Curitiba/PR
Michel Temer com ministros militares. Foto: Antonio Cruz / Ag. Brasil

Michel Temer com ministros militares. Foto: Antonio Cruz / Ag. Brasil

Muitos brasileiros e brasileiras saíram às ruas durante a greve dos caminhoneiros indignados com a situação do país. Muitos inclusive, desesperançados com a política apontaram para uma saída autoritária através de intervenção militar. Este texto visa dialogar com estas pessoas com objetivo de alertar para o perigo que isso significa.

Qual é a proposta da cúpula dos militares para os trabalhadores, os praças e a classe média?
Seriam os militares favoráveis a revogação das medidas antissociais de Michel Temer ou contrários à reforma trabalhista que rasgou a CLT, à Lei das Terceirizações que fragiliza as relações de trabalho, à PEC do Teto de Gastos, que congela os investimentos em saúde, educação e segurança por 20 anos? Defenderiam uma reforma tributária que desonere consumo e taxe as grandes fortunas, os lucros dos bancos e multinacionais? Defenderiam, na Previdência, mudanças que ataquem seus próprios privilégios, do Judiciário, do Congresso Nacional e que cobrem a dívida das megaempresas e bancos?

A resposta é não. Nem mesmo querem derrubar o impopular Temer. A cúpula das Forças Armadas, pelo menos sua imensa maioria, foi nomeada e está alinhada à política dos golpistas. Eles assistem de camarote aos ataques às liberdades democráticas, aos direitos sociais e a entrega das empresas estatais, principalmente a Petrobrás, às multinacionais estadunidenses. Têm acordo inclusive com o pagamento dos juros absurdos da dívida pública. Nem mesmo, portanto, podemos caracterizá-los como nacionalistas.

Ano passado, a cúpula das forças armadas atendeu prontamente o chamado de Michel Temer durante o protesto de 24 de abril em Brasília contra a reforma da Previdência que praticamente acabaria com as aposentadorias. Por pouco não houve um banho de sangue muito pior do que toda violência que ocorreu contra os trabalhadores.

Foram soldados comandados por esta mesma cúpula que ocuparam as refinarias da Petrobrás para impedir a greve dos petroleiros que lutavam em apoio aos caminhoneiros, contra a privatização das refinarias, a política de preços abusivos dos combustíveis e gás de cozinha e a entrega da Petrobrás à Shell, BP e Chevron. A cúpula das forças armadas faz vistas grossas a política desastrosa de Michel Temer que exporta petróleo bruto para os EUA, importa gasolina refinada e acaba com as refinarias de nosso país.

Direitos sociais e democráticos nos quartéis
Esta mesma cúpula mantém os praças e patentes intermediárias sob um regime interno autoritário. A ditadura nunca acabou nos quartéis, lá os soldados são considerados como “corpos sem cabeça”, apenas cumprem ordens. É na cúpula das Forças Armadas, por exemplo, que se encontra a maior resistência à PEC 51 (engavetada no Congresso) que busca humanizar as relações de trabalho na polícia, garantindo direitos sociais e democráticos aos praças e melhorando suas condições de trabalho.

É o regime autoritário dos quartéis que foi transferido a toda sociedade brasileira nos anos de chumbo, basta lembrar que os desaparecimentos de lideranças sociais, torturas e assassinatos foram uma constante durante a ditadura militar. Naquele período as organizações dos trabalhadores sofreram intervenção direta, eleições sindicais foram proibidas, sindicatos deixaram de existir, lutas e greves criminalizadas. Não à toa os soldados ainda não têm direitos sindicais.

Essa cúpula das Forças Armadas é representada em parte pelo coronel Mourão, pelo candidato neofascista, racista, machista, homofóbico e xenofóbico Jair Bolsonaro e por setores da bancada fundamentalista religiosa, que se utilizam da enganação e do charlatanismo religioso para explorarem a fé das pessoas. A ditadura nunca acabou nos quartéis, e se depender da família Bolsonaro, se estenderá por todo o país.

São estes setores da extrema-direita que defendem um modelo de segurança pública baseado no confronto com os pobres das periferias, na criminalização da pobreza, que tem como saldo a polícia que mais mata e mais morre no mundo.

O povo é que precisa tomar a política: plebiscitos e referendos
É verdade que precisamos diminuir o poder dos políticos, muitos deles sabemos que se elegem financiados pelas mesmas multinacionais e bancos que apoiam as medidas antissociais dos golpistas. Não podemos admitir essa meia-democracia do Brasil na qual o povo só tem direito de apertar um botão de quatro em quatro anos. Os mandatos não podem significar um “cheque em branco” para os políticos.

Para construir um país mais justo não poderemos abdicar do apoio dos setores democráticos das forças armadas, mas não será com esta cúpula que assiste de camarote crimes de lesa pátria, como a privatização da Petrobrás, nomeada por Temer e os golpistas, ou com Bolsonaro e os “vendilhões do templo”, que avançaremos nesta pauta.

Precisamos democratizar o poder através da participação direta do povo nas principais decisões políticas do país através de plebiscitos e referendos. O povo precisa decidir sobre as leis trabalhistas, a Previdência social, os investimentos públicos, se quer ou não revogar os projetos aprovados por Temer e o congresso de maioria golpista e corrupta.Os praças precisam ter o direito a todos os direitos civis.

Para isso, é fundamental a unidade entre trabalhadores do campo e da cidade, pequenos agricultores, micro e pequeno empresários, setores democráticos das forças armadas e organizações religiosas, numa grande frente por direitos, participação popular e soberania.

Foto: Michel Temer com ministros militares. Antonio Cruz / Agência Brasil