O historiador Ilan Pappe compartilhou em suas páginas no Facebook uma notícia que deixou a todos e todas que lutam pela causa palestina muito esperançosos. Em resumo: uma reunião preparatória com maioria palestina e ativistas judaicos antissionistas começou a sentar as bases de um movimento por um único estado democrático na região da Palestina histórica, baseado nos princípios de igualdade formal, pela abolição das instituições sionistas e pelo direito de retorno dos refugiados palestinos. Uma mudança de rumo completo para o movimento na Palestina/Israel nos últimos 30 anos, desde que a OLP aceitou a solução de dois estados em 1988. No quadro adverso da região, com o poder aparentemente invencível de Israel, esta é uma grande notícia. O tom de Ilan é cauteloso, mas otimista. Pode ser o início da mudança de parâmetros de todo o debate. Pelos seus alcances merece uma reflexão profunda. Quando mais detalhes forem dados poderemos debater com mais precisão o tema. Publicamos abaixo o post original traduzido de Ilan Pappe e a mensagem enviada por Waldo Mermelstein em resposta. (Editoria Internacional)
Foto : Palestinian Information Center
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Em 21 de abril, na cidade de Shefamru começamos a reunião preparatória para o lançamento da iniciativa de um estado democrático. A ideia é juntar sob uma só coalizão todos os movimentos e indivíduos que acreditam nessa solução dentro e fora da Palestina e tentar criar juntos um movimento pela mudança. O desafio é enorme. Os grupos representativos do movimento nacional palestino (em Israel e na OLP) ainda aderem à solução de dois estados, assim como o fazem alguns amigos genuínos dos palestinos como Jeremy Corbyn. A discussão inicial revelou por um lado questões significativas que ainda precisam ser discutidas, desde o tema da laicidade, o futuro dos assentamentos na Cisjordânia, e o direito ou a ausência de direitos coletivos. E, de forma mais importante, como tal movimento pode ser representativo e democrático na realidade atual. Nada ainda foi resolvido.
Por outro lado, houve total acordo sobre o direito de retorno, sobre a abolição das instituições sionistas e pela igualdade (ainda que eu creia que devemos conversar sobre o sistema econômico futuro também).
Acreditamos que lançaremos a iniciativa em setembro e adoraria ouvir sugestões e respostas. A solução de dois estados está morta, mesmo que nós não tenhamos sido convidados para o funeral, e que sabemos que os acontecimentos na região não são todos favoráveis a Israel e que pode ser um grande momento para impulsionar esta velha nova ideia mais uma vez.
A reunião foi em árabe e constou principalmente com a presença de palestinos, na medida que acreditamos que essa iniciativa é primariamente e de forma primordial um projeto palestino, mas teremos uma reunião separada com ativistas antissionistas judeus para termos um feedback mais amplo e escutar suas sugestões e preocupações. Há reuniões planejadas para Gaza, para a Cisjordânia e o Neguev (Naqab).
Faz tempo desde que uma reunião me tenha deixado otimista, mas eu sei quem são as pessoas que estão nisso e me sinto fortalecido e esperançoso!”
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Grande iniciativa, Ilan! De fato, parece que os duros fatos da realidade nos últimos 10 ou 15 anos fizeram muitas pessoas, especialmente entre os palestinos, procurar um novo caminho. E a mudança de atitude em boa parte da opinião pública ocidental (e também judaica) com relação a Israel ajudou a encorajar essa nova iniciativa. As ideias iniciais parecem ser perfeitas. Também concordo com você que os temas econômicos são necessários para não se incorrer nos erros da África do Sul pós-apartheid. As questões ligadas à terra, água, restituição de direitos, orçamento e os problemas-chave do poder econômico são decisivos para qualquer transição relevante democrática e socialmente justa.
Compreendo que o caminho é árduo, o poder sionista não será quebrado facilmente, mas um caminho significativo precisa declarar claramente seus objetivos, seu paradigma e a solução de um só estado é uma ideia que pode obter muito apoio ao longo dos próximos anos. Esta não é uma corrida curta, mas uma maratona.
Receba o mais entusiástico apoio para esta causa comum. Ansioso por saber mais detalhes da iniciativa para pode expressar ideias mais específicas!
Waldo Mermelstein – 25/04/2018
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