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CULTURA

Popularização, luta e ocupação dos estádios

Por Mário Ítalo, militante da juventude do MAIS Fortaleza

O futebol sempre foi tratado durante décadas como o principal lazer do povo. Ele tem uma mística de unir todas as classes para apreciar um espetáculo, que traz a emoção, alegria e toda uma vida nas arquibancadas. As gerais, as percussões, bandeiras, faixas, sinalizadores e o grito do povo tornam o futebol majestoso e belo aos olhos do público. Toda a alegria e popularidade presente nos estádios, está cada vez se tornando mais difícil, o processo acelerado de modernização dos estádios brasileiro, impulsionado pela a fatídica Copa do Mundo de 2014, está empurrando para fora das ‘arenas’ a grande massa, presente principalmente nas torcidas organizadas.

Os estádios nacionais sempre tiveram bons públicos durante anos, isso também deve-se ao fato de que o valor dos ingressos era bastante acessível. Já assisti muitos jogos pagando apenas 5 ou 10 reais, era algo incrível, as arquibancadas logo enchiam, muitos ainda entravam depois (sim, já presenciei milhares de pessoas entrando em jogos faltando um certo período de tempo para os jogos acabarem, o próprio estádio abria as portas para essa massa de apaixonados que não tinham condições de comprar ingressos). Dentro dos estádios as organizadas tomavam a festa e faziam as torcidas entoarem seus gritos de guerra e de incentivo ao time. Hoje isso está cada vez mais difícil. As administrações terceirizadas das Arenas tentam impedir de toda forma a festa nos estádios, querem tornar a festa das bancadas sul-americanas, em espaços teatrais, onde cantar, xingar e festejar são proibidos.

Os estádios são tomados por gestões desastrosas. Obras superfaturadas, corrupção e expulsão das massas, fazem parte de uma modernização tramada pelo capital, para tornar o futebol um esporte da elite. O desastre cometido pela gestão de Sérgio Cabral (MDB-RJ), destruiu o templo do futebol mundial: o Maracanã. Uma história material foi destruída em nome da modernização negativa do futebol e a corrupção é uma essência desse produto destruidor, que tende cada vez mais de tirar o lazer das massas. Antes da obra ser realizada, o público do Maraca era enorme em quase todos os jogos, mas a perseguição contra as principais torcidas, a dificuldade de acessibilidade e os preços de ingressos, impedem que o espetáculo ocorra nas bancadas.

No Ceará a perseguição parte para cima das torcidas organizadas, inclusive no âmbito jurídico. O caso mais recente de ataque foi contra as duas principais torcidas organizadas do estado, a justiça determinou a extinção da TOC (Torcida Organizada Cearamor) e da TUF (Torcida Uniformizada do Fortaleza), ambas torcidas tem de entrar com outro material nos estádios, pois a Polícia Militar pode barrar a entrada desses torcedores nas depedências do estádios. Essas atitudes corroboram com a administração da Arena Castelão, que hoje tenta banir a presença de faixas no estádio, para dar espaço a propagandas em placas de publicidade. Felizmente as organizadas agiram em conjunto para barrar esse ato insano de exclusão e perseguição.

A criação há 3 anos atrás da ANATORG (Associação Nacional das Torcidas Organizadas), surgiu como uma alternativa de organização desses agrupamentos contra as arbitrariedades jurídicas e administrativas, contra as torcidas organizadas. Foi uma excelente iniciativa, com a ideia de planejar ações conjuntas, de combate a opressão contra as organizadas. O problema do futebol brasileiro não está nas organizadas, é algo muito além, as organizadas são somente um bode expiatório da máfia. O problema está na mídia, nos dirigentes e mandatários das entidades futebolísticas. Esse debate tem que ser aprofundado e faz parte da luta contra o futebol moderno, defender as torcidas organizadas.

Além de tudo, o ataque não vem somente dos governantes e administradores terceirizados. A grande mídia é dona do futebol. Trazendo a frase do gênio Alex, ídolo do futebol brasileiro: “quem cuida do futebol brasileiro é a Globo, a CBF é só a sala de reuniões”. Ele está certo. A Rede Globo e todo o seu monopólio televisivo, suprime o futebol, a mesma já foi citada em delações em acordos espúrios com as principais entidades do mundo futebolístico. A desigualdade de cotas, horário de partidas etc, tudo é manipulado pela Globo, como um método não só de excluir  times de menor expressão comparado aos grandes do futebol, mas também de centralizar o futebol brasileiro no eixo do futebol sulista. Pela primeira vez da era de pontos corridos (que vigora desde de 2006), o futebol brasileiro passa a ter 4 representantes nordestinos na elite do campeonato nacional. Isso parte do fortalecimento do futebol nordestino, em uma liga criada entre os clubes nordestinos, que organiza o principal torneio futebolístico do primeiro semestre, vale ressaltar que os clubes dessa liga, recusaram as migalhas oferecidas pela Globo, que perdeu seu direito de transmissão do regional em 2018. Uma conquista a ser celebrada pelo futebol nordestino.

 

O mais novo atentado foi contra a Libertadores da América, tradicional competição que une raça, amor e festa. A Conmebol em conluio com a FIFA, decidiu por retirar os dois jogos (ida e volta) da decisão da Libertadores, fazendo com que a decisão tenha jogo único e em campo neutro. Um absurdo. Diante de todos esses atentados, querem retirar a essência do futebol sul-americano, que é conhecido pelo amor incondicional das torcidas pelo futebol e pela bela festa realizada nos estádios. Isso trata-se de um atentado contra os torcedores mais pobres, que inclusive gera revolta e violência nos estádios. Aliás, a questão da violência está relacionada direto a isso, desde a retirada das gerais até os ataques e perseguições contra as torcidas organizadas de massa.

 

As torcidas antifascistas vêm cumprindo um papel muito importante no combate ao futebol moderno. Com ideologia, essas torcidas vem se organizando e fazendo enfrentamentos ao sistema midiático, governos, administrações e diretoria de clube. Sempre levando faixas em caráter de protesto, percussões e cantos, sempre combatendo o futebol moderno em todas suas esferas, seja através das arquibancadas ou até mesmo na política.

 

É necessário combatermos essa modernização, que visa, unicamente na exclusão do povo do espetáculo futebolístico. As camadas populares precisam fortalecer as torcidas de massa, para barrar esse processo acelerado de modernização, mais um mecanismo para a destruição de um esporte tão popular. O futebol com o povo é festa, emoção e prazer.

 

A festa nas bancadas pertencem a massa! Abaixo o futebol moderno!