Por Bruno Rodrigues, militante da NOS e estudante da UFC , Com colaboração de Natália Lídia e Elias Atahara
Em meio a uma forte onda de ataques aos direitos sociais, ao conjunto dos serviços públicos e, em específico, às universidades públicas, tem início o processo eleitoral para o DCE da Universidade Federal do Ceará, umas das principais instituições de ensino superior do país. A chapa ‘Chapa 20 – Para outra flor brotar’, que reúne jovens militantes de correntes nacionais da esquerda socialista (NOS, RUA, Afronte, UJC e Juntos!) ao lado valorosos lutadores estudantis independentes, se formou como expressão da última greve universitária nacional contra a “PEC do fim do mundo”, marcada por uma onda de assembleias massivas e ocupações de cursos e departamentos, bem como do ciclo de mobilizações do primeiro semestre de 2017.
Com presença em cursos onde as marcas da precarização do ensino superior são mais notáveis, o programa da chapa 20 busca trazer à tona o debate sobre a selvagem política de cortes e contingenciamento dos recursos do ensino superior por parte dos últimos governos, que na UFC produziu efeitos como a elevação dos preços no RU, cortes progressivos no quadro de servidores terceirizados, falta de ônibus e diárias para aulas de campo, sucessiva redução da oferta e congelamento dos valores das distintas modalidades de bolsas desde há 5 anos, redução na oferta do serviço de intercampi, tentativa de imposição de medidas de cobrança na utilização dos auditórios, ataques ao programa de residência universitária, etc.
Combatendo toda e qualquer tentativa de abrir a universidade à sanha da iniciativa privada, vendida como pretensa solução pelo governo golpista de turno, a chapa 20 também tem se pautado pela defesa da democracia universitária para escolha de reitor e transparência nas contas da UFC ao mesmo tempo que defende a luta intransigente contras as opressões, pelo direito a acessibilidade, pela preservação ambiental das áreas ecológicas da UFC e pelo direito a assistência e permanência dos estudantes.
Para Natália Lídia, militante do Afronte e estudante de Geografia que constrói a chapa 20, “A educação está cada dia mais ameaçada. Ano passado fizemos uma linda ocupação na UFC mostrando que somos totalmente contra esse governo golpista e suas contrarreformas. A Universidade está numa situação cada vez mais delicada. Não dispomos das condições mínimas para exercer com qualidade o tripé básico da universidade (ensino, pesquisa e extensão). Diante desse cenário acreditamos que a única forma de resistir a todos esses retrocessos é lutar em defesa da educação pública. Para isso precisamos de um DCE que enfrente a crise na universidade! A nossa chapa vem pra dizer que não aceitamos a política que está colocada, mas também não queremos outro governo de acordões e conciliações com aqueles que são os inimigos da educação. Defendemos um DCE com independência política e financeira, que seja uma entidade à frente das lutas em defesa da nossa universidade e da educação pública.”
Também concorrem às eleições para o DCE uma chapa capitaneada pelos coletivos UJS, Levante Popular da Juventude, Kizomba e Núcleo Popular, e outra capitaneada pela Juventude do PDT, grupos que estiverem juntos à frente da entidade no último período mas que agora se apresentam como campos distintos entre si. Nas palavras do companheiro Elias Atahara, estudante de Filosofia e membro da chapa 20: “A última gestão do DCE foi marcada pela propaganda de seus “grandes eventos” promovidos para o movimento estudantil. Sem dúvida que espaços de auto-organização, como encontros de negros e negras, encontros LGBTs, festas na concha acústica e o congresso de estudantes da UFC são importantes para animar e fortalecer os laços entre os estudantes, mas isto só não basta. É necessário que as verdadeiras lutas, diante de tantas ameaças e incertezas, sejam enfrentadas. É necessário promover as comunidades e a sociedade do entorno dos campi e de toda parte do estado, enraizar em todo o ano um calendário de espaços em que os estudantes realmente sejam DCE, construindo juntos, e não apenas em finais de semana sazonais. Um DCE que não se preocupe com os fóruns dos centros, com as atividades dos CAs, PIBIDs, PETs, em ser presença na vida dos estudantes, como poderá ser força nos necessários dias de luta?”
Já os setores de direita, diferente das eleições passadas, não chegaram a lançar chapa na medida em que nos últimos Conselhos de Entidades de Base, têm vociferado abertamente sua raiva contra as entidades do movimento estudantil e advogado pela sua sumária extinção e, muito possivelmente, ao longo da campanha cumprirão o repudiável papel de tropa de choque a serviço do boicote às eleições e da desmobilização do movimento. Não tinha como ser diferente, afinal tais setores se alinham de forma muito desinibida com o programa privatista do atual governo, de modo que fizeram campanha aberta em favor da iniciativa privada nas universidades públicas, quando das eleições para o CONUNE, no primeiro semestre desse ano, por exemplo.
A construção da chapa 20 tem um significado muito importante, em particular nesse momento, pois ela representa o caminho a ser seguido para defender a universidade pública, mas também para combater a direita reacionária e superar as eternas vacilações do bloco “lulopetista”: o caminho da unidade e da luta.
Confira abaixo o manifesto da Chapa 20 – PARA OUTRA FLOR BROTAR:
“Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.”
(Carlos Drummond de Andrade)
As eleições para o Diretório Central dos Estudantes da UFC ocorrerão em um período muito grave no para as universidades e o conjunto dos serviços públicos. A crise econômica mundial, que antes diziam que era só uma “marolinha”, tornou-se um tsunami e vem afetando a vida dos trabalhadores e da juventude com diversos cortes na saúde, educação, previdência e piorando as condições de vida da população.
Temer, Meireles, Mendonça Filho e toda a quadrilha de golpistas que se instalou no país são a personificação de um governo ilegítimo, que não representa as necessidades do povo brasileiro e que, ao lado dos banqueiros e grandes empresários, vem promovendo uma campanha de destruição dos direitos sociais sem precedentes (Reforma do ensino médio, Reforma Trabalhista PEC 55, Reforma da previdência, etc).
Só nas universidades o orçamento do ensino superior está tão comprometido que a ameaça de esgotamento de seus recursos em poucos meses já é uma realidade que mesmo os próprios reitores já admitem abertamente. Na UFC, o resultado da onda de ataques tem se expressado no aumento do valor dos preços no RU, em cortes no quadro de servidores terceirizados, na falta de diárias e ônibus para aulas de campo, nos cortes e no congelamento em nossos programas de bolsas, redução na oferta do serviço de intercampi, na tentativa de imposição de medidas de cobrança na utilização dos auditórios, na ameaça de fechamento da residência universitária Castelo, etc.
No congresso nacional, setores do atual governo já falam em cobrança de taxas nas universidades como pretensa solução emergencial para as universidades, ao mesmo tempo que tal situação vem atiçando como nunca o interesse dos setores da iniciativa privada que buscam tirar vantagem dessa situação.
Em meio a esse contexto, nós da Chapa 20 – Para outra flor brotar, nos apresentamos nestas eleições para o Diretório Central do Estudantes porque queremos uma entidade à altura do desafio de defender nossa universidade diante de tais ataques, que defenda o direito a assistência estudantil, a democracia na UFC e a transparência em suas contas. Queremos uma entidade que de fato, e não só na retórica, se preocupe com a luta contra as opressões, com a questão ambiental na UFC e com a acessibilidade nos campi. Queremos um DCE de luta, democrático, pela base e atuante.
Se você também quer uma universidade de fato pública, democrática e com direito a assistência estudantil, vem com a chapa 20, para outra flor brotar.
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