Star Wars VIII: Sempre haverá esperança
Publicado em: 20 de dezembro de 2017
Por Henrique Canary, de São Paulo, SP
( NÃO CONTÉM SPOILERS )
Passada já uma semana da estreia mundial nos cinemas, os fãs de Star Wars continuam debatendo ardentemente sobre o esperado Episódio VIII: Os últimos Jedi. É um fato inegável que a quase unanimidade construída em torno do Episódio VII (O despertar da força) foi desfeita. Alguns se decepcionaram, alegando problemas no roteiro e na construção dos arcos das personagens. Outros, ao contrário, afirmam que o novo filme dirigido por Rian Johnson superou em muito o anterior e já é o melhor da nova leva (que inclui Rogue One, um spin off que se passa entre os episódios III e IV e que estreou em 2016).
Os últimos Jedi era ansiosamente aguardado por alguns motivos. Em primeiro lugar, porque marcaria o retorno de Luke Skywalker à história (ele aparece apenas nos últimos segundos do Episódio VII). Em segundo, por que seria a última aparição de Leia Organa (princesa nos episódios IV, V e VI e general no Episódio VII). A trágica morte Carrie Fisher, em dezembro de 2016, deu a este episódio um tom mais triste porque sabemos que não a veremos mais, ao mesmo tempo em que obrigou os produtores a fazer algumas adaptações no roteiro, inclusive a recriar o rosto da atriz por computação gráfica em algumas cenas. Em terceiro, porque o Episódio VII levantou muitas questões que se esperava fossem respondidas neste episódio: quem são os pais de Rey? Finn tem alguma relação com a Força? Quem é o Líder Supremo Snoke e qual sua história? Alguém passará de um lado para outro da Força? E tantas outras perguntas…
Apesar das muitas polêmicas entre os fãs, há quase um consenso de que o retorno de Luke à história foi espetacular. Mark Hamill entrega uma atuação madura, por vezes sombria, como era de se esperar pela sinopse. Mas ao mesmo tempo deixa transparecer em vários momentos o “jovem Skywalker” que aprendemos a amar tanto. Ele está lá, e seus traços podem ser encontrados nas rugas e na voz envelhecida do ator.
As alterações de roteiro provocadas pela morte de Carrie Fisher foram muito bem feitas e passam, de fato, desapercebidas. Quanto às inúmeras perguntas levantadas pelo episódio anterior, muitas delas permanecem sem resposta, o que não é de todo ruim. Nesse sentido, o filme tem o mérito de fugir um pouco da atual tendência hollywoodiana de entregar tudo pronto e explicado para o espectador. Será preciso especular e imaginar até o último filme (e que bom!).
A resistência e as novas gerações
Alguém disse certa vez que uma obra cultural, uma vez terminada e entregue ao público, pertence a este último, que pode ver nela o que bem entender, muitas vezes independentemente da vontade original do autor. Talvez Star Wars seja um pouco isso. Em tempos de Temer, Bolsonaro, reforma trabalhista, confusão e divisão da esquerda, Os últimos Jedi é uma filme extremamente otimista e um chamado à confiança no futuro. Ele nos conta a história de uma Aliança Rebelde que sofre uma derrota atrás da outra. Mas como diz Poe Dameron (personagem de Oscar Isaac) no próprio trailer, “Somos a faísca que acenderá a chama que destruirá a Primeira Ordem”. Apesar das derrotas, os rebeldes têm plena confiança no futuro, pois sabem que seus aliados são os explorados e oprimidos pela Primeira Ordem de todos os cantos da galáxia. Sabem que a frase “Sou membro da Resistência” pode em alguns casos significar a morte, mas em outros lhes garantirá abrigo, cuidado e talvez até uma nave emprestada. Basta saber a quem dizê-la. Aliás, a frase sobre a faísca colocada na boca de Dameron é uma clara referência ao famoso verso do poeta russo Alexander Odoevski, em seu poema de 1828: “Da faísca nascerá a chama”. Este verso foi adotado mais tarde por Lenin como lema do jornal revolucionário Iskra [a faísca]). Também na Rússia do início do século 20, os revolucionários sofreram muitas derrotas, mas souberam perseverar. E por isso venceram. Os últimos Jedi é também um filme sobre pessoas simples e sobre como é impossível vencer sem a coragem delas; sobre como não é preciso ser alguém especial para fazer coisas especiais. A Resistência não é formada apenas por generais, almirantes e exímios pilotos. Ela inclui gente que faz a manutenção das naves e limpa os esgotos das estações espaciais. Não há Resistência sem essas pessoas. O mesmo vale para a Primeira Ordem. E como dizia Bertolt Brecht “O vosso tanque, general, é um carro forte / Derruba uma floresta, esmaga cem homens / Mas tem um defeito / Precisa de um motorista”.
Os últimos Jedi nos explica que a condição mais importante para a vitória da Resistência é a sua capacidade de ganhar o coração e as mentes das novas gerações; que líderes e comandantes experientes têm um enorme valor e que se pode aprender muito com eles, mas que também eles podem e devem ser substituídos em algum momento. E é sempre melhor se os velhos comandantes saírem de cena de maneira voluntária, prestando seu apoio aos jovens líderes. Os jovens às vezes erram, rompem a disciplina, se precipitam, avaliam mal as condições da luta. Mas eles são o futuro.
Star Wars VIII – Os últimos Jedi nos ensina que a vida é finita e que só há um lugar em que podemos viver para sempre: na memória dos que virão depois de nós, que contarão sobre nós histórias e que se apoiarão em nossos feitos e em nosso exemplo para seguir a luta. Pois é ela que dá sentido à nossa existência. É ela que destrói e constrói todas as coisas. Que une e separa homens e mulheres, classes sociais, nações. A luta é o fio explicativo de toda a história humana. Ela é a Força da vida real.
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