Por: Camila Lisboa, de São Paulo, SP
Após a poderosa greve geral do dia 28 de abril e da vitoriosa manifestação em Brasília, em maio deste ano, o movimento social brasileiro tinha a grande tarefa de realizar um novo dia unificado de greve. As traições e vacilos das principais centrais brasileiras culminaram com a realização de um dia de luta, no dia 30 de junho, muito menor do que nossa classe tinha capacidade de fazer e também muito pequeno em relação ao desafio de derrotar o governo Temer e seu plano de ataques sobre os trabalhadores.
Com a aprovação da Reforma Trabalhista e da lei de terceirizações, o segundo semestre deste ano viu uma inflexão das lutas e o processo de resistência diminuiu em relação ao primeiro semestre.
Brasil Metalúrgico aponta o caminho
Algumas lutas importantes desenvolveram-se, como a greve dos trabalhadores dos Correios, a greve dos trabalhadores da Chery, em São José dos Campos (SP) e da Mitsubishi, em Catalão (GO), além da heroica resistência dos sem teto em São Bernardo Campo, com a poderosa ocupação Povo Sem Medo, em frente à Scania. Soma-se a esta dinâmica, as greves da educação, no Pará e no Rio Grande do Sul, estado este que vive mobilizações de todo o funcionalismo estadual.
Neste marco, as centrais sindicais tiveram uma importante iniciativa de retomar a unidade do primeiro semestre. O Brasil Metalúrgico, ainda que caracterizado pela unidade dos sindicatos de apenas uma categoria, representa a retomada de um dos elementos que permitiu destravar a mobilização no primeiro semestre, a unidade das centrais, para promover a unidade das ações da nossa classe.
Ações como o dia 14 de setembro, um dia de luta unificado, partindo das mobilizações metalúrgicas e dos enfrentamentos com as tentativas patronais de aplicar em cada fábrica as medidas da Reforma Trabalhista, são o caminho para a retomada da resistência. A força da união das categorias organizadas, junto aos seus sindicatos e centrais, combinadas com as lutas dos movimentos sociais, como a luta por moradia, transforma a ação da nossa classe na única força social capaz de reverter a lógica como Temer e o Congresso Nacional dizem querer salvar o país da crise.
Unificar e ampliar a resistência
É por isso que a construção conjunta de mais um grande dia de luta é estratégica. O Brasil Metalúrgico definiu o dia 10 de novembro como um dia de lutas, mobilizações e greves, pois no dia 13 passam a vigorar as novas leis trabalhistas aprovadas, através do PL 6787/16, em 30 de junho. As tarefas deste dia de mobilização são unificar e ampliar a resistência, para colocar novamente o governo na defensiva, fazê-lo recuar, como conseguimos parcialmente com a Reforma da Previdência.
Após comprar todo o Congresso Nacional, Temer conseguiu paralisar o andamento da segunda denúncia de corrupção contra ele e já busca retomar os debates sobre a Reforma da Previdência.
Algumas categorias estão construindo seus calendários de mobilização e suas pautas apoiando-se no dia 10. É assim no funcionalismo público federal, que enfrenta ameaças graves, com medidas provisórias que atacam os direitos dessa categoria e promovem o fim da estabilidade. É assim na luta da educação básica que, em cada estado, enfrenta versões estaduais da Reforma Trabalhista e da Reforma da Previdência. Os petroleiros também estão em campanha salarial. Todas essas lutas enfrentam a vontade de governos e patronais de aplicar a Reforma Trabalhista.
Para morar: ocupar e resistir
Ainda que o governo apresente números de melhorias na economia, a verdade é que a crise social brasileira só aumenta. Nesta semana, foi divulgado que, em 2016, o Brasil bateu recordes em homicídios, com índices equivalentes a índices de guerra civil. E os mortos dessa guerra são os setores mais explorados e empobrecidos do proletariado brasileiro. Este é o setor que compõe os movimentos por moradia que ocupam áreas urbanas pelo país. Este setor organizado tem demonstrado uma incrível capacidade de resistência, como se demonstra com a Ocupação Povo Sem Medo, em São Bernardo do Campo. O ódio dos governos, da elite e de parte das classes médias sobre a ocupação se expressa de forma também impressionante e revela a intensa polarização das demandas de cada classe de nosso país.
Retomar a frente única para uma nova onda de lutas
A classe trabalhadora brasileira é um gigante social. É uma força social que pode fazer grandes transformações em nosso país. A unidade de todas as suas formas de luta pode derrotar o ajuste fiscal, as reformas, o governo Temer e seu Congresso vendido e corrupto. É muito importante que, no dia 10 de novembro, todas ações de luta de nossa classe se unifiquem. O encerramento do dia 10 com atos unificados em, pelo menos, todas as capitais do país, pode ampliar a resistência e promover um fim de ano de esperança. Esperança de que a mobilização da nossa classe vai se fazer presente com mais força do que acumulamos até aqui.
Foto: Rovena Rosa, Agência Brasil
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