Por Márcio Musse, Londres/Inglaterra
Lutas de professores e profissionais da Educação sacodem os Estados Unidos
Nesta quinta-feira, 26/04, o estado do Arizona, nos EUA, assistiu uma das maiores mobilizações de sua história. Dezenas de milhares de profissionais da educação e estudantes vestiram vermelho e foram às ruas, em apoio à greve e à luta em defesa da educação pública no país. E não estão sozinhos, a luta de trabalhadores deste segmento está nacionalmente presente, com forte apoio popular. Além da vitoriosa greve em West Virgínia, também estão em greve professores nos estados no Kentucky e Oklahoma. Além disso, manifestações e paralizações também ocorrem em Porto Rico, Nova Jersey e Colorado. As mobilizações foram convocadas por sindicatos e organizações de classe e também, fundamentalmente, pelas redes sociais.
Esse importante processo nacional de lutas se dá ao mesmo tempo que o país governado por Trump vive um ascenso estudantil, principalmente secundarista, contra a violência incentivada pela indústria armamentista, e das lutas feministas, contra o presidente misógino e impulsionando o movimento internacional #metoo (#eutambem).
Esses diferentes processos de luta, com agendas e protagonistas aparentemente distintos, têm se interligado e potencializado mutuamente. No estado de Oklahoma, por exemplo, encorajados pela greve dos professores, mais de 100.000 servidores públicos estaduais iniciaram uma mobilização por aumentos salariais. Uma pesquisa de opinião ao final da greve assinalou que 72% da população do estado apoiava a greve dos professores “até que conquistassem todas as suas reivindicações”. Estes dados são ainda mais significativos se considerarmos que o estado de Oklahoma é considerado “conservador”, e um dos bastiões da direita americana e do governo Trump. Em Kentucky, mais de dez mil servidores públicos, estudantes e trabalhadores se reuniram em frente à sede do governo em uma manifestação contra uma reforma na previdência dos professores daquele estado – obrigando o governo do Partido Republicano a retirar o Projeto de pauta.
Luta social e programa anticapitalista: o caminho para deter o avanço da extrema-direita
Essas greves e mobilizações massivas nos estados de Oklahoma, Kentucky, West Virginia e Arizona trazem um significado especial, pois foram locais onde Trump teve expressiva votação nas eleições presidenciais de 2016. São estados que vem sofrendo cortes sucessivos na educação e nos serviços públicos e onde as condições de vida dos servidores públicos, professores e trabalhadores estão entre as piores do país. Ao mesmo tempo, a receptividade a Bernie Sanders também se destacou nesses estados. Em West Virginia, onde Trump venceu com 68.7% dos votos, Bernie Sanders venceu Hillary Clinton em todos os condados nas primárias do Partido Democrata. Sanders, com sua campanha chamando a uma “revolução política” contra o sistema dos milionários, propondo sobretaxar as grandes fortunas e educação e saúde públicas e universais.
As greves dos trabalhadores da Educação nos EUA trazem importantes lições. A primeira, é a de reafirmar o poder catalisador das lutas da classe trabalhadora, capazes de avançar a consciência e mudar a conjuntura na sociedade. A segunda, é que apesar dos tempos difíceis que vivemos em todo o planeta, os trabalhadores e a juventude estão dispostos a lutar. E a terceira, e neste momento talvez a mais importante, é que o caminho para derrotar os ataques e deter o avanço da extrema direita não é outro senão apostar na luta social. Unificar as lutas dos trabalhadores por suas questões específicas com as da juventude e dos setores oprimidos da sociedade. Quando colocamos esse time na rua e apresentamos nossa saída de ruptura, e conseguimos ter eco e audiência, detemos o avanço da extrema direita e suas variantes racistas e reacionárias.
Derrotar Trump dentro e fora dos EUA
Tudo isso acontece em um momento crítico para o governo Trump. Por um lado, Trump inicia ofensivas em sua política internacional, como o recente bombardeio à Síria, a reunião “domesticando” o presidente francês Macron, capitalizando os recuos da Coréia do Norte e confirmando a mudança da embaixada americana em Israel para Jerusalém. No âmbito interno, busca retomar o crescimento com políticas protecionistas e reafirmar uma “nova supremacia” do imperialismo dos EUA.
Por outro lado, enfrenta crises internas em seu governo, e ondas de mobilizações com potenciais de crescimento e unificação que podem inviabilizar seus projetos. Vale lembrar que no segundo semestre ocorrem as Mid Term – eleições estaduais que, dependendo do resultado, derrotam politicamente o governo federal até o final de seu mandato. Em eleições semelhantes (em menor escala) no ano passado, Trump foi derrotado, com destaque ao bom desempenho de candidaturas da esquerda socialista, especialmente do DSA (Democrat Socialists of America) e do Socialist Alternative[1].
A solidariedade completa à luta dos professores dos EUA, de todos os trabalhadores da educação e demais áreas, assim como à sua unificação com as lutas das mulheres, do movimento negro, dos imigrantes e da juventude daquele país. A derrota de Trump e dos abutres imperialistas, inimigos dos trabalhadores de dentro e fora do país, de todas as nacionalidades e etnias, não pode vir com ilusões nos Democratas ou na oposição parlamentar tradicional. Só pode ser obra de suas próprias forças, como mostram os professores, mulheres, negros e jovens americanos. Nenhuma trégua a Trump, nos EUA ou no mundo!
Maior manifestação da história da Inglaterra?
Quando fechávamos este artigo, Trump anunciava sua visita ao Reino Unido em uma sexta-feira 13, em Julho. Ele nunca visitou o país depois de eleito presidente, e visitas anteriores foram desmarcadas temendo protestos massivos, que seriam danosos não só ao mandatário imperialista, mas também ao combalido governo de Theresa May. Poucas horas após os anúncios, as manifestações contra a visita já contavam com centenas de milhares de participantes pelas redes sociais. Promete-se a maior manifestação da história da Inglaterra, superando as passeatas contra a Guerra de Bush e Blair. O Esquerda Online vai acompanhar esse processo de perto.
Fontes – Jacobin Magazine e Socialist Alternative
Fotos – Jacobin Magazine (Facebook)
[1] http://esquerdaonline.com.br/2017/11/18/eleicoes-estaduais-nos-eua-vitoria-dos-democratas-e-avanco-da-esquerda-socialista/
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