Por: Yuri Madeira, de Niterói, RJ
Concluiu-se a segunda semana da sétima edição do Rock in Rio, a esperada “semana rock”. Como sempre acontece em todos os anos do festival, a mesma questão é sempre levantada quanto a um dia já ter sido rock e tal característica ter ficado apenas no nome, pois virou um festival de música popular em geral. Mas será que sempre foi assim? Se lembrarmos das primeiras edições, vemos que o espaço para artistas de música pop sempre esteve ali. Outra questão interessante de ser levantada é questionar o porquê do festival trabalhar sempre com os mesmos artistas, sabendo que há vários de peso que poderiam ter espaço para divulgar o trabalho e consequentemente renovar um pouco o cenário. Isso seria apenas preguiça da produção ou o público também tem problemas em aceitar o novo?
Em sua primeira edição, o festival realmente era mais rock, mas também é válido questionar o que necessariamente seria considerado rock, já que o gênero é difundido em vários subgêneros, muitos deles pop e assim causa uma certa confusão. Podemos levar em consideração o bom momento do gênero no período de 1985 no cenário internacional, sendo mais válido, porém arriscado, investir em um festival majoritariamente rock tendo bandas como Queen, Yes, AC/DC com seu sucesso mais consolidado e bandas como o Iron Maiden e Whitesnake vivendo um período forte internacionalmente com seus últimos lançamentos que posteriormente passariam a ser chamados clássicos. O rock mundialmente falando era uma marca forte no período e Roberto Medina teve essa percepção. O risco que o produtor corria era se um festival de tamanha proporção daria de fato certo aqui, pois o rock ainda não tinha a mesma força no Brasil que viria a ter após o festival.
A edição, como as outras, foi aberta a artistas de música pop e tivemos participações de músicos como Al Jarreau e George Benson, que transitavam entre o pop, jazz e soul, vários artistas nacionais que até dialogaram mas nunca foram representantes do rock, como Alceu Valença, Elba Ramalho, Gilberto Gil. Não foi um festival exclusivamente rock, porém o conceito acaba sendo duvidoso quando há uma vasta discussão em relação a artistas que por alguns é considerado rock e por outros pop, mas não que tais termos não possam ser englobados num mesmo trabalho. A discussão gira em torno do que é rock e o que apenas tem elementos do gênero. Inclusive alguns artistas que já passaram pelas edições do festival nunca dialogaram com o rock de fato, sendo assim, o festival nunca foi mesmo um festival de rock.
A primeira edição também foi muito interessante para as bandas nacionais que ali se apresentaram e nunca tinham trabalhado em algo tão grande. Foi importante para a divulgação. Em compensação, pagava-se muito pouco para as bandas nacionais em relação às internacionais e o tratamento também foi diferenciado, o que infelizmente se repetiu em outras edições do festival.
O festival foi importante não apenas para a difusão do rock em terras brasileiras, já que a chegada de discos das bandas internacionais era bastante lenta do período em que um álbum era lançado até o momento que chegavam às lojas no Brasil. As revistas de rock estavam iniciando a sua caminhada, ainda como fanzines (revistas não oficiais escritas por fãs). Na aba do festival, o rock ficou mais evidente e foi positivo para as bandas brasileiras que buscavam seu lugar, além de incluir o Brasil no circuito das turnês de grandes bandas internacionais.
A partir da segunda edição do festival, em 1991, já podemos ver uma drástica queda de bandas de Rock no line up do festival. Era um período em que o rock já se fazia forte, principalmente com ascensão do Grunge, mas naquela edição já tiveram dias que não havia nenhuma banda de rock como o fechado por George Michael e destaques para várias bandas de outros gêneros, fechando noites como com a boy band New Kids On The Block.
O festival foi ficando cada vez menos rock, ao mesmo tempo em que a popularidade do gênero foi diminuindo com o passar das décadas, mas não deixou de ter sua relevância quanto à difusão do rock ainda hoje. Além do mais, abriu espaço para festivais que vieram posteriormente na década de 90, como Holywood Rock e Monsters Of Rock, em São Paulo. Este existe até hoje.
