Pular para o conteúdo
EDITORIAL

ELEIÇÕES GERAIS NO CHILE

 

Por Joana Benario, São Paulo/SP

No último domingo 19 de novembros, no Chile, realizaram-se eleições gerais para os cargos de Presidente, parlamentares (155 deputados e 23 senadores de um total de 50) e conselhos regionais, cujos cargos serão para o período de 2018 a 2022.

No nível presidencial, o candidato de direita da coalizão “Chile Vamos”, Sebastián Piñera, que já foi Presidente de 2010 entre 2014, ganhou a primeira rodada por 36,65%, seguido de Alejandro Guillier (22,69%) da coalizão “Força da maioria” (candidato centro-esquerda com PS, PC, PD, PRS, continuidade da atual Presidenta M. Bachelet) em terceiro lugar, Beatriz Sánchez (20,27%) da “Frente Ampla”.

O favorito, Sebastián Piñera é a terceira pessoa mais rica do Chile, de acordo com a revista Forbes; e seu oponente direto, Alejandro Guillier, de 64 anos, é um sociólogo e periodista, além de ex-apresentador de TV famoso, recém-chegado à política, como senador independente por Antofagasta. Beatriz Sanchez é uma mulher de 47 anos, conhecida jornalista política de rádio e televisão.  Os dois primeiros candidatos, Piñera e Guillier, participarão do segundo turno em 17 de dezembro próximo.

O novo parlamento chileno será composto por 3 blocos: o “Chile Vamos” que ganhou 73 deputados (46%), a Nova Maioria 43 (27%) com o apoio dos Democratas-cristãos (13 deputados, 10%) e a Frente Ampla que ganhou 20 deputados (13%).  Outras forças menores totalizam 6 deputados.

Grande abstenção e novas regras

De um total de 14.347.000 registrados, apenas 6,5 milhões foram votar, o que representa menos da metade do cadastro eleitoral (45%). O Chile é um dos países do continente com a maior abstenção.  A votação é voluntária desde 2006. Em 2013, a abstenção atingiu 59% dos registrados; nas eleições municipais de 2016, 65 %; agora 55% da abstenção.

Houve algumas mudanças importantes nas regras eleitorais, com o fim do sistema binominal -existente desde o fim da ditadura de Pinochet em 1989, favorecia mais listas do que candidatos-  para um sistema proporcional que prevê maior representação de minorias e empurra a estabelecer coalizões. Por outro lado, aplicaram a lei de cotas, que obriga, pela primeira vez, os partidos políticos a aplicar um critério de paridade de gênero nas candidaturas ao parlamento. Consequentemente, nessas eleições, 33% dos candidatos são mulheres. Também, pela primeira vez, os cidadãos chilenos que vivem fora do país foram habilitados a votar (cerca de 40.000 pessoas).

 

Votação importante da Frente Ampla

 

No meio à onda reacionária que atravessa a América Latina, o país mais neoliberal do continente teve resultados surpreendentes nesse primeiro turno.  As duas principais fórmulas (bipartidarismo tradicional) perderam espaço pelos bons resultados da Frente Ampla, uma coalizão de esquerda que ganhou mais de 20% dos votos para presidente, quando todas as pesquisas previam 10%.  Foi de 3 para 20 deputados, tornando-se uma força importante para definir o segundo turno em dezembro.

Ela surgiu no ano passado, apoiada pela liderança de fortes lutas estudantis, composta por 6 grupos: Revolução Democrática, Partido Humanista, Partido Igualdade, Partido Ecologista Verde, Poder Cidadão e Partido Liberal. Ele conseguiu ganhar 11% do Senado e 13% dos deputados.

Após a eleição, a candidata Beatriz Sanchez mencionou vários temas que precisam ser debatidos no segundo turno, como: Assembleia Constituinte, o fim da privatização da água e das AFP (o sistema privado de pensões), etc.  A posição frente a esses  temas definirá o apoio da Frente Ampla ao candidato Alexandro Guillier. Até o momento não existe consenso no interior da frente ao respeito disso.

Outras surpresas

Outra novidade foi a perda de votos pelas correntes políticas centristas, como a Democracia Cristã (PDC), força histórica da vida política chilena desde 1960, que ficou com apenas 5,8% dos votos, com a sua candidata, a senadora Carolina Goic. Do mesmo modo, o candidato Marco Enríquez Ominami, do Partido Progressista (ex PS, que, em 2009, estava na terceira posição com 20%) obteve 5% e já anunciou seu apoio a Guillier, no segundo turno.  O “centro” que era tradicionalmente o lugar hegemônico da política chilena, foi se enfraquecendo, enquanto novas opções que parecem mais radicais, foram crescendo.

Ao lado disso, a extrema direita obteve um preocupante 7,8% com seu candidato identificado com Pinochet, Jose Antonio Kast Rist.

Por fim, pode-se destacar o bom voto para a esquerda anticapitalista, com um claro perfil antiempresarial, em favor da classe trabalhadora e dos setores mais precários, representada por candidatos do PTR (Partido dos Trabalhadores Revolucionários) que conseguiram recolher cerca de 15.000 votos, de acordo com o site ¨La Izquierda Diario, aparecendo em dois distritos (Distrito 3 de Antofagasta e o Distrito 10 de Santiago), com candidaturas independentes.

Nova abertura política?

O desenvolvimento atual da Frente Ampla é sinal da polarização social que vem crescendo desde 2011, com processos de mobilização em torno das demandas populares e estudantis contra a privatização sistemática da educação e saúde, da previdência social com fundos de pensão, etc. As pessoas estão cansadas do modelo da ¨concertação¨ e do bipartidarismo alternando-se no poder, dos escândalos de corrupção. Isso explica o crescimento do espaço eleitoral da Frente Ampla, aparecendo como nova opção neo-reformista, sobre a Nova Maioria.

Agora, a frente de esquerda discutirá seu posicionamento no segundo turno das eleições. A Frente Ampla será capaz de ser uma alternativa coerente às demais variantes burguesas? Ou, desde outro ponto de vista, irá se colocar à frente das reivindicações e lutas da classe trabalhadora e da juventude? Estes são alguns dos desafios da Frente Ampla para se colocar para se consolidar enquanto uma alternativa à esquerda tradicional representada pelos diversos governos de coalizão com a burguesia desde o final da ditadura e, em especial ao PC.