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OPRESSÕES

15º Troféu Raça Negra homenageia reitores e pretendia premiar João Doria

Por: Carolina Dandara, de São Paulo, SP

O dia 20 de novembro, dia da consciência negra, data conquistada pela luta e articulação do movimento negro e que celebra Zumbi dos Palmares, foi também dia do 15° Troféu Raça Negra. A iniciativa da premiação surgiu como uma forma de celebração de personalidades negras que não recebem reconhecimento em suas áreas, como atores, cantores, entre outras. E na edição deste ano, que aconteceu nesta segunda (20), foram premiados os reitores Marco Antônio Zago e Marcelo Knobel pela implementação das cotas étnico-raciais na USP e na Unicamp. Acontece que a conquista das cotas étnico-raciais nestas universidades foi, na verdade, fruto da mobilização e articulação dos movimentos negro e estudantil, que contaram com amplo apoio de suas comunidades universitárias, reformularam o projeto de cotas e pressionaram para que essa discussão fosse feita nos Conselhos.

Os verdadeiros responsáveis pela implementação das cotas são as iniciativas como a Frente Pró-Cotas da Unicamp, Núcleo de Consciência Negra USP, coletivos de estudantes como o ‘Por Que a USP não tem cotas?’, professores e trabalhadores que há anos lutaram bravamente para que essas universidades sejam lugar da população negra e pobre.

Para piorar a situação do evento, haveria, caso tivesse comparecido, a também entrega do Troféu ao prefeito de São Paulo João Doria, pela desastrosa ação na Cracolândia no início deste ano. O mesmo prefeito inimigo da população de rua, do escândalo da ração humana, que corta da merenda e que em todos esses casos afeta diretamente a vida da população negra mais marginalizada.

Mais uma evidência de que a premiação não leva em conta uma série de fatores imprescindíveis para a população negra de conjunto, que está nas periferias ou que esteve historicamente na linha de frente da luta contra o racismo e por reparação. Assim, no dia que se celebra a luta de Zumbi, um herói do povo negro, condecorar os atuais algozes dos negros e negras é um erro grave. Isso só contribui para um apagamento da importância do ativismo e da luta protagonizada desde sempre pelo povo negro. É um ato inconsequente com a causa.

Foto: Divulgação