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EDITORIAL

Por um 8M que coloque as mulheres na linha de frente contra as reformas

Por: Juliana Bimbi, de Porto Alegre, RS

Dia 15 de fevereiro, quinta-feira, aconteceu a primeira plenária unificada para preparação do 8 de março de 2018 em Porto Alegre. Inspiradas no grande ato que ocorreu nessa data no ano passado, que deu o gás para as lutas que foram travadas o ano inteiro, mulheres de diversos sindicatos, centrais sindicais, organizações políticas, coletivos feministas e independentes se reuniram para preparar a agenda de lutas que marcará o Dia Internacional da Mulher na cidade.

Partindo do debate sobre a situação em que o Brasil se encontra hoje e, a partir disso, as mulheres que nele vivem, a discussão girou em torno de definir o eixo político que norteará a atuação unificada do movimento de mulheres de Porto Alegre na data que remete à luta das mulheres trabalhadoras internacionalmente. A partir do entendimento de que é preciso ter um chamado que unifique e dialogue com todas as mulheres trabalhadoras da cidade e que englobe as lutas específicas que estão cada vez mais latentes, o acordo chegado foi de um chamado unitário contra as reformas, pelas liberdades democráticas e contra a violência de gênero.

Acreditamos que os ataques que vêm sendo aprovados nos últimos anos são o que afeta diretamente a vida das mulheres no período atual. As mulheres serão as mais afetadas pela Reforma da Previdência, que iguala a idade de aposentaria dos homens e das mulheres, sem levar em consideração a dupla e tripla jornada de trabalho a que as mulheres são submetidas. São as mulheres negras que ocupam os postos de trabalho mais precarizados e que já vivem sobre a reforma trabalhista devido ao trabalho terceirizado, se agravando agora com a aprovação da lei da terceirização.

Dentro disso, também é preciso lutar pelas liberdades democráticas em todo o país: o Brasil é um dos países que mais encarcera no mundo, e dentro disso são afetadas as mulheres negras e periféricas. Aproximadamente 34 mil mulheres brasileiras vivem hoje atrás das grades, e esse número não para de crescer. Um exemplo disso é o caso de Jéssica Monteiro, uma mulher de 24 anos que está mantida em uma cela com seu filho recém nascido por ter portado 90g de maconha. É preciso gritar: liberdade para Jéssica, já!

A violência contra a mulher é um dos dados que não param de crescer no país: o feminicídio, o estupro, a violência doméstica, as mulheres que morrem na tentativa de fazer abortos clandestinos porque não têm outra alternativa. Além disso, não existem órgãos estatais que realmente dão conta dessas demandas. Muitas vezes, quando denunciam, as mulheres são humilhadas e suas denúncias invalidadas.

É preciso armar um dia 8 de março que unifique todas as mulheres que querem lutar contra os ataques, que coloque as reformas como o principal eixo de luta que nos arma para derrubar o governo. Ano passado, as mulheres deram o recado de que são capazes de lutar não só por suas pautas específicas, mas que também podem ser a linha de frente da luta contra os ataques a toda a classe trabalhadora, sendo as primeiras a colocar em pauta a luta contra a Reforma da Previdência.

Queremos um Dia Internacional da Mulher que coloque em pauta a violência que as mulheres negras sofrem todos os dias, em casa, no trabalho e na rua, que defenda as liberdades democráticas e que lute consequentemente contra o desmonte dos direitos de todas as trabalhadoras. Para isso, é preciso estarmos unidas e sem medo de enfrentar os patrões e os governos que encabeçam os ataques contra nós. Queremos um 8M classista e radical, que incorpore a consigna: se nossas vidas não importam, que produzam sem nós.

Foto: Manifestações do Dia da Mulher na região central da capital paulista | Rovena Rosa/Agência Brasil