Por: Silvia Ferraro, colunista do Esquerda Online, professora de História da rede municipal de educação e integrante do Diretório Nacional do PSOL
É inegável a imensa vitória conquistada na última terça-feira, dia 27 de abril. A greve dos servidores públicos municipais de São Paulo obrigou o prefeito Doria e a Câmara Municipal a suspenderem a tramitação do Sampaprev, projeto de privatização da previdência pública municipal e de confisco dos salários da categoria. Depois de 20 dias de greve, muitas assembleias e manifestações de rua, nós vencemos.
O governo municipal não conseguiu os 28 votos na Câmara dos Vereadores que eram necessários para a aprovação do projeto, o qual saiu de pauta pelo menos por 120 dias. Com a candidatura de Doria ao Governo do Estado de São Paulo pelo PSDB, quem assumirá a Prefeitura nas próximas semanas é o atual vice-prefeito Bruno Covas, do mesmo partido.
Não sabemos se o novo prefeito vai ter a coragem de recolocar o Sampaprev em pauta daqui a quatro meses, mas, se fizer isso, vai enfrentar, com certeza, uma categoria muito mais organizada e confiante em suas próprias forças. Isso porque a suspensão do Sampaprev foi só uma das vitórias dessa grande greve, pois também tivemos outras conquistas políticas muito importantes.
1. Doria, a nova direita e seu projeto de poder se enfraqueceram
Doria tentou garantir a qualquer custo a aprovação do Sampaprev, pois ele seria um dos motes de sua campanha para governador do estado. No entanto, o projeto é apenas uma das medidas de Doria que atacam os direitos dos trabalhadores.
Em apenas 15 meses, o “prefake” já cortou o leite distribuído nas escolas, aumentou a tarifa do transporte coletivo e, agora, vai retirar centenas de linhas de ônibus, o que afetará principalmente a população que mora na periferia.
Além disso, há também o plano de reestruturação da rede municipal de saúde, que está dispensando médicos especialistas das UBSs e fechando mais de 127 unidades de AMAs, o que deixará milhares de pessoas sem atendimento médico.
O que Doria não esperava é que encontraria a mobilização de milhares de trabalhadores municipais, que cruzaram os braços e disseram não aos ataques. A resistência dos servidores municipais enfraqueceu João Doria, que é a alternativa da burguesia do estado para substituir o atual governador Geraldo Alckmin e seguir aplicando os projetos que estão a serviço dos lucros dos grandes empresários, como as privatizações.
Doria, o “gestor”, sai da prefeitura de São Paulo em abril com uma grande derrota nas costas e com a certeza de que encontrará nossa resistência sempre que tentar retirar nossos direitos.
2. A luta contra a Reforma da Previdência proposta por Temer se fortaleceu
A mobilização dos trabalhadores do funcionalismo municipal de São Paulo foi um exemplo na luta em defesa dos direitos sociais e trabalhistas no Brasil, principalmente contra a PEC da reforma da previdência, que foi retirada da pauta porque a base aliada do governo Temer não alcançou os votos necessários, apesar de todos os esforços.
Um dos motivos da dificuldade é a impopularidade da PEC que não foi revertida, nem mesmo com os milhões dos cofres públicos gastos em propaganda. No entanto, a previsão é que a PEC volte à pauta logo após as eleições presidenciais de outubro. A aprovação de um projeto similar em umas das principais cidades do país era imprescíndivel para legitimar nacionalmente a Reforma da Previdência. Isto fortaleceria Temer, o Congresso Nacional corrupto e seus aliados.
Além disso, em um cenário de instabilidade eleitoral, a aprovação do Sampaprev também daria força à candidatura para presidente de Geraldo Alckmin, atual governador de São Paulo, que é uma das alternativas da direita para substituir Michel Temer e seguir com a aplicação do ajuste fiscal e da retirada de direitos dos trabalhadores. Por outro lado, uma derrota de nosso movimento poderia desmoralizar a luta dos trabalhadores do país, que também estão resistindo contra a PEC da Previdência.
A nossa greve deu esperança e mostrou que só a luta dos trabalhadores é capaz de derrotar os projetos de retirada de direitos. Por isso, é preciso seguir o exemplo dos servidores públicos da cidade de São Paulo: é a mobilização dos trabalhadores que vai impedir que o Congresso Nacional acabe com o nosso direito à aposentadoria.
3. As mulheres foram as protagonistas da greve
Na categoria dos servidores públicos municipais, principalmente na educação, nós mulheres somos a imensa maioria. Somos dezenas de milhares que, mesmo sofrendo com o machismo cotidiano – que nos atinge na escola, em casa e no transporte lotado –, dedicamos muitos anos de estudo e de profissão para crescer em nossas carreiras. Muitas de nós somos mães e, além de trabalhar, temos que cuidar dos filhos e da casa.
Nesta greve, entretanto, fomos a maioria também nas assembleias, nas passeatas, nos comandos de greve. E devemos ter muito orgulho disso! Contra tudo e contra todos, estivemos firmes na luta, enfrentando inúmeros obstáculos. Muitas vezes, não podíamos nem contar com alguém para cuidar de nossos filhos enquanto participávamos das mobilizações.
Com a mesma garra que sobrevivemos, entramos nessa luta, dando uma aula de resistência às nossas famílias, às comunidades e a toda população. Nem a repressão da Guarda Civil Metropolitana e da polícia calou nossa voz e diminuiu nossa disposição de luta. Nós ficamos juntas até a vitória e essa união deve continuar.
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