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EDITORIAL

Eleições estaduais nos EUA: vitória dos democratas e avanço da esquerda socialista

 

Por Márcio Musse, Londres, Inglaterra

No período em que a eleição de Trump para presidente dos EUA completa um ano, o país norte-americano viveu no dia 7 de novembro eleições locais e estaduais que podem adicionar mais preocupações para o já questionado governo do magnata republicano.

Embora menos importante que as Eleições Legislativas que ocorrerão em 2018, que podem alterar a composição de forças nas Câmaras Federais, as eleições de 2017 são um termômetro de como anda o apoio ao governo na população estadunidense e, mesmo que de forma limitada e distorcida, refletir a reorganização da esquerda socialista naquele país.

A relevância do resultado se deu menos pelas alterações nos cargos eleitos e mais pela sinalização do que pode ser a tendência para as Eleições do ano que vem. O governo Trump sofreu importantes derrotas, capitalizadas principalmente pelo Partido Democrata. Nos estados da Virgínia e Nova Jérsei, onde era esperado que os republicanos se mantivessem, estes foram amplamente superados pelos Democratas em disputas bastante nacionalizadas, e abordando temas como imigração, direitos civis, sistema de saúde etc.

Outro aspecto que chamou atenção foi a alto índice de comparecimento às urnas, o que para muitos analistas significa a “mobilização” de setores que não costumavam votar para mandar uma mensagem de desaprovação a Trump. Na Virgínia, por exemplo, a candidata democrata Danica Roem – transexual e defensora dos direitos LGBTQ – derrotou em seu distrito o parlamentar republicano Bob Marshall, o “maior homofóbico” do estado que estava na cadeira há 25 anos e fazia campanha declarando-se como defensor de Trump.

Campanhas vitoriosas também na esquerda socialista

Não foram apenas os Democratas que saíram fortalecidos do processo eleitoral capitalizando o desgaste do governo Trump. Pelo menos duas importantes organizações de esquerda intervieram no processo e seus resultados foram bastante positivos.

O DSA – Democratic Socialists of America – quase dobrou seu número de parlamentares locais ou estaduais. Houve também inúmeros casos de campanhas notadamente vitoriosas, cujos candidatos que não vieram a se eleger. Um deles é do nova-yorkino Jabari Brisport, que obteve 30% da votação em um distrito onde a estrutura do Partido Democrata tem hegemonia histórica e quase impediu a reeleição de um importante aliado dos Clinton.

O Socialist Alternative, seção da CIT nos EUA, por sua vez, fez uma campanha de impacto nacional com Ginger Jentzen em Minneapolis, que se apoiou em uma coalizão entre organizações de esquerda, sindicatos e movimentos sociais da região.

Unir a esquerda e derrotar Trump e o imperialismo nas ruas desde já

Por mais que a grande imprensa tenha observado os resultados eleitorais dos últimos dias sob o foco das Eleições de 2018, as organizações de esquerda não devem ficar submetidas a este calendário. O desgaste de Trump ainda é capitalizado majoritariamente pelas estruturas tradicionais, principalmente o Partido Democrata – mas cresce o espaço à esquerda para políticas anti-capitalistas e de ruptura com a austeridade, o racismo e a xenofobia. O espaço político que deu origem ao fenômeno Bernie Sanders não se fechou com a vitória de Clinton e do aparato Democrata, pelo contrário, ele cresceu.

O Partido Democrata já demonstrou inúmeras vezes que não está a serviço dos trabalhadores de nenhuma parte do mundo, inclusive dos próprios EUA. É preciso construir uma frente de esquerda e socialista que seja capaz de ser um polo alternativo ao Partido Democrata. Uma frente constituída pelas organizações da esquerda socialista, sindicatos, movimentos sociais, que tenha como objetivo atuar conjuntamente tanto nos processos eleitorais, quanto nas lutas sociais do dia-a-dia. O avanço do DAS, Socialist Alternative nas eleições mostra que construir este polo alternativo real é possível. Como dizia o próprio Bernie Sanders em sua campanha: “A Political Revolution is Coming” – A Revolução Política está chegando.