Neste último domingo, 20 de maio, ocorreram as eleições presidenciais e parlamentares regionais na Venezuela. Tal calendário foi aprovado pela ANC (Assembleia Nacional Constituinte) de 2017, que superou o velho Congresso Nacional como instituição parlamentar daquele país e, por isso, tem sido contestada pelo imperialismo norte-americano e sua subordinada OEA (Organização dos Estados Americanos).
O Conselho Nacional Eleitoral, através de sua presidenta, Tibisay Lucena, divulgou o resultado por volta das 23h15 (horário de Caracas), com uma totalização de 93% das urnas, apontando tendências irreversíveis. A disputa presidencial teve quatro candidatos e um total de 8,6 milhões de votantes. O atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, da Frente Ampla da Pátria/PSUV (nacionalismo governista) obteve 5.823 milhões de votos (67,6%); Henri Falcón, apoiado pelo MAS e COPEI (social cristão) alcançou 1.820 milhões de votos (21,15%); Javier Bertucci, da Esperança pela Mudança (direita evangélica), recebeu 925 mil votos (10,7%) e Reinaldo Quijada, da Unidade Política Popular 89 (UPP89, esquerda, ex-PSUV) obteve 34 mil (0,4%).
O cenário que marca as eleições deste ano é o da não superação da crise econômica do país, com altas taxas de inflação e desabastecimentos de bens de consumo, e uma forte divisão da antiga MUD (Mesa Unidade Democrática), a oposição de direita, que, desde que patrocinou o derrotado boicote às eleições para Assembleia Constituinte em julho de 2017, saiu extremamente desmoralizada e sem forças, ante um forte comparecimento para a eleição e uma evidente legitimidade popular alcançada com sua instalação, em agosto do ano passado.
A MUD, então hegemonizada pela direita pró-imperialista, que havia apostado numa derrubada de Maduro pela via dos enfrentamentos de rua com os métodos fascistas das “guarimbas” (corte de estradas e ruas combinadas com agressões e assassinatos de chavistas), além do fracassado boicote da ANC, foi fragorosamente derrotada nas eleições regionais nos Estados, em outubro de 2017, onde o chavismo havia vencido a 20ª vez das 22 que foram eleitas depois de iniciada a etapa nacional-bolivariana. Tanto na eleição para a ANC quanto nas regionais, a grande mídia empresarial, agências internacionais e porta-vozes da direita levantaram acusações de fraude antes mesmo de iniciar a apuração dos votos.
Um setor da MUD, Henri Falcón, apoiado pela COPEI e MAS, nas presidenciais apresentou uma plataforma de centro-direita cujos eixos principais foram a defesa de um pacto nacional de reconciliação, o respeito à institucionalidade e como medida imediata de choque econômico a defesa da dolarização da economia (no modelo que já foi tragicamente implantado no Equador) para atrair investimentos externos direitos como forma de tirar o país da crise. Falcon, militar dissidente do chavismo, apoiado pelo setor moderado da MUD, no entanto, foi seriamente prejudicado pelo chamado ao boicote da extrema-direita da MUD, haja vista que houve um alto índice de abstenção que poderá chegar a cerca de 50% dos eleitores aptos a votar.
Os setores populares que apoiam o governo Maduro, sabendo que as alternativas direitistas de Falcon e Bertucci não resolveriam a crise do país senão que poderiam piorá-la, iniciando um tratamento de choques neoliberais, preferiram não vacilar com a direita e votaram novamente no chavismo.
Diante da realização soberana destas eleições presidenciais, o Departamento de Estado Americano (DEA), órgão do governo imperialista dos Estados Unidos cuja missão na América Latina tem sido intervir na vida política dos países que não se dobram aos ditames de Donald Trump, apoiado pelos governos títeres de Colômbia, Argentina e Brasil, já havia exortado o mundo a não reconhecer o resultado eleitoral. Trata-se de mais uma tentativa para desestabilizar o país latino-americano para novamente recriar um clima para uma tentativa de golpe ou intervenção externa no país.
Avançar rumo à independência econômica e ao socialismo
A Venezuela encontra-se em uma forte crise econômica. O embargo imposto por Trump aumenta a falta de bens de consumo, de alimentos medicamentos e de divisas. A hiperinflação chega à casa astronômica dos 750% mensais e ataque especulativo à moeda é brutal.
Em que pese a guerra não declarada por parte do imperialismo, existe o problema que, depois de 20 anos de governo, o chavismo não superou a dependência da renda petroleira, que segue sendo a principal matriz econômica produtiva do país. Sem um parque industrial e uma produção agrícola nacionais, a Venezuela seguirá dependendo das importações de bens de consumo o que a torna totalmente vulnerável aos capitalistas especuladores, aos rentistas e ao imperialismo.
A política econômica levada a cabo pelo governo Maduro, além de insuficiente para fazer frente ao cerco imperialista, não resolve a crise econômica que penaliza os trabalhadores.
É urgente um plano de investimento maciço dirigida à produção de bens, a planificação centralizada da produção e distribuição, o monopólio do comércio exterior – ninguém importa nem exporta senão sob controle estrito do Estado -, a nacionalização dos bancos, a suspensão do pagamento da dívida externa e controle das transações financeiras. Em outras palavras: é necessário colocar um fim à economia mista e iniciar uma transição real ao socialismo. Os trabalhadores devem elaborar e controlar a aplicação do plano – seja em termos de produção, distribuição e dos preços e eliminar a corrupção encrustada nos meios estatais.
A defesa da soberania nacional e da vontade popular eleitoral expressa nas urnas deve ser uma tarefa da esquerda latino-americana. Trata-se até mesmo de uma condição básica para a necessária crítica para mudanças de rumos no país, não pelas mãos do imperialismo e dos golpistas da MUD, mas pela força da classe trabalhadora e de seus aliados.
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