Por Artemis Martins, de Fortaleza, CE
O mês de novembro inicia com a lembrança de que, há um ano, Fortaleza e o Brasil vivenciavam o crescente movimento de ocupações das escolas e de universidades, como o exemplo da Universidade Federal do Ceará. Era, assim como este, o final de semana da realização do Enem que, combinado ao golpe parlamentar e à forte propaganda de criminalização feita pela mídia, tensionava a população em torno da legitimidade da ação. Mas afinal, por que os estudantes ocuparam?
Para entendermos as ocupações que ocorreram não apenas em Fortaleza, mas também em diversas cidades do Brasil, é preciso pensar um pouco na história do Movimento Estudantil. Em todo o mundo, e não diferentemente no Brasil, a juventude tem sido vanguarda em manifestações e em lutas por direitos, contra a repressão e as opressões. Aqui no Brasil, o movimento organizado dos estudantes se confunde com a própria luta contra o golpe e ditadura militar, com a expansão e a democratização do acesso à educação básica e superior, além das duras, ainda insuficientes, mas importantes conquistas no reconhecimento de crimes de racismo, feminicídio e homofobia. A juventude brasileira, aguerrida e afrontosa que é, reinventa, em seus tempos, métodos de renovação das forças e de lutas que, por vezes, nos ensinam e nos apontam o caminho a seguir.
A onda de ocupações foi um método legítimo, espontâneo e dirigido pela juventude – organizados, independentes, iniciantes ou já experimentados no Movimento Estudantil. Através delas, emergiram à tona discussões tão fundamentais e determinantes para a manutenção da vida e do futuro dos trabalhadores brasileiros, como as que trataram da PEC 241/55 (que congelou os investimentos em políticas sociais por 20 anos), a MP 746 (reforma do ensino médio), a Portaria nº 20/2016 do MEC (que instituiu o plano de redução de vagas das universidades federais), entre outras – como a reforma trabalhista e previdenciária. Mas fez muito mais do que chamar a atenção e debater. A ocupação de Brasília, com caravanas oriundas de diversos estados, articulou a ação dos estudantes aos diversos setores de trabalhadores do país, desde professores àqueles que atuam na construção civil, nas fábricas, nos serviços ou mesmo os desempregados. Resquícios e eco disso, conseguiu-se também observar em todo o processo de construção e concretização da greve geral de 28 de abril. Em um contexto defensivo, de arrefecimento e criminalização dos movimentos sociais, bem como da descrença gerada pela política do governo do PT (conciliatória, descomprometida com o povo e em prol das elites), unificar a luta dos trabalhadores não se tornou apenas uma valiosa e necessária tarefa, mas imprescindível para derrotar o golpe e construir uma alternativa, verdadeiramente, do povo e para o povo do Brasil.
Um ano se passou, os ataques aos nossos direitos continuam, novas mobilizações surgem e uma certeza permanece: somente o conjunto organizado de nossas próprias forças é capaz de alterar e mover a nossa condição. Talvez seja essa a principal lição que as ocupações Brasil a fora puderam nos dar. A via institucional, o parlamento, não será o lugar da mudança. As transformações sociais necessárias, a retomada dos direitos e das conquistas históricas, tão duramente alcançadas, não podem ser “terceirizadas” e, portanto, não acontecerão por outra via que não seja a da unidade de ação, combinada e organizada, que tenha como finalidade histórica a mudança estrutural de nossa sociedade. A energia, a criatividade, a disposição da juventude nos mostrou, no novembro passado, que a revolução brasileira é uma enorme, exaustiva, nada fácil tarefa. Mas, ainda assim, ela é possível.
Parafraseando Belchior, que as lágrimas dos jovens do Brasil, fortes como um segredo, continuem fazendo renascer um mal antigo.
Foto: Éder Barbosa/DCE
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