Torcedores fizeram uma passeata no dia 16 contra declarações do Secretário de Segurança
Mário Ítalo, de Fortaleza (CE)
Depois da Chacina do Benfica, que vitimou sete pessoas no dia 09 de março, sendo quatro componentes da Torcida Uniformizada do Fortaleza (TUF), o secretário de Segurança, André Costa, convocou uma coletiva de imprensa e afirmou que os assassinatos foram promovidos por “brigas de torcidas. Uma grande mentira. Logo no dia seguinte a Torcida Cearamor lançou uma nota de solidariedade a TUF e às vítimas da chacina, eximindo-se de responsabilidade em relação ao caso. E contou com o reconhecimento da TUF, que rechaçou as acusações de André Costa.
Aproveitando-se das acusações da Secretaria de Segurança, o Ministério Público pediu mais rapidez no processo que pretende extinguir as principais torcidas organizadas do estado, revelando oportunismo e insensibilidade com as vítimas da chacina. Isso acabou gerando uma rede de solidariedade que organizou um belo ato no dia 16 de março, pelo direito de viver da juventude e contra a criminalização das torcidas organizadas.
A calúnia do governo tenta esconder não só a falta de apuração da chacina, mas principalmente busca ocultar o genocídio que existe contra a juventude, em especial contra a juventude negra, e o aumento absurdo das mortes no Nordeste nos últimos anos. Entre 2005 e 2015, o número de assassinatos de jovens no Ceará aumentou 159,8%, segundo o Mapa da Violência 2017, publicado pelo Ipea.
Essas mortes não podem ser atribuídas a “brigas de torcidas”, mas são parte de um genocídio contra negros e negras, de uma guerra contra os pobres, na qual se insere a execução de Marielle Franco, que não por acaso, tem recebido homenagens da torcida do Flamengo, seu time, e de muitas torcidas no Rio e no restante do País.
A festa das arquibancadas resistindo nas ruas!
Foi um dia para entrar na história do futebol do Ceará. As principais torcidas organizadas de Fortaleza, Ceará e Ferroviário protagonizaram um ato histórico, que derrubou todas as frágeis acusações mentirosas do governo estadual. A concentração teve início na Praça da Gentilândia, local da chacina com o maior número de mortos na Chacina do Benfica. Logo as torcidas foram se aglomerando dentro de seus grupos, caminhando de suas sedes sociais, cantando palavras de ordem e músicas que relembravam Pedro Neto, Vitinho, Mascote e Juninho, vítimas de uma ação monstruosa, fruto de um modelo falido de segurança pública.
Já tinham ocorrido atos conjuntos das torcidas em anos anteriores, mas esse urgia por uma maior adesão. Precisávamos dizer um basta a toda a situação caótica em que o Estado do Ceará se encontra e o método covarde do secretário de Segurança de usar as torcidas mais uma vez como bode expiatório de uma ação tão brutal como essa. O resultado foram mais de 300 pessoas, torcedores organizados, movimentos sociais e sociedade civil em defesa do direito de torcer. As bandeiras alvinegras, tricolores e corais tremulavam juntas e figuravam a resistência dos torcedores contra o preconceito e a criminalização.
O ato começa com depoimentos, vivências e o sentimento de paixão daqueles que cantaram nas caminhadas aos estádios, nas arquibancadas e nas saudosas gerais que tornavam o futebol mais belo, apaixonante e popular. Um minuto de silêncio em lembrança das vítimas e uma oração para marcar o início da caminhada. Próxima da praça, chegamos a sede dos Leões da TUF, local onde dois jovens apaixonados pelo Fortaleza Esporte Clube e que sentiam o prazer de construir a festa nas arquibancadas foram mortos, assim como os torcedores que estavam lá apaixonados pelo Ceará Sporting Club e a charmosa torcida coral que nunca abandonou o Ferroviário Atlético Clube. A Vila Demétrio, rua da sede da TUF, ficou marcada por todas as cores, alvinegras, tricolores e corais.
O apoio popular nos dava mais ânimo. Por onde passávamos éramos aplaudidos e elogiados por uma população sedenta por dias de paz. Isso nos fez ter forças para caminharmos até a Secretaria de Segurança Pública, para colocarmos nossas exigências na mesa e ficarmos de frente com aquele que nos acusou covardemente. O ato parou na frente da Secretaria, entoamos cada vez mais alto que éramos torcedores e que pedíamos a liberdade das organizadas já.
Foi um ato representativo, histórico e que ficará marcado na biografia das torcidas organizadas do estado do Ceará. As torcidas Cearamor, TUF, Movimento Organizado Força Independente (MOFI) do Ceará, Jovem Garra Tricolor (JGT) do Fortaleza e Falange Coral do Ferroviário, construíram juntas um exemplo de unidade e resistência.
Nathan, presente!
No ato, uma situação nos deixou transtornados e em desespero. Um microônibus em alta velocidade atropelou um jovem diretor da TUF, Nathan Dias, de 20 anos, que havia dedicado toda a semana para a construção desse ato, através de suas belas artes. Infelizmente, o Nathan nos deixou na tarde de sábado, mas levou consigo a memória de uma bela realização que ficou marcada na mente de todos nós. Nathan, seguiremos defendendo tudo aquilo que você dedicou sua vida como torcedor organizado. A criatividade e a presença dele sempre estará presente nas arquibancadas. Nathan, presente! Hoje e sempre!
Mascote, presente! Hoje e sempre!
Pedro Neto, presente! Hoje e sempre!
Juninho, presente! Hoje e sempre!
Vitinho, presente! Hoje e sempre!
Nathan, presente! Hoje e sempre!
Marielle, presente! Hoje e sempre!
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http://esquerdaonline.com.br/2018/01/30/chacinas-no-ceara-banalizacao-da-vida-e-comocao-seletiva-em-meio-a-falencia-da-politica-de-guerra-as-drogas/
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