Por: Luiz Freitas, militante da Conspiração Socialista
Não sou um eleitor de Lula e nem favorável ao projeto de seu partido, o PT, de melhorar o capitalismo, de forma “lenta , gradual e segura”, ancorado num setor da burguesia brasileira, que já não aceita “humanizar” o capitalismo para que uma parte dos miseráveis fique menos miserável, com acesso a meia dúzia de bens de consumo através de políticas compensatórias até necessárias, mas não para serem usadas como capital eleitoral.
Continuo afirmando que o PT não é de esquerda. A saída para os trabalhadores continua sendo o socialismo, e a sua viabilidade só se dará por um processo revolucionário, portanto, com foco central na organização das lutas e na consciência da classe para tomar o poder e mudar o Sistema. Não há saída para os trabalhadores no capitalismo.
No entanto, seria miopia política não enxergar que a esquerda brasileira está com pouca inserção no movimento, neste momento da luta de classes. Muito por conta da ação de destruição deliberada do grande Capital, após a queda do Muro de Berlim e, em parte, por nossa incapacidade de unir a esquerda; nossas proposições não atingiram a maioria dos corações e mentes dos trabalhadores que, se têm feito greves crescentes, são de caráter defensivo e por manutenção de conquistas. O mesmo raciocínio vale para as lutas da juventude e do movimento popular.
Outros aspectos importantes são o fato de a burguesia brasileira ser historicamente entreguista e a denominada “classe média” ter sido, e continuar sendo, o escudo da burguesia sempre que a crise aperta e ocorra, mesmo que minimamente, a melhoria das condições de vida dos trabalhadores.
É a chamada classe média que, vestindo verde e amarelo, bate panelas e verbaliza o discurso de ódio racista, machista, homofóbico, fortalecendo a ideologia fascista que, queiramos enxergar ou não, tem se ampliado no Brasil e no mundo. Para esse setor, que não aceita sequer ouvir a palavra socialismo, até o projeto conciliador do PT é um risco, pois para eles só é aceitável uma sociedade com pobres, para que estes lhes prestem serviços, de preferência com baixos salários e sem nenhum direito trabalhista.
Nesse contexto, é dever da esquerda condenar a seletividade dos processos contra o PT e a tentativa de impedimento da candidatura de Lula. Se não estamos num período revolucionário e se as crescentes lutas são pela manutenção de conquistas e contra um retrocesso de quase cem anos, a manutenção da democracia, mesmo limitada, é essencial.
O alvo do ataque não é o PT ou Lula, eles são apenas instrumentos da burguesia contra os direitos do conjunto da classe trabalhadora. Sabemos que o PT e Lula aceitaram governar para a burguesia e fizeram o seu jogo, sendo, assim, também responsáveis pela situação que estamos passando, e não podemos deixar de criticar e denunciar o desserviço prestado. Não esqueçamos que o agronegócio e a burguesia da construção civil lucraram como nunca na história deste país, e até o setor financeiro, articulador do golpe institucional ora em curso, também teve lucratividade recorde.
Mas quando a conta não fecha, a saída para a burguesia sempre é a retirada de direitos dos trabalhadores, e o PT não faria isso com a velocidade esperada. Daí Temer ser alçado à condição de presidente, com a tarefa de completar o projeto iniciado por FHC, ainda no governo Itamar Franco.
O teatro montado em Porto Alegre, no último dia 24, pelo Tribunal Federal 4 (TF4), ampliou a pena de Lula, por unanimidade e sem provas (o que não significa que o PT não tenha participado de corrupção, inerente ao capitalismo), porém, diminuiu as penas dos empresários envolvidos no processo.
Ao mesmo tempo, o judiciário protege Temer, Serra, Alckmin, Geddel, Aécio etc, para os quais há fartíssimas provas, inclusive milhares de dólares em malas e apartamentos, sem contar os empresários, tratados como vítimas pela mídia.
Essa seletividade só demonstra que o judiciário, a mídia, o parlamento e o poder executivo têm agido como instrumentos do Estado burguês para tentar resolver a crise do capital, da maneira clássica.
Se, por um lado, a burguesia, hoje, rejeita Lula, por outro, ele e o PT não estão dispostos a romper com seu projeto conciliador. O PT e Lula não nos representam ,e estão longe de serem a alternativa da nossa classe; porém, sua condenação/prisão é um ataque frontal ao conjunto do movimento popular, social e sindical, e até mesmo ao Estado democrático de direito. Sendo assim, cabe ao conjunto da esquerda denunciar essa ação da burguesia, em todos os lugares.
Foto: 8va turma-7275 24/01/2018 – Julgamento de recursos da Lava Jato na 8ª Turma do TRF4 | Sylvio Sirangelo/TRF4
Não concordar com o projeto político do PT e de Lula, como fazemos, é legítimo, mas não permitir sua candidatura, através de um golpe jurídico, como está fazendo o Capital, através do judiciário, é uma afronta.
Neste momento, é nosso dever defender a democracia e o direito de que todos os projetos e candidaturas possam se expressar nas eleições, sem deixar de demonstrar que a real saída para trabalhadores, as disputando ou não, não se dará pelas eleições burguesas.
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