Pular para o conteúdo
BRASIL

Tragédia em SP: famílias sem-teto morrem queimadas em prédio

Por: Telo Carcará, de Curitiba, PR

Ainda não sabemos os números oficiais dos mortos no incêndio de um prédio ocupado por famílias sem-teto no largo do Paissandu, região central de São Paulo, nas primeiras horas do dia 1⁰ de maio de 2018. Esta tragédia expõe sem meias-palavras tudo que há de errado nesta sociedade governada pela direita, que sempre coloca os lucros e poder de poucos à frente do sustento e da vida de muitos. Não haverá celeridade alguma por parte das autoridades em descobrir o número de fatalidades no incêndio e no desabamento de um prédio de 24 andares que estava abandonado pelo poder público e que foi ocupado por pessoas do Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM). Tampouco haverá imparcialidade em se chegar às causas do acidente.

Não precisamos ser engenheiros ou arquitetos para sabermos que esta tragédia era evitável e prevenível. Não havia condições adequadas de segurança neste prédio e o poder público negligenciou esta situação. Por acaso havia alarme, saída de emergência, portas-corta fogo? Na verdade, não havia nem condições de se habitar este local e viver lá. Os ocupantes deste imóvel viviam em barracos nos diversos andares, mas essas pessoas não tinham alternativa: ou ocupam um espaço ocioso, ou viveriam ao relento dormindo no concreto frio das calçadas paulistanas, correndo risco de serem acordados com jatos de água fria do governo municipal. Sem mais delongas, já sabemos os reais culpados deste triste e revoltante incidente: os governantes, de todos os níveis, que seguem a cartilha neoliberal.

O prefeito e o governador de São Paulo, assim com o presidente da República devem explicações à sociedade, visto que este infeliz incidente denuncia contundentemente o descaso para com a vida dos mais vulneráveis.

Agora que o edifício Wilton Paes de Almeida, tombado em 1992, foi liquidado, os abutres, donos das construtoras estão livres para fazer uma edificação de luxo no local, ou talvez esperar até que toda a região central de São Paulo seja “limpada” através de um processo institucional de gentrificação, para poder reconstruir todo o Centro e fazer um oásis de luxo no coração da maior metrópole sul-americana.

Os capitalistas e seus apoiadores na alta classe média querem que os pobres vivam nos arrabaldes e periferias, longe de qualquer serviço público como transporte coletivo, unidades de saúde, parques, áreas de lazer e entretenimento. Os ricos e as pessoas “de bem” não querem ter de ver no coração de suas cidades as mazelas criadas pelo sistema capitalista que eles gerenciam e apoiam. Querem ser poupados de ver tanta miséria e caos social. A única solução que parece viável para esses parasitas donos de fortunas imensas que nunca trabalharam na vida é banir os pobres do Centro das grandes cidades brasileiras, ou seja, empurrar a “sujeira” pra debaixo do tapete.

Essa tragédia deve suscitar a mais profunda repulsa de todos com relação ao descaso do poder público. Devemos exigir que todos os prédios e casas nas cidades não ofereçam riscos de incêndio e risco de vida aos seus moradores. Isto é uma responsabilidade social e coletiva que deveria ser exercida por aqueles que comandam nossa sociedade. Entretanto, a única preocupação que os governantes têm é em garantir o lucro das grandes empreiteiras e construtoras, negligenciando a segurança da população.

Não é raro no Brasil uma ponte em um grande viaduto desabar, um prédio desmoronar, uma barragem romper e matar pessoas e destruir todo um ecossistema, e poderíamos continuar enumerando as tragédias causadas por esta sociedade guiada para o lucro de poucos e sustentada pela miséria de muitos.

No Brasil, há seis milhões de imóveis vazios, ao passo que seis milhões de pessoas não têm onde morar. O agravante desta situação é que a maioria desses imóveis desocupados são mansões enormes que dariam para abrigar várias famílias em segurança. Esta irracionalidade que nos choca, não acontece apenas aqui, isto se repete em outros países, inclusive nos mais desenvolvidos. Na Europa há mais de 11 milhões de imóveis vazios e, mesmo assim, os políticos de lá vociferaram que não poderiam abrigar um milhão de refugiados das guerras sustentadas pelos próprios governantes europeus na Síria. Fiquemos atentos que os políticos, daqui e de acolá, são uns cínicos e seus porta-voz, da grande imprensa, só fazem reproduzir suas mentiras ad infinitum.

Devemos, portanto, exigir que todas as casas e prédios vazios sejam adequadamente utilizados para a habitação humana com conforto e segurança. Moradia digna não deveria ser um privilégio, mas um direito básico garantido a todos. Ao invés de focarmos o debate neste sentido, somos obrigados a conviver com ataques da direita e de neofacistas que buscam culpar as vítimas pela catástrofe acontecida. Esses políticos e seus apoiadores merecem o nosso solene desprezo. Vamos seguir lutando junto aos movimentos sociais e trabalhistas para que vivamos em segurança dentro de nossos lares, que as casas sejam habitáveis e que não confiram nenhum risco à vida humana.

Vamos seguir lutando para que os imóveis ociosos sejam utilizados para habitação e que nenhuma família, que nenhuma criança, mulher, ou idoso tenha de buscar um abrigo inadequado para se proteger dos elementos numa noite de frio, ou chuva. Para deixar de vivermos nesta sociedade doente que valoriza mais o lucro de poucos que a vida de muitos, devemos nos organizar e lutar. Não podemos aceitar o estado atual das coisas. Um outro mundo é necessário. Um outro mundo é possível.