Por George Bezerra, de Fortaleza, CE
Não é possível sair da sala de cinema, após assistir a “120 batimentos por minuto” (França, 2017 – Robin Campillo), e voltar ao curso normal da vida.
O que eu planejei após a sessão, desisti. É preciso tempo para levantar da poltrona, dar vazão às lágrimas, voltar a caminhar normalmente e conseguir se reconectar com o mundo e as pessoas.
Falar sobre AIDS não é fácil. Falar daqueles e daquelas que são portadores do HIV e se organizam para garantir tratamento, apoio psicossocial, medicação, prevenção, investimento em pesquisa e debate na sociedade sobre o tema é mais difícil ainda.
Dar visibilidade e protagonismo positivo à população LGBT, nesse tema, fugindo dos esteriótipos que foram construídos ao longo das últimas três décadas é um desafio e tanto. Diria que uma necessidade política e uma obrigação moral.
Campillo toma essa tarefa para si. É um filme político, mas, antes de tudo, é um filme sobre o amor. O amor que convive, lado a lado, com o prazer, o sexo, o sofrimento, a indignação, a raiva, a solidariedade, o medo, a morte e a dor. O amor e a vontade de viver como matérias-primas do ato de fazer política.
No Brasil, em tempos de crescente audiência ao discurso de ódio contra a população LGBTTQ, aumento de infecção pelo HIV, principalmente entre os jovens, e de 16% de intenções de voto para um candidato de ultradireita, 120 batimentos por minuto é um forte recado contra os retrocessos históricos que a agenda conservadora está impondo.
Vencedor do prêmio da crítica no festival de Cannes 2107, o filme está em cartaz, no Brasil, desde 11 de janeiro. Oxalá ganhe visibilidade e ajude o debate sobre o HIV a ganhar novos rumos.
Prepara-se para 143 minutos de muita intensidade e beleza.
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