Por: Ítalo Coelho, de Fortaleza, CE
Neste dia 12 de dezembro, aconteceu, em Fortaleza, no Ceará, o 1º Simpósio cearense sobre Cannabis Medicinal. Organizado pela Sativoteca, página de informações canábicas e grupo de ativistas e pacientes usuários de Cannabis, o evento tratou sobre aspectos medicinais, jurídicos e do ativismo organizado em torno desta pauta. Cerca de 400 pessoas compareceram, nos três turnos de atividade. O grupo de miaditivisto Mídia Ninja fez a cobertura. Cerca de oito mil pessoas assistiram às transmissões ao vivo. Ao todo, 27.240 pessoas curtiram, compartilharam ou comentaram sobre o evento.
A abertura, com o eixo Medicinal, foi feita pelo hippie, produtor cultural e ativista digital Cláudio Prado (Delírios Utópicos do Cláudio Prado – Mídia Ninja), que abordou a importância de eventos como este no contexto de ativismo por direitos humanos e busca pela liberdade de consciência e autonomia sobre os corpos, assim como a função terapêutica da alegria nos estados alterados de consciência. A mesma mesa contou com a presença do Dr. Pedro Mello, médico acupunturista especialista em dor, de Recife, Pernambuco e de Renato Filev, doutor em neurociência pela UNIFESP, São Paulo. Estes discutiram aspectos orgânicos, sociais e políticos da proibição e dos usos terapêuticos de maconha para diversas doenças ou quadros clínicos como epilepsia, dores neuropáticas HIV, câncer, síndrome de Dravet, Parkinson e Alzheimer, assim como alcoolismo e redução de danos para uso problemático de outras drogas, como crack.
No turno da tarde, aconteceu a discussão dos aspectos jurídicos em torno da busca pelo direito de pacientes e famílias ao tratamento com Cannabis, além de estratégias jurídicas para auxiliar as pessoas que precisem ter acesso a esta planta via ações judiciais e pelo desencarceramento daqueles pacientes acusados de cometer crime como tráfico. Os debatedores foram Ricardo Nemer (RJ), advogado membro da Rede jurídica por uma nova política de Drogas (REFORMA), Flávia Quevedo (DF), advogada que atuou em um salvo-conduto que autorizou paciente de 15 anos a cultivar cannabis, Jordana Sales (CE), advogada que impetrou habeas corpus que autorizou o primeiro adulto do Brasil a plantar maconha em casa e Marcelo Uchôa, advogado e ex-secretário de política de Drogas do Ceará.
No último turno, o debate abordou a luta de famílias e pacientes que têm se articulado pelo Brasil, a exemplo de outros países, que lutam para conseguir o direito ao tratamento e cultivo de Cannabis. Rodrigo Bardon (CE), da Sativoteca e primeiro adulto do Brasil a conseguir salvo-conduto para plantio de maconha em casa, Fábio Carvalho (SP), pai de Clárian, criança que teve autorização para cultivar cannabis em casa, membro do CULTIVE. Representando a Rede de Feministas Antiproibicionistas (RENFA) e Associação Canábica Piauiense (ACP), Nadja Carvalho discutiu a proibição da maconha e o reflexo negativo no encarceramento de mulheres e o papel fundamental desempenhado por elas na luta pela legalização. Júlio Américo, pai de Pedro, paciente usuário de cannabis e fundador da Liga Canábica da Paraíba retratou a avançada experiência da pauta da legalização da Cannabis em seu Estado, assim como defendeu uma política pública nacional sobre Cannabis que inclua os setores mais pauperizados do mercado da cannabis, como agricultores e pequenos vendedores.
O clima do Simpósio foi de muita emoção, a cada relato de mães, pais e pacientes sobre sua luta e a transformação que a Cannabis fez em suas vidas. Este evento, com certeza, representa um marco na luta antiproibicionista no Nordeste e tem tudo para ser o início de uma rede de solidariedade em torno do tema, assim como fortalece o movimento pela legalização, em especial a Marcha da Maconha, que vai ter uma ala medicinal cada vez maior.
O MAIS, movimento do qual faço parte, construiu este evento, pois entende que a luta pela legalização da cannabis é parte de uma luta maior por direitos à vida, à saúde, dignidade, e, principalmente, pelo fim do encarceramento e extermínio em massa do povo preto e pobre perpetrado pela guerra “às Drogas”.
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