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BRASIL

O que queremos com uma candidatura presidencial nesse momento histórico?

Por: Fernando Castelo Branco, de Fortaleza (CE)

Antes de qualquer coisa, queremos que ela possa chegar o mais longe possível. Que através dela possamos dialogar com um setor de massas. Que não fique restrita aos “iniciados” e seja uma campanha para fora do Partido, e não de nós para nós mesmos. A aliança com o MTST nos permite isso.

Permite-nos lançar uma candidatura maior do que o PSOL. E aqui é preciso dar razão aos críticos: essa, de fato, não é uma candidatura do PSOL. É a candidatura de uma Frente com a legenda do PSOL. E isso é grandioso. Com ela, o PSOL cumpre seu papel histórico de aglutinar forças à esquerda do projeto de conciliação de classes do PT. Com ela, o PSOL se fortalece como instrumento político eleitoral de uma resistência que precisa ser maior e mais ampla. É uma iniciativa que nos permite dialogar e mobilizar um setor muito mais amplo do que sozinhos seríamos capazes de fazer. E isso, em um contexto de crise nas organizações políticas da esquerda, de crise institucional do regime, de duros ataques aos direitos dos trabalhadores e de crescimento da ideologia conservadora e autoritária, não é um dado desprezível.

Evidentemente que a campanha de uma Frente tem contradições. Tem também diferentes análises da situação política e diferentes caracterizações de sua dinâmica. Tem ainda limitações programáticas importantes e nada disso deve ser escondido do partido ou daqueles com quem pretendemos dialogar. Mas há um mérito fundamental nessa pré-candidatura: ela representa a aliança entre os de baixo, entre os explorados e oprimidos, em torno da negação do projeto de conciliação de classes. Por isso é um erro tão grave dizer que Boulos e Guajajara são uma candidatura “lulista” dentro do PSOL. Dizer isso é negar o fato de que Boulos e o MTST foram tensionados pelo PT, e que o PT perdeu. Que Boulos e o MTST tinham a opção de não integrar a Frente com o PSOL, de abraçar, mesmo que criticamente, a campanha de Lula e do PT, mas não o fizeram. Ao contrário, Boulos e Guajajara significam a derrota do projeto petista de hegemonizar a esquerda. Representam a possibilidade de apresentar um outro projeto político ao conjunto dos trabalhadores do Brasil.

Aqueles para os quais Boulos e o MTST são iguais a Lula e ao PT são os mesmos que não veem golpe no processo de impeachment, que não enxergam o uso político do sistema de justiça criminal na lava jato, e consideram que vivemos em um ambiente de normalidade, como se o PT ainda fosse governo e a burguesia brasileira gerisse o país com a mediação de lideranças e organizações populares. São aqueles que continuam fazendo política como se fazia antes de 2016. Como se o governo Temer fosse igual ao governo Dilma, como se os ataques fossem iguais em dimensão e intensidade, como se a disputa ideológica na sociedade tivesse sido congelada no tempo. É um erro trágico e de dimensões históricas. É apequenar-se diante da tarefa política que temos. É simplesmente esconder-se dentro das seguras fronteiras do partido, e fugir da disputa política que precisa ser travada.

É preciso enxergar para além do processo eleitoral. Perceber que esta aliança entre distintos movimentos sociais, o PSOL e o MTST impulsiona a tão necessária reorganização da esquerda num contexto de avanço do conservadorismo autoritário e da prostração rendida do PT. E isto merece ser saudado como uma grande vitória política.

*Fernando Castelo Branco é membro do PSOL/MAIS – Ce.