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BRASIL

Temer manda exército reprimir caminhoneiros. Greve cresce e precisa de solidariedade

Da redação

Nesta sexta-feira, 25, Michel Temer anunciou em rede nacional que irá colocar o exército para reprimir a greve dos caminhoneiros. Com isso, tropas podem começar a agir ainda hoje, liberando os bloqueios nas estradas. Dirigentes dos caminhoneiros já anunciaram que irão resistir e não aceitarão a repressão ao movimento. Ao mesmo tempo, petroleiros e diversos movimentos sociais já se pronunciaram contra a repressão e articulam ações de solidariedade, como um ato hoje, às 19h, na capital paulista.

A escalada repressiva do governo acontece um dia após uma negociação fracassada, feita apenas com um setor do movimento e que na verdade atenderia aos interesses dos empresários do setor, que pegaram carona no movimento. A resposta veio logo depois. Em um vídeo que circulou rapidamente em grupos de todo o País, caminhoneiros autônomos passaram por cima, denunciaram a manobra e anunciaram a continuidade da greve.

No dia de hoje, o movimento se ampliou. Dos 402 bloqueios de estrada no final da manhã de quinta, o País contabilizou 521 pontos bloqueados, sendo 73 apenas no Paraná, estado onde o governo estadual já anunciou que não irá implementar a ordem de repressão emitida por Michel Temer. Nas cidades, a greve se estendeu a outros setores afetados pela alta dos combustíveis, como motoristas de transporte alternativo e portuários. A “minoria radical”, como Temer chamou os grevistas em seu pronunciamento, não para de crescer.

Sem caminhão, o Brasil de fato parou: os postos ficaram sem combustível em menos de 48 horas, já há falta de alimentos nos supermercados e ágio, ônibus circulam com menos da metade da frota e, no Rio de Janeiro, até serviços como o BRT foram atingidos. Em várias cidades, incluindo São Paulo, a coleta de lixo começa a ser afetada.

Mesmo com todo esse impacto direto na vida da população, o apoio à greve permanece alto. A maioria das pessoas considera legítima a reivindicação de redução dos preços dos combustíveis, porque também sofre com os preços nos postos ou no valor das passagens. Mesmo quem estava nas filas nos postos, apoiou o movimento.

Entidades como a Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás) e o Sindipetro do Litoral Paulista consideram que a crise dos últimos dias é resultado da política de preços adotada pela Petrobrás. Desde o golpe parlamentar, a empresa tem aumentado o preço, acompanhando a variação internacional. Com isso, a Petrobras se valorizou, os acionistas lucram, mas quem segura a conta é a população, que paga R$ 5 no litro da gasolina e também paga em todos os produtos que consome e que dependem de transporte. O mesmo ocorre com outros produtos, como o gás de cozinha.

Junto com essa mudança nos preços, a direção da empresa, presidida por Pedro Parente, prepara a privatização. Tem reduzido a produção no Brasil, incentivando a importação. Com isso, várias refinarias estão paradas. E a Petrobras quer vender quatro refinarias, junto com o pré-sal, para as multinacionais.

A resposta anunciada pelo governo e pelo Congresso Nacional não resolve. Reduzir os impostos, zerando a alíquota do PIS-Cofins, apenas alivia temporariamente o peso dos preços, que voltarão a subir. A única solução é mudar a política de preços praticada pela Petrobrás, deixando de seguir os preços de mercado e voltando-se para as necessidades da população, que já sofre com o desemprego e a crise social nas grandes cidades.

Além disso, o acordo que desonera os impostos terá impacto direto na Seguridade Social, no seguro-desemprego, ou seja, o governo subsidia o transporte, mas transfere para o conjunto da população, em especial os mais necessitados, enquanto preserva os lucros das multinacionais do petróleo e dos grandes acionistas da Petrobrás.

O mesmo caminho tem sido anunciado por governos, como o do Rio de Janeiro, que anunciou redução no ICMS de 4%. Isso em um estado que continua sem pagar os salários em dia do funcionalismo.

Essas medidas não resolvem o problema. Basta lembrar do acordo anunciado por governadores e prefeitos em junho de 2013, quando reduziram os impostos, para que as empresas de ônibus não aumentassem os preços das passagens. Seis anos depois, a população continua andando a pé nas grandes cidades, por conta dos altos preços.

Unificar as lutas
A greve dos caminhoneiros mostrou o impacto das medidas adotadas pelo governo Temer, desde o golpe parlamentar, com o desmonte do País, retirada de direitos, entrega de riquezas e privatização. Neste momento, é necessário a ampla solidariedade à greve, ameaçada pela repressão do Exército, o mesmo que ocupa as comunidades e o povo negro no Rio de Janeiro. Não é possível assistir a ação das Forças Armadas contra uma greve de trabalhadores. Trata-se de um grande ataque às liberdades democráticas, por militares que cada vez mais têm ingerência sobre a vida política do País.

A luta dos caminhoneiros deve ser abraçada por todos. Como tem sido feito pelos petroleiros que, nos últimos dias, percorreram os locais de greve e fizeram atos nas refinarias. Não devemos ter dúvidas sobre a necessidade da solidariedade, mesmo sabendo que grupos de direita e de inspiração neofascista atuam de forma organizada para disputar a condução do movimento e a base dos caminhoneiros. Os mesmos que defendem a volta da ditadura terão que explicar aos caminhoneiros o uso do exército contra a greve.

A solidariedade deve se unir à luta contra a privatização da Petrobrás e de todas as estatais ameaçadas, como a Eletrobrás e os Correios, e a venda da Embraer. Por isso, é preciso unificar estas categorias com a luta contra a alta dos preços dos combustíveis, tendo como referência a greve nacional petroleira, marcada para 28 a 30 de maio.

A vitória na greve dos metalúrgicos das Mercedes-Bens e em tantas outras lutas que ocorrem no momento no País, como a do funcionalismo, da educação, da construção civil de Fortaleza e dos metroviários de Belo Horizonte, mostram que é necessário e possível termos um grande Dia Nacional de Luta, em apoio aos caminhoneiros, contra a privatização e a alta dos combustíveis e em defesa dos salários e do emprego.