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EDITORIAL

O 8M e a romantização da exploração

Gleide Davis

Por Gleide Davis, colunista do Esquerda Online

Neste último 8 de março, fomos surpreendidos com as modalidades de conveniência ao conservadorismo ao se ver a quantidade de reprodução de machismo nas “homenagens” que algumas empresas deram às mulheres. O McDonald’s separou os funcionários por gênero e colocou lojas onde só houvessem mulheres e outras onde só houvessem homens. Houve até mesmo homenagem ao símbolo do feminismo na logo de um site pornô.

O McDonald’s é amplamente conhecido por ser uma empresa de alta demanda de demissões e contratações em um curto período de tempo. Pois além de oferecerem uma compensação salarial muito abaixo do cargo desenvolvido em empresas de médio e pequeno porte, são as que mais exploram a mão de obra de seus funcionários. Temos relatos na internet de que ter vida social (estudar, se relacionar) e trabalhar nesta empresa é impossível.

A homenagem que fazem ao colocar apenas mulheres para trabalhar em uma determinada loja mostra que não há o mínimo de preocupação com as condições de trabalho e remuneração dessas mulheres. Ao contrário, as expõem a qualquer tipo de salubridade, dando a entender que local de igualdade não é equilibrar o que é privilégio masculino e transformam em direito para todos, mas que igualdade é um patamar onde todos se dão muito mal em relação à salubridade e péssimas condições de saúde.

Em relação ao site pornô, isso se torna ainda mais esdrúxulo. É impossível pensarmos que a indústria que mais animaliza mulheres, produz cenas de sexo completamente degradantes e coloca a mulher como subserviente de um péssimo desempenho sexual masculino, pode, em alguma instância, nos homenagear de uma maneira realmente fortalecedora.

É sobre esse tipo de “homenagem” que temos que nos atentar, no que diz respeito às indústrias da moda, beleza, e até mesmo alimentícia como nos exemplos citados. O capitalismo é patriarcal, apaga o real significado da emancipação da mulher trabalhadora, dando a ela a ideia de que a tripla jornada a torna melhor que o homem, quando na verdade nos torna ainda mais subservientes.

É importante fazermos um levante contra toda a forma de exploração. Ser mulher também é sofrer com a transfobia e racismo. E que, a cada 8 de Março, um sentimento de indignação reacenda no coração de cada mulher que teve o seu filho assassinado; que sofreu violência física, sexual e ainda foi difamada pelo agressor; que foi presa por estar com um homem criminoso; que trabalha três vezes mais e recebe três vezes menos; que cometeu suicídio por não ter o corpo “perfeito”.

Queremos homenagens reais sobre o que suportamos desde sempre, mas queremos mais que isso, queremos este e os outros 364 dias de igualdade salarial, diminuição da violência obstétrica, fim do extermínio e encarceramento de mulheres negras, descriminalização do aborto, fim do feminicídio e assassinato de travestis.

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