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O Brasil da vida e morte de Marielle

Editorial de 17 de março,

Se esperavam silenciar Marielle com balas, se deram mal. Marielle morreu, mas sua voz ecoou no coração e na mente de milhões, no Brasil e mundo afora. Com a dor que embarga a voz, com a tristeza que cala no fundo do peito, mas também com a indignação que mantém o sangue vivo, muitos milhares tomaram as ruas em todo país. Mais de 150 mil, de Norte a Sul. Se pensaram em plantar o medo, semearam a revolta. Marielle foi executada, mas seus sonhos não, viraram semente.

Por que Marielle?
A escolha do alvo revela muito sobre a natureza política e racista do crime. Marielle foi assassinada por ser negra, mulher, trabalhadora, moradora de favela, bissexual, e também por ser lutadora, de esquerda, de um partido socialista que enfrenta o sistema. A cria da Maré reunia em sua figura todos os símbolos de resistência perseguidos historicamente pelos poderosos em nosso país. Nas palavras dela: “Uma coisa é você morar, nascer, viver na favela. Outra coisa é você reivindicar e usar desse lugar de favelada pra fazer política de outra maneira”.

Como sabemos, o Rio de Janeiro é um estado marcado por números alarmantes de assassinatos de negros e negras. A política de “guerra às drogas” coloca negros e pobres como as principais vítimas da política de segurança pública nacional.

No último mês, Marielle travava uma batalha particularmente incômoda ao sistema. A vereadora do PSOL era voz firme contra a intervenção militar no Rio. Denunciava que a medida não resolveria o problema da violência, ao contrário, serviria para impor mais repressão às favelas, facilitando as ações policiais de extermínio do povo negro e pobre.

A manobra de Temer e da Globo
Com a comoção que extrapolou as fronteiras do país, a grande mídia e o governo se apressaram em responder ao crime bárbaro. Construíram uma “narrativa” que tem como objetivo capturar o significado da morte de Marielle e Anderson, para desse modo limitar e controlar o potencial de revolta que se espalhou entre a população.

Temer afirmou que a culpa é dos “bandidos” e que a intervenção militar veio para resolver o problema. A Globo, por sua vez, tratou o assassinato da vereadora como parte do avanço da criminalidade e da violência na cidade. A linha da classe dominante é preservar a intervenção militar e, por outro lado, evitar a radicalização do movimento de resistência.

Quem matou Marielle? A responsabilidade do Estado
No mês de fevereiro, Marielle foi nomeada relatora da comissão de acompanhamento da intervenção militar da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Nos últimos dias, vinha denunciando ações de extermínio da Polícia Militar em comunidades do Rio, como as ocorridas recentemente em Acari.

A execução de Marielle ocorreu numa cidade sob intervenção militar federal. Estamos perante o assassinato político de uma parlamentar que denunciava ações de agentes e instituições diretamente envolvidas com a medida. Responsabilizamos o Estado pela morte de Marielle. Michel Temer, Rodrigo Maia, Fernando Pezão e o General Braga Neto não são inocentes.

Ainda que os mentores do crime não sejam ligados ao comando das Forças Armadas e do governo, mesmo que os mandantes sejam policiais milicianos, não se pode compreender a execução desconectada da intervenção militar. Ao contrário do que afirma Temer e a Globo, estamos perante o primeiro assassinato político da intervenção. Intervenção militar de um Estado em que o racismo é institucional.

A execução em tempos de retrocesso
O programa do golpe pode ser resumido em poucas palavras: menos direitos, mais repressão. O retrocesso nas conquistas sociais é acompanhado da supressão de liberdades democráticas. Perante a crise social, a burguesia responde com o endurecimento do regime político. O alvo, como sempre, é o povo trabalhador, os negros e negras, os mais pobres. E especialmente, dentre esses, aquelas e aqueles que ousam organizar os trabalhadores e oprimidos e enfrentar o sistema.

O assassinato racista e político de Marielle demonstra toda a gravidade do momento político em que vivemos. Executaram uma liderança que era expressão da resistência a esse processo reacionário, liderança de um partido da esquerda socialista – o PSOL. Há uma perigosa escalada repressiva dentro do golpe, inclusive com a participação de setores fascistas (ligados ao aparelho de estado), que hoje sentem empoderados.  A esquerda anticapitalista como alvo, mais um sinal alarmante.

Num cenário de liquidação dos direitos trabalhistas, de destruição da saúde e educação públicas, do aprofundamento do genocídio do povo negro nas periferias, em que um presidente sem voto aplica um programa de reformas odiado pelo povo, o primeiro colocado nas pesquisas pode ser preso como forma de excluí-lo das eleições e a extrema-direita se sente à vontade para exaltar a ditadura, a execução de Marielle foi uma tentativa de estrangular o grito de resistência dos de baixo. Mas o resultado foi o inverso. O grito de luta de Marielle ganhou o coração de milhões, e pode virar maré montante.

Permanecer nas ruas por Marielle e derrotar a intervenção militar
Transformar o luto em luta. A dor em revolta. A indignação em ação. Permanecer nas ruas, encorajar os desanimados, abrir os olhos de quem não quer enxergar e sacudir quem está parado. Essa é a tarefa.

Chegamos num ponto limite. Vamos às ruas para fazer justiça por Marielle, e para manter viva sua pauta: defendendo a vida do povo negro e pobre das periferias do país, e lutando por uma vida digna para nosso povo. Para defender nossas liberdades, a pouca democracia que ainda temos. Pelos nossos direitos!

O testamento político de Marielle é também a luta que ela travou nos últimos meses contra Intervenção Militar no Rio e suas consequências, por isso essa batalha é central neste momento.

É preciso a mais ampla unidade na luta. O nosso inimigo está determinado a nos esmagar. Para resistir e vencer, é preciso unir trabalhadores, negras e negros, sem-terras e sem-tetos, mulheres, LGBTs, indígenas e estudantes. A unidade na diversidade faz a nossa força. Paz entre nós, guerra aos senhores!

Nesse sentido, tem enorme importância a unidade dos partidos de esquerda (PSOL, PT, PCB, PCdoB ,PSTU), do MTST, Povo Sem Medo, dos sindicatos, centrais, movimentos sociais, coletivos de luta, artistas e intelectuais em torno de uma campanha nacional unificada em defesa dos direitos democráticos e sociais, cuja bandeira comum pode ser escrita com as seguintes palavras: Marielle Vive!

  • Marielle Vive! Apuração com uma comissão independente! Punição aos executores e mandantes!
    Fim da intervenção militar! Fora Temer e Pezão! Desmilitarização já da Polícia!
    Vidas negras importam! Fim do genocídio do povo negro e pobre!
    Às ruas! Unir as lutas para derrotar o golpe!
Marcado como:
marielle / psol