Por: Thales Lopes, do Afronte, São Paulo
O Carnaval de São Paulo, em 2018, será o maior da sua história. Esse ano, 491 blocos foram inscritos, superando em quantidade os do Rio de Janeiro. Mas apesar da festa e da alegria nas ruas, que já contagiam a cidade inteira desde a semana passada, nem tudo é motivo para comemoração. As vozes da intolerância, da apologia à tortura, à Ditadura Militar e ao fascismo estão se esforçando para tentar estragar a maior e mais popular festa do País, que em nada tem a ver com essas ideias. Um evento no Facebook criado pelo grupo Direita São Paulo quer impulsionar o bloco “Porão do DOPS”, que tem o objetivo de reunir a escória da cidade para promover a opressão e a exaltação de figuras repugnantes, como os torturadores Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-CODI, e Sérgio Paranhos Fleury, delegado do DOPS.
Quando a notícia veio a público, houve muita reação a essa provocação fascista. Parlamentares, figuras públicas e grupos ligados à defesa dos direitos humanos denunciaram publicamente a escrachada apologia à tortura. O Ministério Público de São Paulo instaurou uma ação contra os organizadores do bloco, mas de maneira surpreendente, a juíza Daniela Pazzeto Meneghine Conceição negou o pedido liminar do MP, com o argumento do direito à liberdade de expressão.
No dia seguinte, um jovem do grupo Direita São Paulo foi atacado no metrô Ana Rosa, quando caminhava para uma palestra. A ação foi organizada por um grupo anti-fascista. Depois do acontecimento, a Direita São Paulo recuou e restringiu a divulgação do evento, que agora ocorrerá em lugar fechado, com lista de presença prévia e identificação de todos os participantes. A atitude evidencia o medo do grupo de um confronto ainda maior nas ruas da cidade.
A reação a essas provocações de grupelhos da extrema-direita é inevitável por parte de qualquer defensor das liberdades democráticas. É inadmissível que essas pessoas tenham o direito de expressar seu ódio, ainda mais em uma época como o Carnaval.
Foi isso que motivou a criação do bloco “Ditadura Nunca Mais”, que está sendo impulsionado por diversos grupos e ativistas anti-fascistas. O objetivo é ofuscar a intolerância e o fascismo, além de inviabilizar a realização do bloco “Porão do DOPS” (que ainda não tem o local confirmado). A concentração será no metrô Barra Funda, em frente ao Memorial da América Latina, no sábado (10), às 11h.
É muito importante que ativistas, movimentos sociais, grupos de defesa dos direitos humanos, partidos, parlamentares, todos aqueles que defendem a democracia e não abaixam a cabeça para discursos de ódio, se somem a essa iniciativa e ajudem a divulgá-la o máximo possível.
É preciso estar sempre alerta para seguir defendendo a memória, a verdade e a justiça, ainda mais no lamentável momento que estamos passando em nossa história, depois do processo de redemocratização. A Ditadura acabou há mais de 30 anos: vamos juntos comemorar e festejar. Ditadura nunca mais!
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