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BRASIL

Quatro motivos pra não apoiar Flávio Rocha, o candidato queridinho do MBL

Reprodução. Vídeo de entrevista do MBL com Flavio Rocha

Reprodução. Vídeo de entrevista do MBL com Flavio Rocha

Lucas Fogaça, de Porto Alegre (RS)

Nas últimas semanas o dono da Riachuelo (Grupo Guararapes) Flávio Rocha se lançou pré-candidato a presidente do Brasil, com o apoio do MBL (Movimento Brasil Livre). O Grupo Guararapes possui mais de 300 lojas da Riachuelo pelo país, 40 mil funcionários e entre outros negócios, grandes fábricas em Natal e Fortaleza e parte de uma grande fábrica no Paraguai. Conheça quatro motivos para não apoiar o empresário Flávio Rocha (MBL).

1. Notas frias e caixa 2 em campanhas eleitorais: a “fraude dos bônus eleitorais”
Flávio Rocha se diz “o novo”, a mudança. Mas é um político de longa trajetória de maracutaias. Em 1994, quando era pré-candidato a presidente da República pelo Partido Liberal (PL), foi acusado de liderar um mercado paralelo de venda ilegal de bônus eleitorais para lavar dinheiro de empresas que doavam para a campanha dele “por fora”. O sistema de caixa 2 funcionava num mercado paralelo, com deságio (desconto), de bônus eleitorais. O esquema dos bônus, criado para as eleições daquele ano, permitiu vários tipos de irregularidades contra a Receita Federal, como sonegação de impostos e “lavagem de dinheiro”. Os partidos tiveram acesso a um montante de R$ 3,1 bilhões em bônus este ano. Os bônus funcionavam como recibos e eram entregues pelos partidos aos doadores de recursos.

Em 1994 uma ação da Polícia Federal encontrou R$ 11.424.200,00 em bônus eleitorais no cofre da Guararapes. À época, Gilberto Kassab, do Partido Liberal, disse que pediria a renúncia do candidato e que o PL entraria com queixa crime contra ele. Pela pressão Flávio Rocha, acabou abandonando a candidatura. Leia abaixo trecho da conversa entre o jornalista da Folha que se passava por empresário querendo participar do esquema e de Téofilo Furtado, executivo da Riachuelo e tesoureiro da campanha:

Folha – Eu sou de um grupo de micros e pequenas empresários, da região aqui perto de São Paulo, São José dos Campos, e a gente se interessaria de comprar um lote de bônus para ajudar a campanha…
Teófilo – Pronto, pronto, nós estamos à sua disposição.
Folha – Agora, a gente tem a informação de que seria possível assim, um pequeno deságio, dr. Teófilo…
Teófilo – Isso a gente teria que conversar pessoalmente.
(…)
Folha – Tá, perfeito. Agora, de princípio, o sr. acha que dá pra fazer, né?
Teófilo – É, dá pra conversar. Eu preciso saber quais seriam os valores etc.
Folha – Eu já poderia adiantar para o sr., a gente tem um grupo assim de umas vinte, trinta pessoas, e poderia ser algo em torno de, cerca de R$ 100 mil. Esse grupo inteiro. Aí a gente queria ver qual era a possibilidade do deságio.
Teófilo – O que é que o pessoal está pensando, então?
Folha – O pessoal tinha a informação de que outros partidos aqui em São Paulo estavam fazendo em torno de 30%…
Téofilo – Eu acho difícil, porque aí fica difícil você viabilizar… Porque isso aí é um terço…
Folha – Dá pra conversar, dá pra gente baixar…
Teófilo – Eu acho que meio a meio é o correto… Quer dizer, 100 por 200, qualquer coisa assim.
Folha – Dá fazer nesses termos?
Teófilo – Nesses termos eu creio que sim. Eu teria que ver com o próprio candidato porque a gente é muito criterioso, mas se conversa.
(…)
Teófilo – Então raciocine nestes termos.
Folha – Então, no caso…
Teófilo – Dois por um.
Folha – No caso dos 100 (reais) a gente receberia 200 em bônus.
Teófilo – Isto. É.
Folha – Tá certo.

2. Favorecimentos escusos do BNDES e juros abaixo do mercado
Flávio Rocha lucrou alto usando recursos do BNDES nos anos de alta dos governos petistas. Captou mais de R$ 1,4 bilhão e uma isenção imbatível de 75% do ICMS para a construção de duas fábricas no Nordeste. Será que alguma trabalhadora de Rocha conseguiria um empréstimo tão bom quanto o dele?

