Por Mandato da Vereadora Sâmia Bomfim
No mês de outubro de 2017, um mês depois do ministro da saúde, Ricardo Barros, “decretar” o fim do surto de febre amarela no país, o vírus foi identificado em macacos mortos na zona norte da capital paulista, depois no município de Itapecerica da Serra, é assim seguiu em vários outros municípios na Grande São Paulo.
O surto, na verdade, nunca teve uma pausa e desde 2016 a febre amarela vem se expandindo pelo território brasileiro, mas só esse ano acendeu um alerta que levou a OMS a incluir todo o estado de São Paulo na área de risco de transmissão da febre amarela, recomendando aos viajantes que tomem a vacina no mínimo 10 dias antes de visitar para o estado.
Além disso, a falta de disponibilidade de doses da vacina e a expansão do vírus para regiões altamente populosas do país (as regiões metropolitanas de Campinas, São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador) levou à determinação de distribuir, em regiões de menor risco, doses fracionadas da vacina, para garantir que haja ampliação da cobertura vacinal. Segundo estudos, a vacina fracionada garante a imunidade por até 8 anos, possivelmente mais.
A justificativa para o fracionamento da vacina é que é extremamente importante que essas grandes áreas urbanas tenham uma boa cobertura vacinal. A única diferença entre as formas silvestre e urbana da doença está na transmissão: a febre amarela silvestre é transmitida pelos mosquitos Haemagogus sp. e Sabethes sp., enquanto a febre amarela urbana é transmitida pelo Aedes aegypti, velho conhecido por transmitir dengue, chikungunya e zika.
A proximidade entre áreas urbanas e áreas de mata e a conhecida circulação do Aedes aegypti nessas regiões traz um alto risco de urbanização da doença, algo que não ocorre no país desde 1946.
Apesar de necessária nessa situação de emergência em saúde pública, o fracionamento da vacina expõe a falta de planejamento, por parte do Ministério da Saúde e acontece em um contexto de constantes ataques ao SUS, com os gastos públicos congelados por 20 anos pelo governo Temer; além de cortes de gastos com saúde por parte do governo Dória, incluindo a redução dos veículos usados no controle do Aedes aegypti e fechamento de várias UBS e AMAs.
O anúncio da OMS e da distribuição da vacina fracionada (que começará no dia 29 de janeiro) levou a população a uma verdadeira corrida pela vacina, que vem lotando as unidades de saúde com filas que duram até 7 horas.
Nas unidades, fica claro que faltam vacinas, insumos e recursos humanos para atender à crescente demanda. Além da evidente sobrecarga dos profissionais, já que não está havendo nenhum reforço no número de profissionais nas unidades que estão vacinando, a falta de vacinas nas unidades tem revoltado a população que espera por horas e não consegue se vacinar, levando até mesmo a ameaças e agressões a profissionais de saúde.
Nas informações encontradas na imprensa, fica visível também a falta de planejamento em todas as esferas de governo. O ministro Ricardo Barros afirma que há vacina para todos, o que claramente não é verdade, visto que será necessário fracionar. No site do governo do estado de São Paulo, há pouquíssimas informações sobre a febre amarela. No site da prefeitura de São Paulo, é mais fácil achar propaganda do governo Dória do que informações precisas sobre a doença, e as informações estão dispostas de uma forma bastante confusa. Não há campanha de esclarecimento na TV, algo que deveria ser o mínimo para tirar as dúvidas que afligem a população.
Além disso, suspeitamos que a gestão Dória está escondendo informações: apesar da nota publicada pela SMS no dia 16/01 dizer que não há epizootias (macacos mortos positivos) na zona sul, um servidor que trabalha na região de Parelheiros informou, na condição de anonimato, que há pelo menos dois macacos positivos na região confirmados no início do ano. Já solicitamos maiores informações à SMS.
O descontentamento da população é compreensível, e os governos Temer, Alckmin e Dória são responsáveis pelo caos instaurado nas unidades de vacinação. Ao invés de fazer propaganda de seus “feitos”, deveriam estar usando essa verba de publicidade para informar a população, tirar as dúvidas, divulgar um calendário de vacinação claro e com objetivos precisos, acalmar a população que não está sob risco e desmentir boatos. Isso é o mínimo que se esperaria de uma gestão responsável.
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