Pesquisa Datafolha mostra uma eleição caótica, tensa e imprevisível
Publicado em: 1 de fevereiro de 2018
Por Ademar Lourenço, de Brasília*
A liderança de Lula mesmo condenado foi o maior comentário sobre a pesquisa que o Datafolha, instituto ligado ao jornal Folha de São Paulo, publicou ontem. Mas não é só isso que os números do instituto apresentam. Além de um líder nas pesquisas que pode ser preso, a eleição presidencial de 2018 tem outras peculiaridades.
Em primeiro lugar, um terço dos eleitores de Lula diz que não vai votar em ninguém caso o petista não seja candidato. Desta forma, a quantidade de votos brancos e nulos vai para mais de 30%, um número recorde. Isso aponta para uma eleição em que o candidato que ganhar no segundo turno terá menos da metade dos votos. Começar o mandato já sem o apoio da maioria não costuma dar sorte. Os dois últimos presidentes que ganharam assim foram Dilma Rousseff e Fernando Collor. Nenhum dos dois terminou o mandato. Isso mostra que uma eleição sem Lula perde a legitimidade e o ganhador terá um mandato difícil.
Mesmo com Lula, o número de eleitores que não querem votar em ninguém é alto (beira os 20%). Resultado de uma indignação muito grande com o sistema político. Essa indignação alimenta em parte as intenções de voto em Bolsonaro, que não cresce mas chega a ter 20%. Luciano Huck, mesmo avisando que não é candidato, aparece com 8%. O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa chega aos 5%.
Isso mostra disposição de boa parcela da população em votar em alguém que se diz “de fora do sistema”. Uma grande dificuldade para os candidatos dos partidos tradicionais. E esses partidos não poderão contar muito com o apoio dos jornais e canais de TV. Mais da metade da população pretende votar em dois candidatos que são constantemente atacados pela mídia: Lula e Bolsonaro. Prova de que esses meios de comunicação já não têm mais a influência que tinham antes.
Outro traço desta eleição é a grande quantidade de candidatos que aparecem com uma boa margem de votos. Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) passam dos 10%. Álvaro Dias (Podemos), Manuela D’Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos (Sem partido, talvez se filie ao PSOL) e até mesmo o ex-presidente Fernando Collor (PTC) aparecem nas pesquisas com mais de 1%. Será quase impossível alguém vencer no primeiro turno e, sem Lula, fica difícil prever quem vai disputar o segundo.
A esquerda não morre se Lula ficar impedido. Os candidatos que se apresentam como deste campo político ficam com cerca de 20% dos votos caso o ex-presidente saia de cena (Soma de Ciro Gomes, Jaques Wagner como candidato do PT, Boulos e Manuela). É a votação de Bolsonaro, que parou de crescer e está com alta rejeição. Isso sem falar nos 27% da população disposta a votar em quem Lula indicar. Quem realmente não está bem é o que a mídia chama de “centro”, que na verdade é a velha direita dos partidos tradicionais. Mesmo sendo governador de São Paulo, maior estado do país, Geraldo Alckmin não passa de 8% das intenções de voto. Outros candidatos do tal “centro”, como o ministro da fazenda Henrique Meirelles, não passam dos 2%. Isso sem falar que 87% da população não quer votar no candidato do atual presidente, Michel Temer, que é apoiado pelos políticos do chamado “centro”.
O que nos espera é uma eleição tensa, caótica e imprevisível, como foi em 1989. Foi a primeira eleição depois de mais de 20 anos de ditadura e mais de vinte candidatos apareceram na disputa. A classe dominante não tinha um candidato definido. A população era sedenta por novidades. Tudo acabou em um segundo turno com dois candidatos de fora dos partidos tradicionais, Fernando Collor e Lula. Collor era visto como um jovem “caçador de marajás” e foi eleito. O resultado foi um mandato tumultuado que acabou com o presidente renunciando para não sofrer impeachment.
Para terminar, um dado interessante: João Amoedo, candidato que defende a ideologia liberal pura, não passa de 1%. A turma que fica gritando “privatiza tudo” e “imposto é roubo” na internet parece que não consegue convencer muita gente.
* Esse artigo representa as posições do autor e não necessariamente a opinião do Portal Esquerda Online. Somos uma publicação aberta ao debate e polêmicas da esquerda socialista
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