Sobre o fabuloso “empréstimo” do BNDES a juros abaixo do mercado, veja quanto as dez maiores empresas do setor varejista de confecções conseguiram com o BNDES no período:

Renner – R$ 139 milhões
Riachuelo – R$ 1,4 Bilhão
C&A – não fez empréstimo
Pernambucanas – R$ 88 milhões
Havan – R$ 20,8 milhões
Marisa – R$ 572 milhões
Zara – não fez empréstimo
Hering – R$ 195 milhões
Lojas Avenida – R$ 2,9 milhões
Arezzo – R$ 15 milhões

A Riachuelo conseguiu 1,4 bilhão. As outras nove maiores empresas do setor conseguiram 1,3 bilhão. Quer dizer, sozinho Flávio Rocha da Riachuelo conseguiu mais do que todas as outras empresas juntas. O que Flávio Rocha tem que as outras empresas não tem? Não precisa dizer mais nada não é?

3. Multado em R$ 37 milhões, por danos aos trabalhadores
O Grupo Guararapes possui dezenas de autuações do Ministério Público do Trabalho (MPT) e chegou a ser condenado pela forma como as empresas (facções) que produzem para a Guararapes através do Projeto conhecido como “Pró Sertão” tratam seus funcionários. Em uma das ações, uma costureira relata que era pressionada a produzir cerca de mil peças de bainha por jornada. A meta (por hora) era colocar elástico em 500 calças ou costurar 300 bolsos. Na ação, a trabalhadora diz que muitas vezes evitava beber água para ir menos ao banheiro, o que segundo ela era controlado pelo encarregado mediante o uso de fichas. A costureira adquiriu Síndrome do Túnel do Carpo em razão da atividade profissional e receberá pensão vitalícia da Guararapes.
Diante da superexploração feita para a empresa de Flávio Rocha, o Ministério Público do Trabalho pediu uma indenização no valor de R$ 37 milhões. E se não fosse tudo, Rocha ainda atacou publicamente a procuradora à frente do processo, o que lhe rendeu uma denúncia do MPF por coação, calúnia e injúria.

Segundo matéria do site Repórter Brasil em 2012, o MPT ajuizou uma ação contra a Guararapes cobrando multa de R$ 27 milhões por descumprimento de normas de saúde e segurança na fábrica. Anos antes dessa ação, devido ao grande número de lesões por esforço repetitivo, um acordo fora firmado entre a empresa e o MPT. Nele, a empresa se comprometia a fazer adequações nas instalações, máquinas e mobiliário. No entanto, uma fiscalização conjunta do MPT e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) constatou o descumprimento do acordo, incluindo máquinas inadequadas, banheiros fechados, calor excessivo e baixa iluminação do ambiente de trabalho. De acordo com o juiz, que coordena o Programa Trabalho Seguro do Tribunal Regional do Trabalho no Rio Grande do Norte, doenças laborais representam entre 30% e 40% das ações recebidas pela Justiça do Trabalho local. A maioria, segundo ele, está relacionada à indústria têxtil.

4. Fundador do Brasil 200: mais exploração e falso liberalismo
Flávio Rocha é fundador do Movimento Brasil 200 e apoiado pelo Movimento Brasil Livre (MBL) pra ser presidente do Brasil. O Brasil 200 é um grupo de empresários que pretende entrar com sua cara pra política, deixando de terceirizar os serviços para os políticos de plantão. Entre seus membros estão os donos do Habib’s, da Dudalina, da Raia Drogasil, da Havan, do Grupo SBF (Lojas Centauro e Nike Store no Brasil), da Polishop, Hemmer (do setor alimentício), procuradores de justiça, o presidente da empresa de educação Estácio de Sá e Roberto Justus.

O Grupo Brasil 200 é formado para atender aos interesses dos patrões e aumentar a exploração do trabalhador brasileiro. Aliado de Flávio Rocha, o deputado federal Rogério Marinho (PSDB-RN) foi o relator da reforma trabalhista e criador do programa Pró-Sertão. Os grandes capitalistas do Brasil 200 também comemoraram o impeachmeant da Dilma (PT), mas nunca pediram a queda de Temer. Fazem lobby pela aprovação da reforma da Previdência e lutaram pela aprovação da terceirização sem limites.

Como se vê, não precisa grandes explicações para mostrar que Flávio Rocha é um capitalista da pior espécie. Metido a valentão contra a esquerda, o Ministério Público do Trabalho e os movimentos sociais, o líder do movimento Brasil 200 fala em uma nova independência, mas dele nunca ouvimos um pio contra as multinacionais e o capital estrangeiro que faz do Brasil um país submisso.

Um sujeito que fala pelo “Estado mínimo”, mas age pegando bilhões do dinheiro público através do BNDES e de isenções dos governos estaduais. Que diz para o povo pobre se virar sem o Estado, mas sua empresa jamais chegaria onde chegou se não fosse o financiamento público. Que ataca a velha classe política e aponta a “renovação” do cenário atual, mas vive de parcerias e maracutaias com as velhas e novas raposas. Que afronta a legislação trabalhista, estabelecendo uma rede de maquiladoras no sertão.

E aí, vai encarar mais esse engodo?