Por: Beatriz Corleone, de Camaçari, BA
A Tecsis, empresa fabricante de pás eólicas, teve seu pedido de renegociação extrajudicial deferido neste 2 de outubro. A medida é um dos passos possíveis a serem dados por uma empresa em crise financeira antes de solicitar falência. A renegociação dos quase R$1 bilhão em dívidas com diversos credores proporcionou reduções, abatimentos e prazos vantajosos para a Tecsis, mas nem de longe representa uma estabilização da crise.
A Tecsis já foi uma das maiores fabricantes de pás eólicas do Brasil e líder na produção de pás customizadas. A empresa possuía várias plantas na região de Sorocaba, em São Paulo e iniciou, em 2015, um projeto de expansão com a construção de uma nova planta em Camaçari, na Bahia. Para a construção desta nova planta baiana, a Tecsis contou com vários incentivos governamentais. Levou do BNDES, que virou seu maior acionista, US$ 460 milhões, o equivalente a mais de R$1,3 bilhão. Os discursos feitos durante as contratações apontavam que o plano era construir um grande complexo industrial na cidade, com milhares de vagas de empregos.
Porém, passados dois anos, a empresa encontra-se em grave crise, tendo fechado todas as suas plantas em Sorocaba e região, e com forte ameaça de fechamento da última unidade em Camaçari. A empresa, que empregava quase oito mil funcionários, possui hoje 1200, contando os remanescentes de Sorocaba. Atualmente, suas atividades estão paralisadas por falta de material e os salários dos funcionários sofrendo sucessivos atrasos de pagamento. A renegociação extrajudicial só garante melhores condições para a empresa e seus credores, não garante nada sobre pagamentos e direitos dos funcionários.
Além das disputas e brigas entre os acionistas que causam má gestão divulgadas pela grande imprensa, é preciso enxergar que a situação da Tecsis é parte de um quadro de crise econômica que afeta todo o país. Havia um cenário anterior de crescimento na demanda por pás eólicas que atualmente não existe mais, provocando uma série de rupturas de contratos. E, além do quadro geral da economia, há um fator importante: o crescimento no ramo eólico se dava por incentivos do governo federal, que em 2016 e 2017 não realizou nenhuma licitação para construção de novos parques eólicos.
Para a cidade de Camaçari, a possível perda de todos esses postos de trabalho representaria um grave impacto, com um agravamento ainda maior do quadro de desemprego na região e retração da economia local. A defesa desses postos de trabalho é uma luta de todos em Camaçari.
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