Unir as lutas contra as privatizações e a ameaça de intervenção

Por Liliane Cirino Vieira, de Uberlândia, MG

Paralisação na refinaria de Capuava 28.05.18 Fotos Roberto Parizotti

Nos últimos dias, vimos a grande greve dos caminhoneiros, que não suportam mais os aumentos dos combustíveis. É imensamente importante que a gente reflita, em primeiro lugar, que a ausência da esquerda nesse setor permitiu que a categoria fosse sequestrada pela direita que teve grande atuação no golpe da presidente Dilma Rousseff. Entretanto, não adianta apenas ficar chorando as mágoas e culpando a categoria. É preciso saber agir. A esquerda não pode deixar uma categoria tão estratégica nas mãos da direita.

A CUT simplesmente decretou essa categoria como inimiga. Contudo, é preciso refletir melhor sobre esse risco. Ao invés disso, está passando da hora de pensar numa forma de fazermos trabalho de base e sindical nessa categoria. Se ela fosse tão difícil de organizar, como conseguiram através da CNTA? Eles pararam o país praticamente inteiro. Percebemos, com isso, que juntando aos demais setores daria para fazermos uma greve geral com as nossas pautas.

A questão é como agir diante do sequestro da categoria pelos sindicatos patronais e de direita. A ausência da esquerda abre espaço para que os caminhoneiros pensem que só existe o caminho da intervenção. Juntando isso à guinada da direita, os discursos da intervenção prevalecem entre a população, que começam a ver com simpatia a chegada dos militares que trazem o combustível aos postos de gasolina.

Todavia, não podemos esquecer que, se não fosse a política de privatizações de Michel Temer, Pedro Parente e toda a corja da direita golpista, não estaríamos passando por essa inflação nos combustíveis. É fundamental lembramos também que não podemos culpar a greve pela inflação e falta de alimentos.

Precisamos mostrar que existe outro caminho. O caminho da unidade da classe trabalhadora para derrotar esses ataques do governo.

Não podemos negar que a crise existe e que a inflação está galopante. Não devemos defender o governo de Temer por causa de uma ameaça de golpe. Muito menos implantar o medo, o desespero e a paranoia entre os trabalhadores, como o PT está fazendo, porque isso não resolve nada e imobiliza a classe.

Sabemos, contudo, que não adianta ser inimigo da classe trabalhadora. É preciso pensar numa forma de conscientizá-los sobre a sua situação de classe, e mostrar que os governos da direita reacionária (governos militares) não estão do lado deles, mas, ao contrário, é preciso contar para eles como foi o período da ditadura militar no Brasil.

Precisamos mostrar que, na ditadura, os trabalhadores passavam de fome, os salários eram baixíssimos, a inflação chegava a 240%, os pobres quase não tinham acesso a escolas, faculdades e médicos, e que houve muita corrupção. Porém, os trabalhadores não podiam reclamar, pois corriam o risco de serem demitidos, torturados e até mortos.

Contar a eles que, diferente do que alguns dizem, a ditadura não trouxe segurança, pois muito pelo contrário trouxe a insegurança e o medo. Porém, como o governo não permitia que a mídia mostrasse os podres da ditadura, muitos não ficavam sabendo dos crimes que aconteciam, passando uma falsa imagem de segurança. A ditadura trouxe fome e miséria para os trabalhadores.

Muitos não ouvirão. Mas teremos a consciência de que fizemos algo. Sabemos que a proibição das greves é um ataque contra os nossos direitos. É importante lembrarmos que a ditadura foi derrotada com greves e grandes mobilizações. Portanto, não dá para ficarmos parados vendo o que acontece. Precisamos lutar contra a alta dos preços e a inflação, mostrando que a culpa desse aumento é do governo com suas privatizações, e, por isso, é fundamental unificar as lutas dos petroleiros, metroviários e eletricitários e politizar a discussão entre os caminhoneiros.

Foto: Roberto Parizotti