Por: Shirlley Padia Lopes, de São Paulo, SP
No próximo dia 2 de março haverá um grande ato na Universidade de São Paulo exigindo a reabertura do Hospital Universitário para a população. Esse ato surge de uma atuação unificada entre moradores do Butantã, bairro onde fica a universidade, e representantes de alunos e funcionários da USP.
O diferencial desse ato consiste na composição de suas lideranças, pois aqui entra em cena um protagonismo popular. Ao se darem conta de que o Hospital Universitário estava cada vez mais sendo desmontado, moradores do bairro se uniram e formaram um grupo de resistência: surge o Coletivo Butantã na Luta. Durante meses, os integrantes desse coletivo trabalharam e seguem trabalhando junto à população da região do Butantã, divulgando o que está acontecendo com o hospital e colhendo assinaturas num abaixo-assinado que exige o restabelecimento de seu pleno funcionamento.
Até o presente momento, já colheram quase 60 mil assinaturas que serão entregues para a reitoria da universidade no próximo dia 2 de março.
Numa constante articulação com representantes dos funcionários e estudantes da USP que somam forças no coletivo, o movimento organizou um ato no final do mês de novembro abraçando o Hospital Universitário. A força dessa mobilização se traduziu tanto no abraço em si, como nas palavras de ordem daquele ato: “Unificôoou: é estudante, funcionário e moradôoor”. Como desdobramentos dessa força unificada e de toda luta que vem sendo travada, o movimento conseguiu a aprovação de uma emenda na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), destinando R$ 48 milhões do orçamento de 2018 para a contratação de funcionários concursados e de carreira da USP necessários para o restabelecimento do atendimento à população.
E esta é a atual situação do hospital: se, por um lado, temos uma gestão na reitoria da USP determinada a privatizar o hospital seguindo uma lógica nacional de tentativa de acabar com as universidades públicas em benefício de grandes grupos financeiros, por outro temos uma luta aguerrida e coesa entre moradores, funcionários e estudantes da USP. Esse movimento entende que a universidade é um patrimônio do povo e não só deve continuar sendo pública, como deve exercer seu tripé de ensino, pesquisa e extensão, contemplando
a comunidade, prestando serviço para a população em seu hospital-escola referência em qualidade e bom atendimento.
A importância dessa luta reside tanto na sua razão de ser, ou seja, em salvar um hospital público que sofre com uma defasagem de 406 funcionários, como nos protagonistas de sua luta. Após anos em que os movimentos sociais foram se tornando esvaziados e deixaram de ocupar as ruas porque estavam compondo o governo petista, moradores de um bairro assumem para si a tarefa de voltar a ocupar as ruas em defesa do que é seu. Vemos aqui o embrião de um redescobrimento da luta popular, da luta por direitos depois que muitas lideranças locais e sindicais se entregaram ao método de conciliação petista que se mostrou fracassado.
Por isso, ressalto a importância de fortalecermos essa luta. É conjunta da população e da comunidade acadêmica, algo que sempre sonhamos e se faz ainda mais necessária numa época de crise e de retirada de direitos após o golpe presidencial. É uma luta que já está se mostrando vitoriosa e precisa continuar avançando. A vitória dessa mobilização representa a vitória de uma batalha dos que lutam pelo ensino superior público, bem como uma vitória da reorganização da luta popular.
Deixo, então, o convite: no dia 2 de Março às 10h, em frente ao portão 3 da USP. Esperamos a presença de todos que sonham e lutam por direitos e de todos aqueles que entendem que a luta popular deve ser o meio para alcançar esse objetivo. É tempo de perder o medo e é tempo de lutar, é tempo de impedir a retirada e voltar
a conquistar direitos por meio de nossa ação. Sejamos vitoriosos!
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