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Lula livre e Boulos Presidente

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

A importância de combinar a unidade para a luta com o fortalecimento de uma nova alternativa política de independência de classe

André Freire, colunista do Esquerda Online

A condenação sem provas de Lula, a sua prisão mesmo antes do encerramento dos recursos judiciais e o impedimento de sua candidatura nas próximas eleições são partes inerentes do golpe parlamentar iniciado com o impeachment de Dilma, em 2016.

Não se trata de isentar de culpa Lula e a direção do PT pelo que estamos vivendo hoje. Os 13 anos de governos petistas, em aliança com os partidos da velha direita, aplicando um plano de governo que não rompeu em nada com o pacto com o “andar de cima”, abriu a possibilidade do golpe parlamentar. Nunca se pode esquecer: Temer era vice de Dilma, e a quadrilha do PMDB era parte do governo do PT.

Infelizmente, parte da esquerda socialista acusa de capitulação ao PT quem defende a unidade de ação e a frente única de todos os setores da classe trabalhadora contra o governo de Temer, contra o golpe, a prisão de Lula e a defesa das liberdades democráticas e dos direitos sociais.

Estão errados. O momento é de unidade. De unidade pra lutar. Sem disputa de protagonismos, sem deixar as grandes diferenças de lado, mas defendendo uma unificação sincera de todos os setores da classe trabalhadora, dos sindicatos, das centrais sindicais, movimentos sociais combativos, do movimento estudantil, dos que lutam contra as opressões e dos partidos de esquerda para resistir aos ataques que o povo trabalhador está sofrendo.

Resistir aos ataques sociais e econômicos, como enfrentamos no programa do governo ilegítimo de Temer, com o seu famigerado ajuste fiscal e com as reformas constitucionais de cunho reacionário. Mas, resistir também aos ataques políticos, defendendo as liberdades democráticas.

É preciso, de uma vez por todas, entender o que está se passando em nosso país. A brutal e revoltante execução da companheira Marielle (passado um mês, ainda sem nenhum responsável identificado), a intervenção federal e militar na segurança pública do Rio de Janeiro, a intensificação do extermínio do povo pobre e negro nas periferias brasileiras, a ampliação das leis de repressão, entre outras medidas, demonstram de forma cabal que existe uma escalada reacionária em curso, que propõe mudanças ainda mais conservadores no regime político brasileiro, sempre no sentido de estreitar as poucas garantias e espaços democráticos.

A esse cenário preocupante, se soma a cada vez maior politização do poder judiciário, que hoje, através principalmente da Operação jurídico-policial da Lava Jato, visa apresentar uma saída seletiva e ainda mais conservadora para a crise política brasileira. Lula é preso ao mesmo tempo que políticos do PSDB são protegidos pela mesma justiça corrupta e decadente.

E, se já não era suficiente, assistimos também os militares voltarem à cena política nacional. Não só com a intervenção militar no RJ, como também assumindo cada vez mais cargos importantes no governo Temer e interferindo diretamente na conjuntura, como nas declarações públicas do General Vilas Boas (transmitidas pela TV Globo), apoiada por outros generais, pressionando diretamente o STF para que não concedesse o Habeas Corpus para Lula.

Todo esse cenário vem abrindo ainda maior espaço para ações de grupos de extrema-direita e até fascistas. Como vimos no ataque a uma atividade da campanha de Lula. A figura de Bolsonaro é a máxima representação tenebrosa deste pensamento ultra-reacionário, conservador e anti-povo trabalhador.

Diante deste cenário: o que fazer? Ficar em casa?  Romper a possibilidade de unidade de ação dos movimentos da classe trabalhadora? Publicar notas contra a luta unificada, que são até saudadas por setores da direita golpista?

O caminho é outro: a disputa política se dá nas ruas, mantendo intacta a nossa independência política de crítica, mobilizando e unificando a classe trabalhadora, e o conjunto dos explorados e oprimidos contra os ataques de Temer, da velha direita e da extrema-direita.

Por isso, seguimos e seguiremos firmes na proposta da construção de uma ampla unidade de ação, uma frente única de luta e democrática para mobilizar os trabalhadores, a juventude e os oprimidos, que tenha como objetivo freiar o golpe, derrotar os ataques políticos, econômicos e sociais contra nosso povo.

 

Candidato único da esquerda X nova alternativa de independência de classe
Em um erro de sentido oposto daqueles que se negam a lutar juntos nas ruas contra a velha direita e a extrema direita, setores da antiga base de apoio dos governos do PT querem usar a nossa unidade de ação a serviço da repetição de seu projeto político de aliança com os chamados setores “progressistas” do grande empresariado, a velha direita e até alguns políticos e partidos que apoiaram o golpe parlamentar do impeachment, para aplicar um programa que não rompe de verdade com os interesses dos ricos e poderosos.

Nossa proposta aponta em outra direção. Não queremos repetir os mesmos erros do passado, “VAMOS” apostar, e já estamos apostando, em uma nova alternativa política, sem alianças com os mesmos poderosos de sempre, que deve propor um programa anticapitalista, que rompa com os privilégios do 1% mais ricos, para atender as demandas e reivindicações mais sentidas da maioria da população brasileira.

Nosso compromisso é com o fortalecimento da Frente Política e Social construída a partir do MTST, do PSOL, do PCB e de vários outros movimentos sociais combativos e organizações da esquerda socialista. É com essa bandeira e com essas propostas que estamos participando da luta unificada contra o golpe, os ataques aos direitos dos trabalhadores e as liberdades democráticas.

Não temos medo de estar lutando ao lado daqueles que temos grandes diferenças políticas. Confiamos na nossa política e no nosso programa. E, com grande alegria, afirmamos que temos alternativa para as eleições: Guilherme Boulos e Sonia Guajajara para a Presidência da República – VAMOS, sem medo de mudar o Brasil!

Um convite à esquerda

Queremos discutir de forma franca, sem ataques desnecessários, que só atrapalham a nossa unidade. Queremos dialogar tanto com os setores da esquerda socialista que ainda se negam a participar da unidade de ação contra o golpe como também com aqueles setores da esquerda brasileira que ainda querem insistir no mesmo velho e fracassado projeto de conciliação de classes. O momento é grave, exige uma política justa.

Em primeiro lugar, devemos estar dispostos à luta comum, pelas bandeiras que podem unificar e mobilizar a classe trabalhadora, a juventude e o conjunto dos explorados e oprimidos. O mês de abril nos oferece a oportunidade de voltarmos aos milhares às ruas. Mas, para isso, é necessário unidade de ação.

Mas, com a mesma convicção que defendemos a luta unitária, queremos dialogar com todos e todas que querem uma nova alternativa política ao golpe, a velha direita e a extrema-direita. O momento é também de ousadia, de confiar no futuro, de apostar em novas alternativas.

Esse é o convite que queremos fazer e renovar a todos os setores da esquerda socialista: vamos lutar juntos e de forma democrática e participativa construir uma nova alternativa de esquerda, anticapitalista, das mulheres, dos negros e das negras, dos LGBT´s, da juventude, enfim de todo o povo trabalhador.

Vamos construir esta campanha juntos. VAMOS, sem medo de mudar o Brasil! Com Boulos e Guajajara para a Presidência da República!