Muito se critica o fato de na corrente edição não haver um dia de Metal, mas na edição de 2015 tiveram três, tendo alguns destes sido um pouco menos procurados como os de alguns artistas pop. O dia fechado pela banda Slipknot, por exemplo, que tinha no line up outras bandas como Nightwish, Mastodon e Faith no More, que são de popularidade no Brasil, levou 14 dias para esgotar. Nos vídeos dos shows do dia, fica nítido como foi mais vazio que os outros dias nos palcos, até a entrada da banda principal.
Os organizadores sempre ficam presos às mesmas bandas e inclusive é este o motivo que alegam por não terem feito um dia de Metal nesta edição, por uma indisponibilidade na agenda de bandas que poderiam fechar alguns dias do festival. Até onde a não inclusão de novos e diferentes artistas no line up é falta de interesse da organização? Em se tratando de um festival de tamanha proporção, com tantas atividades oferecidas, o elevado gasto deve ter retorno. Então levando em consideração o não muito bom momento do rock no cenário musical, é válido pensar que isso necessita de retorno, lei da oferta e procura.
Tivemos experiências com bandas brasileiras como Kiara Rocks, Gloria e também com os suecos do Ghost, que é uma banda aclamada em festivais mundo afora e super elogiada por músicos de peso. Independente da avaliação dos shows terem sido bons ou não, a reação intolerante do público faz com que a produção fique cada vez mais presa às atrações que “sempre dão certo”.
Faço aqui uma discordância à matéria postada neste mesmo site com o título “Para Onde Vai o Rock?” publicado no “Dia Internacional do Rock”. É válido lembrar que é um dia que só existe apenas no Brasil como uma estratégia de marketing promovida pelas rádios do gênero, no que diz respeito a hoje não vermos mais bandas de garagem e os mais jovens interessados em grandes feitos com este trabalho. Hoje vemos um movimento underground do rock grande e organizado Brasil afora, mas o mercado tem ficado cada vez mais fechado para as novas bandas, diferente do que foi em décadas passadas com a ascensão de muita novidade em alguns anos chaves. A velocidade da informação nos atuais dias também vira um empecilho para artistas novos divulgarem seus trabalhos. Na mesma medida que ajuda com a facilidade de difundir através de sites como YouTube ou redes sociais, atrapalha com relação a sermos menos pacientes para conhecer novos trabalhos, inclusive de artistas consagrados. A ideia dos produtores é de cada vez menos investir em álbuns completos para divulgação de seu trabalho, apostando em EPs e soltando músicas avulsas na internet. Os tempos são outros e é interessante o artista e sua produção saberem lidar com o atual mercado.
O rock não é mais tão popular quanto foi nos anos 80 e início de 90. O festival foi importante para a consolidação do gênero no Brasil, mas hoje as bandas não têm o mesmo mercado internamente. Inclusive é bem menos popular mundialmente também, mas alguns artistas, inclusive brasileiros, de bandas como Angra e Sepultura direcionam os seus trabalhos mais para fora do que para dentro do país, pois ainda tem locais chaves que continuam sendo um mercado consideravelmente bom. Muito se reclama da organização do festival, mas também é interessante o público aceitar o diferente pois seria a única forma do festival nos oferecer maiores diversificações e dar mais espaço para artistas nacionais. O Rock in Rio nunca foi só Rock, mas continua sendo um bom espaço para quem gosta do gênero. Daqui a dez anos é provável que várias das bandas que agora fecham o festival não estejam mais na ativa, então é interessante conhecermos o que bandas mais novas têm a nos oferecer. Tem muita gente fazendo um trabalho muito sério e conquistando seu espaço.
*A texto reflete a opinião do autor e, não necessariamente, a linha editorial do Esquerda Online
Foto: Reprodução
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