Por: Felipe Nunes, de Natal, RN
A Nação Zambêracatu se prepara para o seu sexto Carnaval na cidade de Natal, Rio Grande do Norte. Neste ano, o grupo participará, pela primeira vez, da programação oficial do Carnaval da cidade.
Fundada em 2012, a primeira nação de maracatu do Rio Grande do Norte surgiu em meio à retomada do Carnaval na cidade de Natal, com o objetivo de difundir a cultura afro-brasileira no estado. Desde então, o grupo, que tem referência musical no Maracatu de Baque Virado, vem se firmando e crescendo na cena cultural e social potiguar. Além da sonoridade musical, o grupo possui uma ligação espiritual coma religiosidade afro-brasileira, fundamentada no candomblé de Nação Ketu, através do Ilè Asè Obá Ogodô do Babalorixá Melquezedeque de Xangô, localizado na região metropolitana, na cidade de Extremoz.
Entrevistamos Marília Negra Flor, pedagoga, pesquisadora, dançarina e uma das fundadoras do grupo. Ela nos contou sobre a história e a trajetória da Nação Zambêracatu nestes seis anos de existência.
EO: O Zambêracatu é a primeira nação de maracatu no Rio Grande do Norte. Como surgiu a ideia de fundar o grupo?
Marília Negra Flor: Surgimos a partir de um desejo de movimentar a cena negra, cultural e afro-religiosa da cidade, procurando reafirmar a negritude e a religiosidade de matriz africana. Desejávamos fazer um Carnaval negro em Natal, pois observávamos que havia poucos grupos que levavam para as ruas o candomblé. A partir daí, Kleber Moreira (percussionista, pesquisador e uns dos fundadores da Nação) juntou vários batuqueiros interessados para fundar o Maracatu. Alguns já estavam envolvidos com candomblé e, aos poucos, fomos agregando mais gente no quintal de casa, sede dos primeiros encontros.
EO: Já são seis anos de existência da Nação Zambêracatu. O que mudou desde a fundação do grupo?
Marília Negra Flor: Diria que o grupo mudou no sentido de ter crescido e se fortalecido dentro dos seus princípios e conceitos. Nesses seis anos, muitas pessoas que não eram de religiosidade de matriz africana se aproximaram da religião. Temos inúmeras pessoas do grupo que foram iniciadas no candomblé a partir do envolvimento com o Maracatu. A cada ano, crescemos cada vez mais. No Carnaval desse ano, sairemos com mais de 60 pessoas nos cortejos.
EO: Qual a importância da Nação em relação ao fortalecimento da identidade negra e da valorização das culturas e religiosidades de matriz africana?
Marília Negra Flor: A própria existência da Nação Zambêracatu já é um movimento para o fortalecimento da identidade negra. Continuamos firmes e resistentes, apesar das dificuldades que enfrentamos. Desejamos aproximar mais pessoas negras do grupo, realizar projetos em periferias e comunidades. Infelizmente, não existe incentivo para fazerem as coisas acontecerem.
Apesar disso, é importante perceber que, no decorrer dos anos, a cidade já reconhece que existe o maracatu em Natal. Viramos referência no batuque negro e religioso da cidade. Isso é muito importante, porque em Natal existia uma cultura dos povos de terreiros se esconderem por medo do preconceito. O maracatu ajudou a desmitificar a ideia preconceituosa que se tinha sobre o candomblé, mostrando na rua o que é a nossa fé de verdade.
A Nação Zambêracatu foi muito importante para conscientização da luta contra o racismo, contra a intolerância religiosa e na nossa reafirmação enquanto negros potiguares, pois havia poucas manifestações que se colocavam dessa forma. Para dizer que existem negros nessa terra e que temos como referência o Zambê, ritmo negro que só existe aqui. Queremos mostrar o que o negro potiguar tem feito hoje ao longo da sua história. Mostrar o Zambê, o maracatu como referência de manifestação religiosa na rua. Dizer para a cidade que existimos, podemos resistir e fazer cultura.
Foto destaque: Allyne Macedo
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