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Liga das Escolas de Samba faz virada de mesa no Carnaval do Rio

Desfile da Grande Rio, que se manteve no Grupo Especial.

Desfile da Grande Rio, que se manteve no Grupo Especial.

Bernardo Pilotto, do Rio de Janeiro (RJ)

A decisão da LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba) e da maioria das escolas filiadas de não haver nenhum rebaixamento em 2018 deve ser repudiada por todos e todas, ainda que não seja surpreendente. Desde que a apuração dos desfiles, na Quarta-Feira de Cinzas, apontou o rebaixamento da poderosa Acadêmicos do Grande Rio, cogitava-se uma virada de mesa.

E essa não é, infelizmente, a primeira virada de mesa da história. Isso também ocorreu no ano passado e ao longo dos anos 1990 (como em 1993, 1994 e 1995) e nos anos 1980 (como em 1981 e 1988). Muito antes disso, também tivemos outros momentos de crise: entre o final da década de 1940 e início da década de 1950 aconteceram dois desfiles considerados principais, visto que haviam duas ligas/associações organizadoras.

LIESA: com você não dá mais
A decisão desta quarta-feira mostrou a completa incapacidade da LIESA em gerir o desfile das escolas de samba. Nas redes sociais, desde os primeiros rumores de que o regulamento não seria cumprido, muitos se posicionaram pedindo que a Prefeitura cortasse por completo o repasse de dinheiro público a essas escolas, visto que elas não estariam cumprindo com o contrato estabelecido. Mas a solução passa por uma proposta totalmente oposta a essa.

Acredito que o maior desfile de escolas de samba do mundo não pode ser organizado por uma liga que não tem democracia nem qualquer tipo de transparência nas suas ações. Está mais do que na hora do poder público retomar a organização dos desfiles das escolas de samba.

Ainda que hoje a Prefeitura de Crivella seja inimiga do carnaval, a organização dos desfiles da Sapucaí (e também dos desfiles da Intendente Magalhães e do carnaval de rua) por uma Subsecretaria de Carnaval (conforme consta no relatório da Comissão Especial de Carnaval da Câmara de Vereadores) possibilitaria maior controle público sobre os rumos da festa.

A LIESA se mostrou, desde a sua fundação, em 1984, uma entidade que visa apenas o atendimento do interesse dos presidentes das escolas, deixando de lado sambistas, foliões e o público. É uma entidade que gere o carnaval a partir de interesses particulares.

E, incrivelmente, a virada de mesa de 2018 é só um dos problemas dessa entidade. Com a LIESA no comando do carnaval, não temos critérios públicos para a escolha dos jurados, não há licitação para a ocupação dos espaços do Sambódromo (que é um equipamento público) e os ingressos são vendidos de modo a dificultar ao máximo a vida do folião (o que favorece o trabalho de agências de viagem que aplicam uma taxa alta no preço do ingresso).

A virada de mesa não ajuda na consolidação do público

E essa visão apenas imediatista e comercial dos desfiles é um tiro no pé. Ao longo dos anos, ela tem servido para afastar o público, especialmente o mais jovem, da Sapucaí. Se, nos anos 1980, era comum que todo carioca tivesse uma escola do coração, hoje isso é cada vez mais raro entre aqueles que tem até 30 anos.

Os desfiles desse ano mostraram um grande potencial para que essa lógica fosse invertida. As escolas de samba viraram assunto em todo o país, os desfiles foram comentados nas redes sociais por muita gente que nunca havia se interessado pelo tema.

Certamente a decisão de rasgar o regulamento e não rebaixar nenhuma escola não ajuda para consolidar o público que foi atraído em 2018. Parece que a LIESA trabalha com a lógica do quanto pior melhor.

Felizmente, sabemos que o complexo cultural que envolve as escolas de samba é muito maior do que uma liga comandada por meia dúzia de dirigentes com ficha policial extensa. Por sua vez, um eventual abandono daqueles que amam verdadeiramente as escolas só iria fortalecer essa camarilha.

Por isso, nosso desafio segue o sendo o de defender as escolas dos ataques conservadores e de continuar a luta pela democratização da gestão do carnaval.

Visite o especial Carnaval e(é) Resistência, sobre o carnaval 2018
Vídeo: Entrevista com Luiz Antonio Simas, sobre carnaval, diáspora e o Rio de Janeiro